Na história da teledramaturgia brasileira, muitos artistas mostraram o seu talento em novelas, séries e especiais. Alguns nomes ficaram gravados na memória do público por terem interpretado personagens icônicos em novelas que fazem parte do imaginário dos telespectadores.
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Uma atriz que se destacou desta forma foi Beatriz Segall, que, no entanto, morreu magoada com a Globo e deixou parte de sua herança para o motorista e alguns funcionários, como será mostrado mais abaixo.
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Sua estreia na televisão foi na trama infantil Pollyana, exibida pela Tupi em 1956. Ela fez outros trabalhos na emissora, mas na década de 1970 dedicou-se ao teatro e cinema e ficou longe das novelas. Retornou em 1977, quando atuou em Um Sol Maior, da Tupi.
No ano seguinte, já na Globo, foi um dos destaques de Dancin’ Days. Esteve também no elenco de Pai Herói (1979), Água Viva (1980), Ninho da Serpente (1982), Champagne (1983), entre outras produções.
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Maior vilã da história
Mas foi em 1988 que a artista atingiu o ápice de sua carreira, no papel da vilã Odete Roitman, em Vale Tudo.
Diretora de uma companhia aérea inescrupulosa e preconceituosa, a personagem fez sucesso por mostrar o lado podre da alta sociedade de forma nua e crua. Morta durante a trama, a frase “Quem matou Odete Roitman?” virou bordão popular e tema de uma promoção da Maggi que parou o Brasil.
O sucesso foi tão grande que Odete ficou marcada na carreira de Beatriz. Mas isso não a deixava feliz; pelo contrário, ela sempre tentava se desvencilhar da vilã. Em 2006, ao ser questionada por uma jornalista do Estadão se ter interpretado Odete foi positivo, ela foi enfática:
“É, é positivo, apesar de que eu me irrito muito pelo fato de as pessoas transformarem um ator em um papel só. Mas foi uma coisa muito importante que aconteceu na TV brasileira, então é claro que foi positivo. Você sabe que me chamam de dona Odete nas ruas? Mas não respondo, vou andando. Até em Cuba me chamaram de dona Odete! Me enche porque é sempre a mesma história, a mesma brincadeira, as mesmas piadas! Chega, né?”.
De fato, ela não foi uma atriz de um único papel – e recusou qualquer tipo de vilã após Vale Tudo. Beatriz esteve presente em Barriga de Aluguel (1990), De Corpo e Alma (1992), Sonho Meu (1993), Anjo Mau (1997), O Clone (2001), Bicho do Mato (2006), entre outras produções da TV brasileira.
Mas não tinha jeito: ela sempre era lembrada por sua atuação icônica e se irritava facilmente, pedindo em entrevistas para que isso não fosse citado.
Problemas de saúde
Nos últimos anos de vida, Beatriz Segall enfrentou diversos problemas de saúde comuns à idade avançada, como o mal de Alzheimer.
Em 2013, ela virou notícia ao sofrer uma queda em uma calçada da Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro, e ficar ferida. A atriz recebeu uma ligação do prefeito da cidade, Eduardo Paes, que pediu desculpas pela situação.
“É incrível como o Rio está abandonado. Moro há muito tempo em São Paulo, mas venho ao Rio sempre e cada vez a cidade está pior, mas abandonada e suja. Em última instância culpo a prefeitura que não cuida das ruas nem de suas calçadas, nem que seja obrigando os proprietários de imóveis a fazer a manutenção. Como é que os cariocas não reclamam?”, esbravejou ao G1.
Em 2015, quando comemorava seu aniversário de 89 anos, ela sofreu outra queda, desta vez no Teatro Porto Seguro, na capital paulista, e precisou passar por uma cirurgia no braço.
No mesmo ano, ela teve seu trabalho novamente valorizado pela Globo, que lhe proporcionou a oportunidade de estrelar um episódio da série Os Experientes. Ela viveu Yolanda, uma senhora que se tornava refém durante um assalto a banco.
“Eu quero que o público tenha curiosidade de ver o que fizemos. A série foi muito bem escrita, meu texto era ótimo, e contamos com uma equipe muito simpática e agradável”, disse ao Gshow sobre aquele que acabou sendo o seu último trabalho na TV.
Mágoa com a Globo e morte
Em entrevista ao jornalista Daniel Castro, do Notícias da TV, em 2015, a atriz contou que estava dando aulas de atuação para jovens atores e detonou a Globo.
“Nunca fui contratada. Sempre trabalhei por obra. Eles nunca me ofereceram e eu não procurei. A Globo nunca me deu importância”, disparou.
Já no programa Persona em Foco, da TV Cultura, a atriz se mostrou desanimada com o mercado para atrizes veteranas.
“Não está fácil não. Tenho trabalho, mas não muito. Na televisão e no cinema os mais velhos vão perdendo a vez. Quando tem uma boa atriz de idade é ela quem faz o mesmo papel sempre. Em geral, quanto mais velha, mais vai perdendo espaço”, enfatizou.
Na mesma época, a atriz também declarou que não assistia novelas há um bom tempo e ainda criticou o gênero.
“Nas novelas antigas os assuntos eram mais consistentes, mais importantes, realmente caiu isso [o nível]. Não vejo mais, desisti de ver, não tenho mais interesse. Vejo só notícias”, contou ao UOL.
Beatriz Segall morreu em 5 de setembro de 2018, aos 92 anos. Ela estava internada no hospital Albert Einstein desde 16 de agosto, por problemas respiratórios. O corpo da atriz foi velado no próprio hospital e cremado no dia seguinte em Itapecerica da Serra (SP).
Ela deixou para seu motorista, Adilson Ricardo Leite, um carro zero quilômetro e uma boa quantia em dinheiro. Ela também repassou parte de sua herança para alguns funcionários que sempre estiveram ao seu lado, além de amigos. Seus três filhos também integraram o testamento.