Diretores e produtores sempre buscam um rosto bonito para estar em novelas, séries ou programas de auditório. Muitas vezes, o artista escolhido é apenas bonito, mas sem talento algum. Essa prática, de contratar modelos famosos sem experiência na arte da interpretação, acabava irritando os colegas mais talentosos.

Lélia Abramo

Uma atriz se revoltou com as escolhas de atores pela beleza e pediu que as emissoras de televisão dessem oportunidade às pessoas feias. Era Lélia Abramo, estrela que esteve presente em vários sucessos da TV, como Redenção (1966), Pai Herói (1979), Pão Pão, Beijo Beijo (1983), O Tempo e o Vento (1985), A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990), entre outras produções.

Espaço na TV para os feios

Pão-Pão, Beijo-Beijo - Lélia Abramo

Lélia também foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT) e foi presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo. Logo que assumiu o seu posto, no final dos anos 1970, ela fez duras críticas, inclusive à Rede Globo, uma vez que as emissoras só escolhiam gente bonita nas novelas.

“A Globo é a primeira a estimular a presença de gente bonita no vídeo, em detrimento de atores profissionais. O pior é que o Sindicato dos Atores não pode fazer absolutamente nada contra essa situação, porque a rede está tão poderosa que não respeita mais o Sindicato. Só abrem as portas para moças bonitas”, declarou a atriz ao Jornal do Brasil em 11 de setembro de 1979.

A profissionalização de uma categoria

Para Lélia, era fundamental que houvesse oportunidade para todos. Assim, a atriz exigiu que o governo apoiasse a criação de escolas técnicas de teatro, para que jovens atores e principalmente profissionais dos bastidores, como maquiadores, iluminadores, cenógrafos, entre outros trabalhadores, tivessem a mesma sorte.

Hoje, a televisão mudou sua visão e passou a ser mais inclusiva ao dar espaço para todos. No entanto, as críticas ainda continuam. Em Travessia, novela de Gloria Perez, Jade Picon foi escalada para viver Chiara. Ela nunca tinha atuado antes – era influencer, empresária e fez sucesso ao participar do Big Brother Brasil 22.

A falta que um curso de teatro faz

Sua atuação tem sido reprovada pelo público e a crítica culpa a Globo por colocar uma artista inexperiente em um papel importante da trama. O próprio irmão da artista, Léo Picon (foto acima), escreveu para ela nas redes sociais: “se você tivesse entrado para o teatro, quando eu falei para você entrar, você não estaria passando por isso agora”.

O último trabalho de Lélia Abramo na TV foi em 1990, em Fronteiras do Desconhecido, da Rede Manchete. Ela faleceu em 9 de abril de 2004, aos 93 anos, vítima de uma embolia pulmonar.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor