Atualmente brilhando em Cara e Coragem, Taís Araújo (na foto abaixo, com Mel Lisboa) despontou para a fama ao protagonizar Xica da Silva, que deu fôlego para a Manchete, que vivia sua eterna crise financeira.

A história da escrava alforriada, que ganhou fama pelo poder que tinha em Arraial do Tijuco, hoje Diamantina (MG), tornou-se um grande sucesso, embora não tenham faltado polêmicas durante a produção.

Se aborreceu

Luzia Avellar

A atriz inicialmente escolhida para o papel de Xica foi Luzia Avellar (foto acima), que, na época, era modelo. Porém, oito horas depois de terem anunciado Luiza como protagonista, o diretor da produção, Walter Avancini (1935-2001), voltou atrás e escalou a jovem Taís Araújo, que havia atuado em Tocaia Grande.

O experiente profissional não escondeu que a modelo ficou chateada.

“Luzia se aborreceu, mas se quiser, há vários personagens que pode fazer. Luzia, que é modelo, tem muita vocação para atriz, mas não consegui dobrar sua doçura pessoal e, para fazer a Xica, é preciso um temperamento forte”, explicou o diretor ao jornal O Estado de S. Paulo.

Mas Taís demorou para aceitar o papel principal. Tanto é que, ao receber o convite, disse não. Inconformado, o diretor foi ao encontro da atriz, que estava nervosa por não ter feito um teste sequer para a novela.

“Achava que era muita responsabilidade, fiquei nervosa”, admitiu a atriz.

Além disso, estava incomodada por sua colega, que tinha perdido a atuação da personagem.

“Ela é divina, uma pessoa muito legal. Quando acertei tudo, fiquei preocupada”, desabafou a atriz.

Cenas de nudez

Xica da Silva

Uma das inquietações da emissora era a questão da idade da protagonista – apenas 17 anos na época – e a outra era que, na trama, a atriz teria que encarar cenas de nudez e erotismo. Para driblar essa questão, o diretor afirmou que no início da trama seria mostrado Xica bem jovem, e, quando Taís completasse 18 anos, aí sim, as cenas de romance e nudez estariam liberadas.

Quando a novela entrou no ar, a audiência da Manchete subiu e a imprensa especulava quando seria veiculada a cena de nudez da personagem principal. Em 28 de novembro de 1996, a nudez de Taís Araújo estaria na tela em horário nobre. Tanto a emissora quanto a imprensa exploraram o fato de forma grotesca.

O Juizado de Menores do Rio decidiu autuar a Manchete, já que a cena foi gravada quando a atriz tinha apenas 17 anos, fato comprovado por fotos vazadas antes de ela alcançar a maioridade.

“Antes, rezei. Na hora, não me incomodei. Depois, foi horrível, até me senti mal”, declarou a artista.

Para a Folha de S.Paulo, Avancini disse que a maioridade era um problema resolvido.

“Taís pode gravar mais à vontade. Antes, não podia aparecer nem o bico do seio. Como se o corpo fosse privilégio dos marcianos”, declarou o diretor.

Ida para a Globo

Walter Avancini

Na reta final da trama, Taís Araújo assinou contrato com a Globo e se negou a gravar uma das cenas, deixando Avancini irritado. A atuação da personagem, que seria simular a prática sexo anal – essencial para o diretor, mas desnecessária para a trama –, foi rejeitada pela atriz.

“Taís não tem currículo para falar sobre criação e direção. Ela pode falar apenas sobre si mesma”, disse o diretor ao jornal O Estado de S. Paulo.

“Se ele acha isso, não sou eu quem vou falar o contrário”, revidou a atriz, que havia solicitado uma dublê, o que lhe foi negado pela direção.

Terminada a novela, Taís seguiu diretamente para a Globo e interpretou Vívian dos Santos no remake de Anjo Mau.

“Que vá com Deus”, disparou o diretor ao falar da saída da atriz da Manchete.

Ela foi realmente muito bem-sucedida, já que se tornou um dos maiores nomes do elenco da emissora carioca. Em março de 2021, Tais foi ao Roda Viva e relembrou seu trabalho na novela.

“Hoje eu vejo fotos minhas, e não sei como minha mãe deixou eu fazer. Fotos que eu tenho vergonha de postar, é uma menina segurando o peito. Acho que minha mãe tinha uma falsa imagem de que aquilo fazia parte do processo”, desabafou.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor