Alguns artistas do elenco de O Salvador da Pátria, recentemente exibida pelo canal Viva, ficaram insatisfeitos com o pouco destaque dado aos seus personagens e acabaram pedindo para deixar o elenco da novela, apresentada originalmente pela Globo em 1989. Foram os casos de Cláudio Cavalcanti (1940-2013) e Marcos Paulo (1951-2012).

Afastado das tramas desde Hipertensão, novela das sete de 1987, Cavalcanti, então com 49 anos, passou dois anos se dedicando ao teatro, inclusive morando em Portugal, até aceitar o convite para viver Eduardo, figura misteriosa da novela de Lauro César Muniz.

“Quando me ofereceram o papel do Eduardo, achei ótimo, pois após fazer uma série de personagens bonzinhos e permanecer um tempo afastado da televisão, teria a oportunidade de fazer um mau-caráter, um homem atormentado e misterioso. Só que Eduardo acabou tão misterioso que nem eu sei coisa alguma sobre ele”, disse o ator ao jornal O Globo de 9 de abril de 1989.

A função de Eduardo, que sabia detalhes sobre o passado de Marina Sintra (Betty Faria) em Londrina (PR), seria abalar as estruturas da fazendeira, além de colocar em dúvida a paternidade de Camila (Mayara Magri).

No final daquele mesmo mês, em entrevista ao jornal O Dia, Cavalcanti explicou o motivo de estar deixando a trama, após gravar a cena da despedida de Eduardo de Tangará, fictícia cidade onde se passava a história.

“Ele me disse que o Lauro César tinha um papel fantástico de mau caráter em sua novela e gostaria que eu fizesse o personagem. Aceitei. E, na verdade, o Eduardo entrou forte e prometeu muito”, disse, citando o convite do diretor Paulo Ubiratan (1947-1998).

“Mas, no final, não foi nem um bom papel nem um bom personagem. Nada foi bom para o Eduardo. Não podia ser: ele passou seis meses deitado num quarto de hotel. Na verdade, o Lauro tem um grande elenco nas mãos e começou a não poder escrever para todo mundo”, desabafou.

No entanto, garantiu que não saiu magoado e ainda aceitou o chamado de outro diretor, Gonzaga Blota (1928-2017), para dirigir cenas externas da própria novela.

Mais um caso

Na mesma época, foi anunciado que Marcos Paulo, que vivia Paulo, também sairia da produção. “O motivo é o que também afastou Cláudio Cavalcanti: pouco aproveitamento de seu personagem na trama”, informou o Jornal do Brasil de 21 de abril daquele ano.

Em 14 de maio, O Dia informou que o ator e diretor até escreveu uma carta para Muniz, a quem muito admirava “como pessoa e como colega de profissão”. Ele passou a se dedicar ao seu personagem na minissérie A, E, I, O… Urca, cujas gravações começariam três dias depois.

Ao contrário de Eduardo, Paulo ainda voltou para O Salvador da Pátria no final, aparecendo nos dois últimos capítulos. Em seguida, participou de Tieta, que ainda contou com Betty Faria, que emendou as duas atrações.

Outro consagrado ator que não teve o merecido destaque, mas ficou até o final, foi Cecil Thiré (1943-2020), na pele do médico Lauro Brancato. No caso dele, não houve nenhuma reclamação através da imprensa.

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“Pela sinopse eu sabia que iria assim. A importância dele é na segunda ordem”, minimizou o ator ao jornal O Dia de 16 de julho de 1989.

“Acho uma pena eles estarem insatisfeitos. O que acontece é que tenho seis excelentes atores na novela, e eles estão incluídos aí, mas, por mais que me esforce, é difícil equilibrar todos. Eu não gostaria que eles saíssem, mas essa decisão cabe a eles”, declarou Muniz ao JB, encerrando o assunto.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor