Um ator se viu numa sinuca de bico quando aceitou o convite para participar de uma novela de sucesso da Globo. Até mesmo o presidente Luis Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato, entrou no meio da confusão.
Escalado às pressas para substituir um colega que sofreu uma lesão, Antônio Grassi teve um personagem de destaque em Chocolate com Pimenta, recentemente exibida em edição especial pela Globo.
Na trama de Walcyr Carrasco, ele viveu Reginaldo, pai de Celina (Nívea Stelmann) e Graça (Samara Felippo). O papel, originalmente, seria de Luis Melo, tradicional parceiro do autor, que, no entanto, acabou de fora após sofrer uma lesão no joelho.
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Incompatibilidade
Na mesma época, Grassi ocupava a presidência da Funarte (Fundação Nacional de Artes), já tendo recusado outro convite da Globo, para trabalhar na antecessora de Chocolate com Pimenta, Agora é que São Elas.
De acordo com matéria de Ricardo Boechat, publicada no Jornal do Brasil de 17 de outubro de 2003, a Comissão de Ética da Presidência da República julgou como “incompatível” a função pública de Grassi e sua presença no elenco da novela.
Posteriormente, após muita discussão, o ator acabou sendo mantido em ambas as funções, desde que, conforme foi determinado pela Comissão, os horários de gravações não afetassem o seu expediente na Funarte.
Carta branca de Lula
O ator divulgou que chegou a pedir autorização para o próprio Lula, que deu carta branca para que ele pudesse continuar na trama.
“Lula me disse que ser ator era o meu maior patrimônio. E eu não queria romper o vínculo com a minha carreira artística, que estava sendo deixada de lado. Tentei levar em consideração o fato de que um dos diferenciais nossos no governo é que nós somos também artistas”, contou o ator, em entrevista a Folha de S. Paulo em 19 de outubro de 2003.
Ao se questionado sobre qual profissão ele escolheria para seguir, Grassi não pensou duas vezes:
“Não posso jogar fora uma carreira de ator construída há quase 30 anos. Se tivesse de optar, seria artista”, decretou.
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Carreira
O artista esteve na Funarte de 2003 a 2006 e, posteriormente, entre 2011 e 2013, além de ocupar também a função de Diretor Executivo do Instituto Inhotim, entre 2013 e 2018.
Além de Chocolate com Pimenta, Grassi esteve em tramas como O Salvador da Pátria (1989), Top Model (1989), O Dono do Mundo (1991), Pátria Minha (1994) e Cara & Coroa (1995). Depois de Chocolate com Pimenta, ele fez mais uma novela na Globo, Como uma Onda (2004) e migrou para a Record, onde atuou em diversas produções entre 2008 e 2014.
Atualmente com 69 anos, o ator tornou-se sócio de José Pinho na Livraria Ler Devagar, uma das mais importantes de Lisboa, que recebe cerca de 300 mil visitantes por ano.
Na livraria, Grassi criou o espaço Talante, para mostras com temáticas de língua portuguesa que já recebeu a exposição de obras de Ferreira Gullar e Paulo Mendonça, autor de músicas do grupo Secos e Molhados.
