O programa Os Trapalhões é um marco do humor na televisão brasileira, que trouxe alegria a várias gerações que acompanharam o quarteto na TV e no cinema. Mas a história de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias não foi composta apenas por risos, mas por brigas e separações.

Renato Aragão, líder da trupe, não concorda com as acusações que recebe de jornalistas e colegas de que foi ele o responsável pelo afastamento de seus amigos de palco.

Em meados dos anos 1980, o quarteto acabou se desentendendo e se separou – Renato ficou sozinho no programa, enquanto Dedé, Mussum e Zacarias seguiram juntos em outros projetos. O público acompanhava de perto o fim do grupo de humor mais famoso da TV.

A separação do grupo

A Renato Aragão Produções seguia à frente da gestão do programa de TV, da produção dos filmes e dos inúmeros produtos que levavam a marca do quarteto. A empresa do Didi ficava com 50% do faturamento. Já a outra metade era dividida entre os outros três humoristas.

Ao perceberem que Renato enriquecia e criava um império, Dedé, Mussum e Zacarias criaram uma produtora própria – a Demuza (um acrônimo que juntou as iniciais dos nomes dos três). Com essa nova empreitada, eles rodaram o Brasil fazendo shows de humor em várias cidades.

Em agosto de 1983, a ideia era continuarem juntos apenas no programa de TV e seguir independentes em outros meios. Só que o desentendimento era grande e a separação foi total – Renato ficou com Os Trapalhões e Dedé Santana, Mussum e Zacarias fizeram parte do elenco de um novo programa da Globo – A Festa é Nossa.

Mas tudo isso durou pouco. A emissora carioca trabalhou para que o quarteto voltasse a trabalhar juntos e, em fevereiro de 1984, a paz foi selada.

“Tínhamos uma relação comercial, mas éramos muito amigos”

Renato Aragão

Em entrevista ao Notícias da TV em 30 de julho de 2019, Renato Aragão negou que passou a perna em seus colegas do Trapalhões.

“Não é verdade que eu tenha levado vantagem em cima dos meus companheiros. Tínhamos uma relação comercial, mas éramos muito amigos”, afirmou.

“Todos os projetos eram frutos de negociações contratuais. A RA Produções era a responsável pelo investimento, pela produção, pelo meu trabalho artístico e autoral, e pela contratação dos outros parceiros. No caso do Dedé, Mussum e Zacarias, a contratação era feita por meio da empresa deles, a Demuza”, detalhou.

Rafael Spaca, diretor do documentário Trapalhadas sem Fim, gravou depoimentos com ex-colegas de Renato, que fizeram inúmeras críticas ao intérprete de Didi. Ele disse que não entende essas críticas e acusações.

“Somos o grupo de comediantes de maior longevidade, aparecendo inclusive no Guinness Book [o Livro dos Recordes]. Nós nos orgulhamos de nossa história. Se houve alguma desavença, é porque somos humanos, e isso acontece a qualquer tipo de relacionamento”, falou Renato.

Um programa solo

Essa não foi a única história que Spaca quer trazer em seu filme. Segundo ele, logo após a morte de Zacarias, em 1990, Renato queria que Dedé e Mussum saíssem do programa.

“Eu entrevistei o José Lavigne, o grande diretor do ‘Casseta & Planeta’, mas que, antes disso, foi por um tempo diretor de ‘Os Trapalhões’. Assim que o Zacarias morreu, eles tentaram criar várias fórmulas para sobreviver. O Renato pediu a demissão do Dedé e do Mussum, mas ele colocou a culpa no diretor. Isso é verdade porque eu li as entrevistas da época, e o Renato falava que era ‘coisa do diretor’. Mas o Renato sempre mandou mais do que o diretor e mais do que todo mundo. Ele jamais iria permitir isso, mas ele colocava a culpa no Lavigne. O Lavigne me falou: ‘Renato pediu e eu levei a culpa’”, relatou ao podcast Inteligência Ltda.

Apenas um boato

Já Dedé Santana disse, em entrevista ao Balanço Geral, em agosto deste ano, que não sabia de nada dessa história.

“Olha, saiu que o Renato Aragão tinha pedido a minha cabeça [na Globo]. Realmente eu não tô por dentro desse assunto, eu nunca ouvi falar isso. Tem que perguntar e fazer esse esclarecimento com quem falou”, disparou o humorista.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor