Muitos artistas, quando interpretam um personagem em novela ou série, acabam conhecendo uma nova cultura, outros costumes e diferentes religiões. Muitas vezes, até modificam o estilo de vida depois da produção. Isso ocorreu com Cláudio Cavalcanti.

A Viagem - Cláudio Cavalcanti

O ator, que fez sucesso em Irmãos Coragem (1970), O Feijão e o Sonho (1976), Maria-Maria (1978), Pai Herói (1979), Água Viva (1980) e Roque Santeiro (1985), entre outras produções, foi escalado para viver o médium Alberto em A Viagem (1994).

Um ateu convicto

Claudio Cavalcanti

Um fato que chamou a atenção da imprensa, na época da produção, é que Cláudio se dizia ateu.

“Essa conversa de Deus, pátria e família é motivo dos maiores crimes da história. Durante essa novela, eu aproveito para fingir que acredito em alguma coisa”, falou o ator em entrevista à Folha de S. Paulo.

“A gente poderia chamá-lo de ‘O Exorcista’”, brincou o diretor da trama Wolf Maya, na mesma matéria, ressaltando que os gracejos sobre o ateísmo de Cavalcanti eram comuns nos bastidores.

Ótimo ator que era, ele entrou de cabeça no papel e se tornou um dos destaques do folhetim de Ivani Ribeiro.

Mão amiga

A Viagem

O personagem vivido por Cláudio Cavalcanti era amigo pessoal de Otávio Jordão (Antonio Fagundes) e também médico da família. Médium, Alberto realizava reuniões espíritas e conversava com o “fantasma” de Alexandre (Guilherme Fontes), que aterrorizava a vida das pessoas que o “prejudicaram”.

Ele também nutria uma paixão secreta por Dinah (Christiane Torloni), irmã de Alexandre e interesse amoroso de Otávio. Foi com Estela (Lucinha Lins), porém, que o médico e médium acabou se acertando…

A Viagem foi um verdadeiro sucesso, chegando a alcançar mais de 50 pontos no horário das sete – índices comumente superiores ao das produções exibidas às 20h, Fera Ferida (1993) e Pátria Minha (1994). As reprises da obra também turbinaram os números das tardes da Globo.

Uma nova visão após a novela

A Viagem

Em entrevista ao The Noite, do SBT, Lucinha Lins contou os bastidores da produção e destacou a mudança de opinião que Dr. Alberto levou a Cavalcanti.

“Tinha uma energia muito boa. Cláudio Cavalcanti, por exemplo, que fazia meu par romântico na novela, era super ateu. Pra mim é bobagem. Não ficou assim quando acabou a novela, não. Teve alguma coisa ali que mudou nele, de ele dizer que estava lendo e querendo saber das coisas. Fagundes também ria um pouco disso, mas tinha um respeito que foi acontecendo no meio disso tudo. Teve umas coisas bonitas ali”, destacou.

A despedida de Cláudio Cavalcanti

Cláudio Cavalcanti

Em sua última entrevista ao jornal O Globo, em 2013, ao falar de seus trabalhos na televisão, Cláudio destacou Alberto, mas sem afirmar que esse papel mudou a sua opinião.

“Na Globo, ‘Irmãos Coragem’ foi um marco extraordinário. Destaco ainda ‘Roque Santeiro’ e ‘A Viagem’. Até hoje as pessoas pensam que sou espírita por causa dessa trama”, comentou.

Após A Viagem, ele esteve presente em Explode Coração (1995), Salsa e Merengue (1996), Marcas da Paixão (2000), Roda da Vida (2001), Amor e Revolução (2011) e Sessão de Terapia (2013), sendo este seu último trabalho na TV.

O ator morreu em 29 de setembro de 2013, no Rio de Janeiro, aos 73 anos. Ele estava internado na UTI do Hospital Pró-Cardíaco há alguns dias, tendo passado por uma cirurgia por conta da falência de uma vértebra no dia 24 de setembro. O corpo foi cremado e as cinzas jogadas no mar.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor