Atualmente com 75 anos, Osmar Prado (na foto abaixo, com Jesuíta Barbosa) respondeu por uma das figuras de maior repercussão de Pantanal, exibida no ano passado pela Globo. Ele interpretou o Velho do Rio, conselheiro de vários personagens e protetor das belezas naturais do local, que apresenta-se ora como pessoa, ora como sucuri. Logo após o final da novela, seu contrato fixo com a emissora não foi renovado.

Pantanal

Três décadas antes, o consagrado artista interpretou um dos tipos de maior destaque da novela Renascer (1993): Tião Galinha, um simplório catador de caranguejos. O ator estava fazendo o maior sucesso quando uma desavença nos bastidores levou à morte do personagem e sua consequente saída da emissora.

No folhetim, também escrito por Benedito Ruy Barbosa, Tião Galinha funcionava como porta-voz do autor para denúncias sobre as precárias condições de vida e de trabalho no país. Ele, a esposa Joaninha (Tereza Seiblitz) e os filhos deixavam a zona dos manguezais rumo à zona de cacau, na esperança de dias melhores.

Loucura e suicídio

Renascer

Por ingenuidade e ignorância, Tião atribuía o sucesso de José Inocêncio (Antonio Fagundes) como produtor de cacau ao “diabinho” que o coronel afirmava ter criado dentro de uma garrafa. O tal cramulhão, de acordo com a crença popular, trazia prosperidade quando urinava em cima dos pés de cacau.

A obsessão de Galinha com o “coisa ruim engarrafado” transformava a vida dele e da esposa num inferno. Ele sequer percebeu o interesse de Joaninha pelo Padre Lívio (Jackson Costa), de ideias progressistas – em seus discursos, o pároco defendia a reforma agrária.

Enlouquecido, Tião Galinha acabou detido por suposta relação com o atentado a Teodoro (Herson Capri), que assediava Joaninha. Inconformado com a acusação, ele tirou a própria vida dentro da cela da delegacia. Joaninha, no fim das contas, terminou ao lado de Lívio, que largou a batina.

Com sua interpretação marcante, Osmar Prado fez de Tião Galinha um dos melhores personagens de Renascer. O matuto acabou conquistou a simpatia do público. Exatamente por este motivo, o anúncio da morte acabou surpreendendo a todos.

Atrito nos bastidores

Renascer

De acordo com o livro Novela – A Obra Aberta e Seus Problemas, de Fábio Costa, a morte de Tião Galinha estava prevista na sinopse, mas teve de ser antecipada. Ao ser preso, Tião sofreu uma grande humilhação na cadeia e, depois de levar um tapa na cara, acabou se enforcando. O artista comentou sua saída da produção em entrevista à revista Caras, de 19 de julho de 2015:

“Durante a novela tive um embate com um executivo da Rede Globo e eu pedi pra sair, pra antecipar a morte do Tião, com ele no auge. Ele ia morrer, mas não sabia quando. Aí eles botaram o Tião se suicidando.

O Tião foi preso, foi para cadeia, e se matou. Aí falei pro Luiz Fernando Carvalho (o diretor) que a cena não estava completa. Como esse personagem, com tanta força, vai se matar por nada? Disse que queria uma bofetada na minha cara, bater em uma pessoa digna”.

Logo após o episódio, Osmar Prado foi contratado pelo SBT. Ele atuou em Éramos Seis (1994) e Sangue do Meu Sangue (1995), além de teleteatros. A volta à Globo se deu apenas em 1998, com Meu Bem Querer.

Na sequência, trabalhos como O Clone (2001), Chocolate com Pimenta (2003), Sinhá Moça (2006), Cordel Encantado (2011), Amores Roubados (2014) e Órfãos da Terra (2019), entre outros.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor