Após se destacar em Um Lugar ao Sol, quando viveu o personagem Santiago, José de Abreu voltou à teledramaturgia da Globo em Mar do Sertão, atual novela das seis da emissora. Na trama, ele vive o Coronel Tertúlio, pai de Tertulinho (Renato Góes) e marido de Deodora (Débora Bloch).

Mar do Sertão

Muitos anos antes, entre 1993 e 1994, o ator criou uma saia-justa na emissora ao criticar uma novela que estava em andamento. Em Sonho Meu, ele viveu Geraldo Vieira, ex-marido de Claudia (Patrícia França) e pai de Carolina (Carolina Pavanelli). O personagem era um homem extremamente violento, o que provocou a separação e a perda da guarda da filha.

Entrevista polêmica

Sonho Meu

Quando a trama estava na reta final, o ator concedeu uma polêmica entrevista à Folha de S.Paulo, onde simplesmente detonou a produção.

Abreu contou que estava decepcionado com a televisão e queria resgatar a tradição do teatro mambembe. Ele só estava esperando o término de Sonho Meu para romper seu contrato com a Globo e cair na estrada junto com a então esposa, Ana Beatriz Wiltgen, a bordo de uma caminhonete colorida.

“As telenovelas estão transformando o ator em funcionário público. Os textos são péssimos, o ritmo das gravações é infernal. Não dá mais para trabalhar assim”, enfatizou à reportagem, publicada em 23 de abril de 1994.

“Estou me tornando displicente. Decoro as falas poucos minutos antes de entrar no estúdio, faço o que tenho de fazer e volto para casa. Tudo sem o menor sentimento. A noite, fico com a sensação de que passei o dia batendo à maquina, como um burocrata, um funcionário público”, completou.

“De uns tempos para cá, o ator perdeu importância dentro das emissoras. A televisão criou a arte do não representar. Se pudesse, eu abandonaria definitivamente as novelas. Só continuo porque tenho três filhos para sustentar”, explicou.

“Pior trabalho que já fiz”

José de Abreu em Sonho Meu

Na mesma entrevista, Abreu não poupou críticas a Sonho Meu. Ele ainda emendou dizendo que as novelas estavam em decadência.

“É o pior trabalho que já fiz. A trama não tem pé nem cabeça, está repleta de contradições. O próprio Geraldo é um personagem esquizofrênico. Um dia, dá porrada. No outro, chora como criança. Parece que os autores do texto não conversam entre si”, disparou.

“Comercialmente, o gênero ainda funciona. Mas, artisticamente, não tem mais para onde ir. Todos nós, que vivemos da TV, sentimos o declínio, sabemos que está na hora de procurar outros caminhos”, destacou. “O produto dá certo, não há por que modificá-lo. Errados somos nós, atores”, completou, desolado.

Autor se defendeu

Lauro César Muniz

Supervisor da trama de Marcílio Moraes, Lauro César Muniz rebateu as críticas de Abreu na mesma matéria. Contudo, o autor concordou com a afirmação de que a telenovela estava decadente.

“O Zé costumava nos ligar para elogiar o personagem. Não entendo por que mudou de opinião”, ponderou. “O gênero vive mesmo uma crise criativa. Mas tenho certeza de que é um fenômeno passageiro”, concluiu.

Após Sonho Meu, Abreu ficou dois anos afastado da televisão, retornando em História de Amor (1995). Em 2019, após fazer A Dona do Pedaço, o ator saiu da Globo e foi morar na Nova Zelândia. No entanto, voltou ao Brasil para participar de Um Lugar ao Sol.

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Thais Milena é uma jornalista formada apaixonada pela história da televisão brasileira e pelo universo dos famosos. Com conhecimento e entusiasmo, se dedica a compartilhar informações, curiosidades e análises sobre os bastidores da televisão, os programas icônicos e os artistas renomados do Brasil. Através do trabalho, busca entreter e informar seus leitores, levando-os a uma viagem pelos momentos marcantes e pelas personalidades que influenciaram a cultura televisiva do país.