Visto atualmente nas tardes da Globo como Dr. Paulo, de Chocolate com Pimenta (2003), Guilherme Piva experimentou o sucesso na TV em seu segundo trabalho: Zé Maria, de Xica da Silva (1996), na Manchete.

Chocolate com Pimenta - Guilherme Piva
Reprodução / Globo

O ator, porém, teve medo de viver um homossexual. Foi o destino que levou à escalação dele para o melhor amigo de Xica (Taís Araujo), jocosamente apelidado de Zé Mulher pelos moradores de Arraial do Tijuco.

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Escrito nas estrelas

Xica da Silva - Guilherme Piva
Divulgação / Manchete

O universo conspirou a favor da escalação de Guilherme Piva para o clássico assinado por Walcyr Carrasco e dirigido por Walter Avancini.

“No início, meu personagem seria o Bonifácio. Mas, na época, fiquei impossibilitado por estar atuando na peça ‘O Submarino’, de Miguel Falabella, e Maria Carmem Barbosa. Daí, o papel em ‘Xica’ passou para o Fernando Vieira”, revelou Piva ao Jornal do Brasil, durante as gravações do folhetim.

“No último dia do espetáculo, o Walter Avancini me chamou, às pressas, para entrar no lugar do Marco Polo, que saiu da trama depois de ter gravado várias cenas como o Zé Maria”, explicou.

Medo da violência

Xica da Silva - Giovanna Antonelli
Reprodução / YouTube

Zé Maria sofria ataques homofóbicos, especialmente de Violante (Drica Moraes). Com medo ser enviado para a fogueira, ele tentou a cura gay através de sua avó, a feiticeira Benvinda (Miriam Pires). “Zé Mulher” também se envolveu em um casamento arranjado com Elvira (Giovanna Antonelli).

Guilherme Piva temeu por sua integridade física enquanto vivia o personagem. Ele teve medo de aceitar o papel e sofrer agressões, como aconteceu como um colega de ofício.

“Pensei que ia sofrer perseguição, como o André Gonçalves, que fez um homossexual numa novela da Globo. Mas não tive manifestações desagradáveis. Só recebo elogios”, confidenciou ao jornal Folha de S. Paulo, em 17 de novembro de 1996.

A Próxima Vítima - André Gonçalves
Divulgação / Globo

André, cabe lembrar, foi agredido por homofóbicos enquanto interpretava o Sandrinho, de A Próxima Vítima (1995).

“Eu passei muitos maus bocados na vida, inclusive por ter feito o Sandrinho. Eu apanhei, fui perseguido, tomei ovada. Durante muitos anos, não foi só esse episódio. Eu tive que andar com segurança durante três meses, fui ameaçado de morte, perseguido por uma galera do bairro que eu morava no Rio de Janeiro”, lamentou Gonçalves em entrevista ao extinto Programa do Porchat, da Record, em 2018.

Disfarce

Nos Tempos do Imperador - Guilherme Piva, Ingrid Guimarães e Vivianne Pasmanter
Divulgação / Globo

Sobre a recepção do público, Guilherme Piva salientou que o figurino de época auxiliou, já que sua imagem não era atribuída a Zé Maria, diferente do que acontecera com André Gonçalves.

“O André fazia um personagem sem composição, era ele mesmo. Se tiro o aplique e a maquiagem, dificilmente sou reconhecido”, avaliou.

Após o sucesso em Xica da Silva, Piva participou de Mandacaru (1997), também da Manchete.

Ele seguiu para a Globo em 1999, participando de títulos como Chiquinha Gonzaga (1999), Porto dos Milagres (2001), O Beijo do Vampiro (2002), Pé na Jaca (2006), Paraíso Tropical (2007), Insensato Coração (2011), Lado a Lado (2012), Novo Mundo (2017, foto), Nos Tempos do Imperador, entre outros.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor