Prefere ir de ônibus?“. É com essa saudação que os passageiros da Piorá Linhas Aéreas são recebidos assim que chegam ao guichê da companhia aérea, no aeroporto. E a frase, capaz de fazer até os piores publicitários do mercado revirarem os olhos, e que serve também como slogan da empresa, é motivo de orgulho para os seus donos. Também, pudera: o chamariz é apenas uma das muitas esquisitices que tornam a companhia, estrela da série Brasil a Bordo, completamente singular.

Se pensou em frota de aviões, esqueça. A Piorá dispõe de apenas um. Finger – aquela ponte que liga o terminal do aeroporto ao avião para oferecer conforto e praticidade aos passageiros? A empresa não tem. Opções variadas de rotas internacionais? Também não. No cardápio dos voos, supostas delícias vendidas como apetitosos bem casados, por exemplo, são espertamente substituídas por restos de massa molhados com cachaça e açúcar. Para administrar o dia a dia dessa companhia completamente mambembe, é claro: administradores à altura.

Seriado de autoria de Miguel Falabella e direção geral e artística de Cininha de Paula, Brasil a Bordo estreia na Globo nesta quinta-feira, dia 25 de janeiro, após Big Brother Brasil. O público poderá acompanhar o dia a dia da família Cavalcanti, dona da Piorá Linhas Aéreas, uma companhia de aviação falida que cruza os céus transportando tipos populares e excêntricos. No humorístico, o que torna singular a família protagonista e vira condição de entendimento entre parentes completamente disfuncionais, além do fato de serem donos da Piorá, é a boa dose de delírio que, acrescida à comédia anunciada pelas esquisitices e absurdos de cada um deles, permeia a relação entre todos.

Após inúmeras falcatruas nos negócios, Berna (Arlete Salles), a matriarca dos Cavalcanti, conseguiu afundar a Piorá. Pega ainda pela crise econômica do país e proibida, pela justiça, de voar, a família não teve dinheiro nem para concluir a reforma da casa. Restou a eles, além de desviar dos sacos de cimento que transformaram a mansão onde moravam em um grande canteiro de obras, aprender a contornar também a nova situação financeira. O vislumbre de alívio só surge quando o juiz responsável pelo caso da Piorá decide que a empresa pode voltar a funcionar. Mas a sentença carrega um detalhe: a empresa pode voltar a funcionar, desde que os funcionários também tenham participação no quadro diretor da companhia. A partir daí o choque de ideais entre os antigos e os novos administradores promete movimentar – e muito – as coisas.

Se, ao menos, as viagens seguissem tranquilas, “tudo bem”. Mas acrescente à lista dos piores serviços de todos os tempos situações desesperadoras, como um passageiro tendo um ataque cardíaco em pleno voo, uma promoção de casamento nos céus durante uma tempestade daquelas e um sequestro de voo liderado por um homem-bomba apaixonado. Tudo isso “controlado” por uma tripulação maluca, cujo comandante mais experiente pilota com o brevê vencido e todos os integrantes, além de terem sido reprovados no exame psicotécnico, não perdem uma só oportunidade para se dar bem. E aí: prefere ou não prefere ir de ônibus?

Eu sempre acho que, na verdade, o que leva o seriado são as personagens. Elas é que contam a história. Os Cavalcanti são uma família disfuncional, em uma companhia disfuncional, em um país disfuncional, então é a comédia da loucura total“, diz Miguel Falabella. “Brasil a Bordo é muito doido e ao mesmo tempo muito engraçado. A gente não pode esquecer que se trata do humor do Miguel Falabella. É um humor crítico, de certa forma debochado, mas também familiar. E esse é um dos aspectos que considero mais interessantes de trabalhar com o Miguel: independentemente do universo no qual ele coloque a história, esse universo conta com a família, e essa família é o Brasil”, completa Cininha de Paula.

Uma sessão extraordinária

No primeiro episódio de Brasil a Bordo, o dia amanhece e o sol penetra pelas frestas das paredes inacabadas da mansão dos Cavalcanti. Durval (Marcos Caruso) acorda, desce as escadas e esbarra com Jacira (Andrea Dantas), que coloca a mesa do café. Cumprimenta a empregada antes de tropeçar em um dos cavaletes que servem de mesa à sala em reforma e acaba com uma lata de tinta colada na calça do pijama: este seria só mais um começo desafortunado de um dia qualquer na vida de um comandante desafortunado. Seria. Mas hoje, não. Hoje, Durval acordou com um propósito. Hoje, apesar da recente coleção de infortúnios que só parece aumentar a cada dia, a sorte de Durval e de toda a sua família está para mudar. Hoje é dia de sessão extraordinária.

Mas assistir a essa mudança de sorte com data e hora marcadas não é programa para um homem só. Principalmente porque Durval nunca foi um homem só. Desde que o casamento com a ex-esposa lhe garantiu, além da entrada para a família dela, a entrada nos negócios das irmãs Cavalcanti – a Piorá Linhas Aéreas -, o comandante aprendeu que sempre é possível dividir a vida com mais um. E mais alguns. A única vez em que viu essa situação se inverter foi quando a esposa morreu. Mas ele próprio já estava tão inserido no seio familiar que por ali ficou, rodeado de cunhados, concunhados e sobrinhos. Os Cavalcanti sempre dividiram tudo: a mansão, os negócios, as trambicagens, a riqueza e a pobreza. Esta última, aliás, a mais recente e fiel companhia da família, desde que eles faliram a companhia aérea.

Durval então percorre a mansão em reforma atrás dos parentes. Bate na porta do quarto de Berna (Arlete Salles) e Gonçalo (Luiz Gustavo); encontra com Vadeco (Miguel Falabella); interrompe o sono de Decenove (Frank Borges) e Camilinho (Rafael Canedo) e a cantoria nos aposentos de Caravelle (Sophie Charlotte) e Johnny Beautiful (Magno Bandarz). Sono, discussões, romance, tudo pode esperar, já que é chegado o grande dia em que o juiz, em sessão extraordinária, vai dar a sentença sobre o caso da Piorá.

Reunida em frente à televisão, a família escuta atenta às palavras do juiz, que afirma que se a companhia deseja continuar voando para pagar as dívidas trabalhistas, os Cavalcanti têm autorização. Entretanto, para desespero dos parentes, a autoridade afirma que é necessário haver nova gestão e que os funcionários também precisam fazer parte da mesa diretora.

Mal acabam de receber a notícia, eles ouvem a campainha da mansão tocar insistentemente. São eles: os funcionários. Ou melhor: os mais novos administradores da Piorá. A comissária São José (Maria Vieira) e as despachantes Shaniqwa (Mary Sheila de Paula) e Almira (Stella Miranda) entram na sala com tudo, garantindo missão de paz. Isso, é claro, se puderem exercer o poder que agora lhes é de direito. Mas o quarteto da velha guarda não dá o braço a torcer de imediato. Como se já não estivessem em um beco sem saída, Berna, Gonçalo, Vadeco e Durval veem a situação piorar quando o núcleo jovem da família adere ao lado dos funcionários, traindo seus próprios pais e tios e fazendo com que a sessão extraordinária se revele nem tão extraordinária assim.


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