Você sabia que, indiretamente, Chacrinha foi o responsável pelo surgimento do Fantástico? Um dos maiores apresentadores da televisão brasileira, Abelardo Barbosa (1917-1988) era também conhecido pelo seu temperamento difícil. Em uma das bastante comuns brigas entre ele e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então mandachuva da programação da Globo, o animador quebrou equipamentos do estúdio, deixou a emissora e abriu espaço para a criação da revista dominical.
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Chacrinha fazia sucesso na TV Rio desde o início dos anos 1960. Foi contratado pela Globo em 1967. Comandava dois programas: Discoteca do Chacrinha, às quartas-feiras, e Buzina do Chacrinha, aos domingos – este estreava há exatamente 54 anos, no dia 9 de julho daquele ano.
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Rapidamente, as atrações conquistaram grandes índices de audiência, sobretudo no Rio de Janeiro. Em 1969, com o advento das redes de micro-ondas da Embratel e a transmissão ao vivo para diversas regiões do país, o Velho Guerreiro, como era conhecido, tornou-se líder nacional.
Chacrinha e Boni eram grandes amigos fora da televisão, mas, profissionalmente, não se davam bem. O próprio ex-todo-poderoso da Globo confirmou isso em O Livro do Boni (Casa da Palavra).
O principal concorrente de Chacrinha era Flávio Cavalcanti (1923-1986), com seu programa na Tupi. Os dois travavam uma guerra pela audiência. Disputavam até convidados, geralmente de gosto duvidoso e ligados ao mundo cão. No início de 1972, Boni queria melhorar o nível do programa e proibiu a exploração da desgraça alheia. Chacrinha ficou irritado e disse que o diretor queria se meter em sua atração. A partir daí, o relacionamento azedou.
Segundo Boni, o Velho Guerreiro passou a atrasar, propositalmente, o término de seus programas, que eram ao vivo, tanto às quartas quanto aos domingos, prejudicando a pontual grade da emissora.
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Ataque de fúria
Em 3 de dezembro de 1972, Chacrinha fazia o Buzina normalmente e já havia estourado o horário. Deveria terminar às 22h, eram 22h04 e ainda faltavam três atrações. Boni pediu que a atração encerrasse às 22h10. Jorge Barbosa, filho do apresentador e produtor do programa, respondeu: “Chacrinha mandou dizer que não tem previsão para terminar”.
O diretor ficou extremamente irritado e encerrou o programa ali mesmo. “Tirei imediatamente do ar. O Chacrinha quebrou tudo no estúdio e subiu, possesso, sem camisa, até a minha sala, gritando: ‘Vou embora, vou embora, não apareço mais aqui'”, conta Boni em seu livro.
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O público não entendeu nada e choveram ligações para a Globo. Na quarta-feira seguinte, 6 de dezembro, Agildo Ribeiro comandou a Discoteca do Chacrinha provisoriamente, enquanto se resolvia a pendenga. Já o programa do domingo 10 de dezembro não foi ao ar. No lugar, foi exibido um tape de alguns meses atrás.
A imprensa fez grande estardalhaço daquilo que ficou conhecido como o “Caso Chacrinha”. O Jornal do Brasil, de 7 de dezembro, trouxe reportagem com as duas versões do episódio. O animador disse que pediu rescisão do contrato porque a atração mudou várias vezes de horário. Já a Globo alegou que o tirou do ar “porque o animador apresentou em seu programa um afeminado”.
Tapando buracos
Chacrinha foi rápido e estreou na TV Tupi alguns dias depois, enquanto a Globo entrou com um processo na Justiça por quebra de contrato. A emissora de Roberto Marinho improvisou algumas atrações para tapar os buracos na grade, como o musical Globo de Ouro e o programa Só o Amor Constrói, no estilo “esta é a sua vida” e “arquivo confidencial”.
De acordo com Boni, tudo isso possibilitou a criação do Fantástico, que tinha apresentação de nomes como Cid Moreira e Sérgio Chapelin. “Só o Amor Constrói sempre ganhou do Chacrinha, mas oscilava dependendo do nome do entrevistado. Ficou algumas semanas no ar e nos permitiu formatar, produzir e estrear o Fantástico em 5 de agosto de 1973. O programa registrou índices superiores aos do tempo do Chacrinha e ainda qualificou a audiência, valorizando o horário”.
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O retorno
A briga judicial não deu em nada, terminando pouco tempo depois. Chacrinha ficou alguns anos na Tupi e foi para a Band no final dos anos 1970, ficando lá até 1982, quando voltou para a Globo, a convite do próprio Boni, depois de um jantar no qual fizeram as pazes.
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“Disse ao Chacrinha que nossa programação estava completa, mas que adoraria tê-lo aos sábados à tarde, com duas horas de duração. Pensei que ele não aceitaria. Mas ele topou entusiasmado e nos abraçamos chorando. No dia seguinte, assinamos o contrato. Nunca mais tivemos qualquer problema. Fico muito emocionado ao lembrar do grande amigo e da genialidade dele”, falou também Boni em seu livro.
O Cassino do Chacrinha estreou em 6 de março de 1982 e ficou no ar até 2 de julho de 1988. Dois dias antes, Chacrinha morreu, vítima de câncer no pulmão, e a emissora exibiu o último programa gravado para homenageá-lo.