Comandante do Altas Horas, Serginho Groisman fez história na TV à frente do Programa Livre, do SBT, durante a década de 1990. A atração voltada para o público jovem, além de render boa audiência para o canal de Silvio Santos, marcou época por tratar de temas considerados tabus na TV aberta.

Altas Horas - Serginho Groisman
Reprodução / Globo

No entanto, as estratégias de programação do SBT afetaram bastante o formato, que passou a sofrer cortes para atender à grade. As edições frustraram os espectadores e Serginho.

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Debates e musicais pela metade

Programa Livre - Serginho Groisman
Divulgação / SBT

A denúncia foi feita na edição da Folha de São Paulo de 1º de fevereiro de 1994. O jornal destacou que, no exato momento em que Serginho Groisman questionou a empresária Noeli Lima sobre a parte do corpo que ela mais gostava, a emissora interrompeu o Programa Livre e passou a exibir o filme Um Novato na Máfia (1990), com Marlon Brando.

Na ocasião, a atração estava promovendo uma mesa-redonda sobre a beleza feminina.

A Folha apurou que as edições que o Programa Livre estava sofrendo não se tratavam de falha técnica. Os cortes aconteciam há cerca de um mês e eram tão sem pé, nem cabeça que, além de interromper discussões, “silenciavam” artistas que usavam o formato de Serginho para a divulgação de suas músicas.

Foram contabilizados 21 cortes entre os dias 3 e 29 de janeiro daquele ano. Bandas como Kid Abelha, Tigres de Bengala, Ira!, Olodum e a inglesa D-Influence gravaram performances que não chegaram a ir ao ar.

Protesto e silêncio

Fera Ferida - Susana Vieira
Divulgação / Globo

Os espectadores, se sentindo enganados, iniciaram uma onda de protestos, com reclamações via telefone, fax e cartas para a emissora. A direção do SBT preferiu não se pronunciar a respeito.

Ainda segundo a matéria, as tesouradas no Programa Livre não tinham nada a ver com questões ideológicas ou morais. O principal objetivo era ampliar a audiência.

O SBT havia decidido, nos últimos dias de 1993, que, assim que a novela Fera Ferida (foto acima, com Susana Vieira) saísse do ar na Globo, o Programa Livre seria interrompido, numa estratégia batizada como “hábito de audiência”, na qual o público da concorrente migrava para o canal de Silvio Santos no momento em que os créditos da novela surgiam.

A princípio, a aposta era enfrentar a rival exibindo filmes; a partir de maio, o recurso seria empregado na transmissão da novela Éramos Seis, um dos maiores sucessos do SBT.

Indignação

Programa Livre - Babi Xavier
Divulgação / SBT

O mais curioso dessa história toda é que, quando a emissora tomou tal decisão, Groisman tinha acabado de tirar dois meses de férias. Aproveitando a ausência do apresentador do vídeo, o SBT resolveu cortar os 53 programas já gravados por ele.

“Estou chateado. Respeito a estratégia da emissora, mas acho que os cortes desrespeitam o público”, lamentou.

Serginho Groisman permaneceu no Programa Livre entre 1991 e 1999, quando foi contratado pela Globo.

Com a sua saída, a atração da rede de Silvio Santos ficou no ar em esquema de rodízio de apresentadores, com Ney Gonçalves Dias, Otávio Mesquita, Márcia Goldschmidt, Lu Barsoti e Christina Rocha. A última fase do formato, exibido até 2001, contou com Babi Xavier (foto acima).

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor