A presença de Roberto Carlos em uma trilha sonora é sinônimo de sucesso, tanto para a novela em questão, quanto para o público, que aguarda ansiosamente por uma canção inédita do Rei. Mas nem sempre o casamento entre música e personagem é feliz, o que acaba causando certas rusgas.

Roberto Carlos
Divulgação / TV Globo

Um exemplo de uma união infeliz aconteceu na novela Viver a Vida (2009). Na ocasião, o próprio Roberto pediu à Globo para não executar sua canção para Helena (Taís Araújo), a protagonista da trama escrita por Manoel Carlos.

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Arrependimento

Viver a Vida - José Mayer e Taís Araujo
Divulgação / Globo

O excesso de infelicidade da Helena em Viver a Vida não deixou o Rei satisfeito. Assim, não agradava nada o intérprete ver sua canção, A Mulher Que Eu Amo, tocada para a mocinha.

Segundo fontes ouvidas pelo O Estado de S. Paulo de 26 de novembro de 2009, o cantor estaria arrependido de liberar a composição tema do casal Helena e Marcos (José Mayer).

Roberto Carlos se dizia enganado com o desenrolar da história da protagonista, que num curto espaço de tempo já havia sido traída, passou por uma separação e, até aquele momento, vivia num mar de lágrimas.

Ameaça

Manoel Carlos

Por muito pouco a gravação quase não foi ao ar. É que, apesar de ser inédita para o público, a música já existia antes da história estrear e, ao chegar à Globo, foi separada diretamente para a novela.

Porém, Roberto Carlos não se mostrou feliz com o resultado e manifestou o interesse de regravar a canção e, consequentemente, sua entrada na trilha sonora de Viver a Vida seria afetada.

Só que o cantor acabou sendo convencido de que a música estava ótima e que ela iria embalar um romance daqueles que só Manoel Carlos (foto acima) sabe criar.

Mas, para desgosto de Roberto, o hit passou a embalar as desgraças de Helena e, mais adiante, as de Marcos, o que chateou ainda mais o cantor.

Pouco tempo depois, de acordo com o Estadão de 30 de novembro de 2009, Roberto Carlos pediu à direção da Globo que não tocasse mais A Mulher Que Eu Amo nas cenas de chororô vividas por Helena.

Ainda conforme a publicação, Maneco pretendia ligar para Roberto para falar sobre Viver a Vida.

Já tinha acontecido…

E se engana quem pensa que essa foi a única vez que Roberto Carlos interferiu no destino de uma de suas músicas em novelas da Globo.

Em Por Amor (1997-1998, foto acima), também de Manoel Carlos, o Rei pediu para que a gravação Abrazame Así não embalasse um personagem mau-caráter.

Por causa do pedido, a música serviu como tema do introspectivo Leonardo (Murilo Benício), filho da vilã Branca (Susana Vieira).

Gilberto Gil descontente

Em 2003, outro músico ficou descontente com a presença de uma gravação sua em uma novela do autor. Gilberto Gil não gostou de ver Só Chamei Porque Te Amo, versão em português de I Just Called to Say I Love You, de Stevie Wonder, nas cenas em que a professora Raquel (Helena Ranaldi) era agredida pelo marido Marcos (Dan Stulbach).

A execução da música dentro da trama, que abordava a violência doméstica, aparecia em algumas cenas da novela em que Raquel apanhava do companheiro com uma raquete de tênis. O fato não agradou os representantes da Warner Music, gravadora de Gil.

A Globo procurou Celina Solberg, do departamento jurídico da Warner, mas não teve tempo o suficiente para liberação.

“Houve um equívoco. A Warner não autorizou a Globo. A gente jamais autorizaria uma TV e tocar uma música num contexto desses”, disse Solberg em entrevista à Folha de São Paulo em 26 de abril de 2003.

Gilberto Gil
Reprodução / Web

A assessoria de Gilberto Gil (foto acima) alegou que o ministro não assistia à novela e, por causa disso, não sabia do caso. Em nota, a Globo reconheceu que não obteve a resposta por escrito da Warner, mas ressaltou que eles mantinham um acordo onde a gravadora cedia tudo o que eles pediam, e então eles avaliaram que poderiam usar a música. A Globo afirmou que não a executaria mais dentro da novela.

A partir de então, as cenas que mostravam as sessões de espancamento sofridas por Raquel passaram a ser embaladas por músicas clássicas de diversos compositores.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor