André Santana

O remake de Renascer, que terminará em alguns dias, acabou se mostrando um grande erro da Globo. A emissora se empolgou após o sucesso de Pantanal e errou a mão na empreitada, que tem média de apenas 25 pontos no Ibope.

Juan Paiva e Giullia Buscacio em Renascer
Juan Paiva e Giullia Buscacio em Renascer

Este mesmo resultado faria a direção da Globo arrancar os cabelos até pouco tempo atrás. No entanto, os tempos mudaram.

Mas será que essa nova realidade é definitiva? Os tempos das novelas das nove com alta audiência realmente acabaram? O que houve para que o público dos folhetins tenha encolhido tanto nos últimos anos?

Pandemia

É fato que a meta de audiência da faixa das nove da Globo já vinha caindo desde a última década. Assim como é fato que a comparação por meio de pontos no Ibope não é das mais justas, já que o número de pessoas por ponto se modifica a cada ano. Porém, mesmo assim, a redução do público do horário nobre da emissora é perceptível.

Última novela das nove exibida inteira antes da pandemia da Covid-19, A Dona do Pedaço (2019) anotou 35,9 pontos de média. A trama de Walcyr Carrasco foi considerada um enorme sucesso, até porque sua antecessora, O Sétimo Guardião (2018), foi rotulada como um fracasso ao atingir 28,7 de média.

Depois veio Amor de Mãe (2019), trama que foi interrompida pela pandemia da Covid-19. A primeira parte da novela foi ao ar entre 25 de novembro de 2019 a 21 de março de 2020. Já a segunda fase foi exibida entre 15 de março e 9 de abril de 2021. Somando as duas fases, a trama anotou média geral de 30,8 pontos. Foi a última novela das nove a ultrapassar a marca dos 30 pontos.

“Novo normal”

De lá para cá, a Globo amargou o péssimo resultado de Um Lugar ao Sol (2021), com 22 pontos de média e o ingrato título de novela das nove menos vista da história. Aí veio Pantanal, que, com seus 29,6 foi considerada um sucesso.

Na sequência, Travessia derrubou o horário para 24,2. Depois, Terra e Paixão subiu os números para 26,5. Agora, Renascer se encontra num contexto mais favorável e tudo indica que vai ultrapassar a média da história de Walcyr Carrasco e se aproximar da marca de Pantanal.

Ou seja, depois da pandemia da Covid-19, uma novela das nove que registra entre 25 e 30 pontos já não é considerada um fiasco na Globo. Curiosamente, a faixa das seis e das sete também registraram uma perda de fôlego após a pandemia, mas a faixa das nove foi mais prejudicada.

Fim dos sucessos arrebatadores?

É válido ressaltar que, mesmo com o público menor, a novela das nove da Globo ainda é o programa mais visto da televisão brasileira e se mantém numa confortável liderança de audiência. A repercussão e o faturamento também seguem entregando bons resultados.

Mas, ao que tudo indica, um sucesso arrebatador nos moldes de Avenida Brasil (2012) ou Senhora do Destino (2004) dificilmente será repetido. E são vários os motivos que ajudam a explicar isso.

A pandemia modificou o hábito de muita gente. Além disso, o streaming cresceu e as plataformas de vídeo, como YouTube e Netflix, já ocupam a segunda colocação no ranking da audiência e são os atuais grandes concorrentes da Globo.

Mas também é fato que já faz um bom tempo que uma história inédita não demonstra potencial para arrebentar. É notória a dificuldade da Globo de repor os grandes medalhões que conheciam como poucos os gostos do público do horário. Não por acaso, os últimos sucessos do horário nobre são remakes.

Ou seja, aquelas novelas que concentravam a atenção de todo o público ficaram no passado. A televisão mudou e o público também. Vamos ver se Mania de Você e Vale Tudo vão conseguir reverter essa tendência.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor