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De volta pela terceira vez à televisão, agora no Canal Viva, Laços de Família foi um celeiro de polêmicas durante suas exibições. As manifestações públicas causaram uma verdadeira novela paralela nos bastidores da trama originalmente transmitida em 2000 na Globo.
O Ministério Público chegou a retirar durante algumas semanas menores de idade do elenco. A Igreja Católica rejeitou um pedido da emissora para gravar cenas de um casamento em uma igreja por discordar dos valores apresentados na história. E até os telespectadores se estranharam com a obra.
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A pior de todas as controvérsias veio do Ministério Público (e da Vara da Infância e da Juventude). Naquele ano de 2000, a Portaria 796, que regia novas regras para veiculação de programas televisivos causou histeria nas emissoras. Semanas após sua publicação, vieram as consequências: com exceção de Malhação e de O Cravo e a Rosa, absolutamente todas as novelas no ar àquela época na Globo enfrentaram processos judiciais por suposta exibição de conteúdo impróprio.
Exigia-se rigor na reedição de A Próxima Vítima, cartaz do Vale a Pena Ver de Novo; suspensão de cenas de nudez em Uga Uga, então trama das 19 horas; e que o horário de Laços de Família fosse alterado para às 21 horas.
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A Globo recorreu da ação, sem sucesso. A liminar, concedida por Siro Darlan (foto acima), à época juiz da 1ª Vara de Infância e da Juventude, além de forçar a alteração do horário da novela, obrigou a saída do elenco juvenil da trama. A atitude causou indignação em segmentos ligados à dramaturgia televisiva, como a ABERT (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) e a ARTV (Associação dos Roteiristas).
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No caso de Laços, o processo foi causado especialmente por conta do episódio em que a menina Larissa Honorato, que fazia o papel de filha de Clara (Regiane Alves) e Fred (Luigi Baricelli), chorou e se assustou durante a gravação de uma cena de discussão do casal, em que a criança ficava no braço da mãe durante o bate-boca. O próprio autor reconheceu o erro e passou a evitar escrever sequências semelhantes. A menina, que não havia se adaptado às gravações, foi trocada por Júlia Magessi.
A suspensão do elenco infantil causou impactos diretos na história. O casamento de Edu e Camila não teve nenhuma criança. A madrinha do casamento, Estela (Júlia Almeida, filha do autor, à época com 17 anos), só apareceu na cena de costas, substituída por uma dublê.
Nos flashbacks que envolviam o passado de Helena, a atriz Lilian Mattos teve que ser substituída às pressas por Adressa Koetz. O filho de Capitu foi trocado em algumas cenas por um boneco e em seguida foi para uma creche de tempo integral. Raquel (Carla Diaz), filha de Ivete (Soraya Ravenle) foi despachada pra uma colônia de férias e o adolescente Fábio (Max Fercondini) foi exilado para os Estados Unidos.
Dias após a proibição, Manoel Carlos conseguiu por meio de um mandado de segurança manter sua filha na história. Inúmeras tentativas de trazer os menores de volta foram feitas ao longo do mês de novembro de 2000. Mas só na tarde do dia 7 de dezembro do mesmo ano, após o pedido do canal ao MP do Rio ter sido acatado, os menores puderam voltar à história.
Estranhamento com a Igreja Católica
A instituição religiosa reprovava os valores que a novela mostrava. Por ir contra seus preceitos, os pedidos da Globo para gravar as cenas do casamento de Camila (Carolina Dieckmann) e Edu (Reynaldo Gianecchini) na igreja do Outeiro da Glória foram recusados pela Cúria Metropolitana.
Diante da negativa, a emissora resolveu recorrer à capela de São Pedro da Alcântara, localizada nas imediações da UFRJ. Ao saber disso, a Arquidiocese do Rio de Janeiro ameaçou deixar o local inabilitado para qualquer ato religioso (não seria mais possível realizar missas ou casamentos, por exemplo) se as cenas fossem veiculadas. Para evitar essa sanção, a Globo descartou o material e refez as filmagens na igrejinha cenográfica do Projac.
Rounds com o público e a sociedade
A personagem Capitu, vivida por Giovanna Antonelli, gerou fortes discussões com os telespectadores da novela.
Um lado apoiava a forma que ela era abordada, já que a imagem da moça ajudava a diminuir os estigmas que envolviam o mundo das garotas de programa, considerando que ela não era uma maníaca sexual malvada e louca por dinheiro. Capitu se prostituía para ajudar a pagar as contas de casa. No entanto, para a outra parte da plateia, essa abordagem estimulava meninas incautas a caírem no mundo da profissão mais antiga do universo.
Ainda com o público, outro bafafá foram os beijos tórridos entre Edu (Reynaldo Gianecchini) e Helena (Vera Fischer). A alta voltagem das carícias do casal naquele momento da trama instigou o pessoal de casa. Sem falar na irritação causada por Camila (Carolina Dieckmann), vista como mimada e traíra, ou melhor, “judas”, como era caracterizada nas inúmeras discussões com Íris (Deborah Secco). Camila, porém, conseguiu atrair estima popular após descobrir que tinha leucemia no terço final da trama.
O cantor João Gilberto não gostou nada de ver sua música, “Corcovado”, na abertura da novela, chegando a estudar a possibilidade de processar a emissora pelo uso da canção. Mas, caso seguisse adiante, teria que processar a Universal Music, dona do selo americano Verve, que licenciava a composição. O contrato que os artistas assinavam com ela permitia que a empresa liberasse músicas para trilhas sonoras.
Com o Ministério da Justiça, a polêmica foi de forma indireta. Naquela época, assim como ocorria até 2007, a classificação indicativa das novelas eram dadas pela análise de sua sinopse (não havia o monitoramento do conteúdo como acontece hoje), utilizando por muitas vezes de justificativas subjetivas como desvirtuamento de valores éticos ou da família para sustentar uma recomendação, diferente do que acontece hoje, cujos critérios são objetivos e com sentido concreto. Na primeira análise da sinopse, Laços de Família foi considerada como imprópria para menores de 14 anos.
A Globo, por meio de um termo de compromisso, conseguiu fazer com que fosse alterada para 12 anos. Mais adiante, logo após a controversa Portaria 796 ter sido baixada pelo órgão e por ordem do Ministério Público (o MJ nada teve a ver com isso, apenas acatou a determinação do MP), a trama foi obrigada a ser veiculada às 21 horas, passando a ser indicada para 14 anos.
A história de Manoel Carlos passaria a ser a primeira novela “das oito” com esta faixa etária. Até então, as tramas eram veiculadas como 12 anos – ainda que a análise de suas sinopses sugerisse classificação livre algumas vezes (casos como os de Explode Coração, Por Amor, O Rei do Gado e, até mesmo, A Próxima Vítima).
Nem mesmo a reprise da novela no Vale a Pena Ver de Novo escapou de estresses. No final de 2004, o STJ não permitiu sua veiculação antes das 21 horas. No entanto, a emissora programou a trama para a faixa vespertina mesmo assim, já que no ano de 2003, por meio de um termo de compromisso, havia conseguido classificação livre para Laços de Família.
Questionado pelo MP, o Ministério da Justiça respondeu que se tratava de uma “obra nova”, que seria reeditada para reprise, e que nada tinha a ver com o produto original. Ainda declarou que não havia como suspender a reclassificação para análise de material pela iminência do início da reprise. Assim, a novela pode seguir em paz sua passagem pelas tardes a partir de fevereiro de 2005.
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