A pandemia do coronavírus implicou no cancelamento das gravações de todos os produtos de teledramaturgia da Globo. A atitude da emissora se mostrou consciente e as concorrentes até imitaram pouco tempo depois. Pela primeira vez na história apenas reprises preenchem a grade. A única programação do entretenimento de fato inédita era o “BBB 20”, mas o reality acabou há mais de um mês e o público ficou “órfãos” de novidades. Para tentar fugir de tantas reexibições, o canal optou pela exibição na íntegra de “Aruanas”, uma das séries mais elogiadas da Globoplay e até então exclusiva do streaming, com um novo episódio toda terça-feira.

A campanha da série teve uma divulgação histórica em 2019, pois houve um lançamento simultâneo no Brasil (através da Globoplay) e em mais de 150 países. Afinal, a temática é de interesse mundial: três amigas de infância são envolvidas em uma organização não governamental que investiga crimes ambientais na Amazônia. O próprio título da produção explica a vida do trio protagonista. “Aruanas” é uma palavra de origem tupi que significa “Sentinelas da natureza”. E o êxito no streaming da Globo foi tão grande que uma segunda temporada foi encomendada e as gravações estavam agendadas para o segundo semestre de 2020. Agora, claro, fica difícil saber sobre o futuro diante da pandemia.

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Ativismo, preservação, sustentabilidade e direitos indígenas fazem parte do DNA da história, que prende o telespectador logo no primeiro episódio através de um thriller ambiental muito bem estruturado. O clima de suspense não demora a aparecer, fisgando o telespectador.

Uma parcela da sociedade considera todas as questões que envolvem a preservação da Amazônia “chatas” e por isso os roteiristas foram inteligentes no desenvolvimento do enredo, evitando o tom panfletário que a temática poderia provocar. Conseguiram colocar uma ótima ficção a serviço de algo de extrema importância.

Na trama, Luiza (Leandra Leal), Natalie (Débora Falabella) e Verônica (Taís Araújo), fundadoras da ONG Aruanas, investigam uma sucessão de pedidos de socorro, denúncias anônimas e massacres de povos indígenas vindas da fictícia Cari, no interior da Amazônia. O resultado das investigações aponta para um grande esquema criminoso patrocinado por uma mineradora. O trio se empenha em denunciar todos os envolvidos e acaba diante de situações cada vez mais perigosas. No primeiro episódio, Luiza acha o corpo de um informante dentro do porta-malas de seu carro e percebe a armação para incriminá-la. O crime intimidador é que motiva a coragem das protagonistas. As atrizes estão irretocáveis, o que nem é uma surpresa. Leandra se destaca na pele da ativista mais irresponsável, enquanto Taís brilha interpretando uma advogada que representa o pilar mais rígido do time. Já Débora mais uma vez mostra seu talento, agora como uma jornalista respeitável que luta pelo bem do planeta e sofre com a perda de um filho.

O trio central ainda ganha a ajuda de Clara (Thainá Duarte), estagiária recém-chegada, mas com o mesmo empenho que elas. Aos poucos, as personagens vão descobrindo todos os podres da empresa e as tentativas de camuflagem das consequências provocadas no meio ambiente e na população local, onde vários se viram doentes (com sérios problemas neurológicos) em virtude dos produtos da mineradora jogados na água. Os poucos que se interessam em falar acabam mortos ou ameaçados no dia seguinte. O enredo eleva a tensão à medida que as investigações avançam e instiga o telespectador. Como produto da Globoplay, foi o mais eficiente em motivar quem assistiu a ‘maratonar’ os episódios rapidamente. Mais até do que a elogiada “Assédio”. A reta final, então, é eletrizante.

No posto de antagonistas estão Luiz Carlos Vasconcelos e Camila Pitanga. Ele vive o ambicioso Miguel, empresário dono da mineradora KM; e ela interpreta a ambiciosa Olga, lobista que atua no sentido de neutralizar as ações da “Aruanas” através de políticos influentes e contatos poderosos. Os dois estão ótimos como vilões sem escrúpulos —- a cena em que os personagens transam, bebem e cheiram cocaína, ao som de “O Que Se Cala” (de Elza Soares), é genial. Vale citar, ainda, o bom artifício do roteiro para humanizar um pouco o canalha que planeja desmatar uma reserva para extrair ouro: a neta deficiente. O elenco ainda conta com outros bons nomes, como Cláudio Jaborandy, Vitor Thiré e Gabriel Falcão.

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Escrita por Estela Renner e Marcos Nisti, com colaboração de Pedro Barros, “Aruanas” é uma produção de alto nível. Dirigida por Carlos Manga Jr. e direção geral de Estela, a série —- que contou com a consultoria do Greenpeace e o apoio de 28 organizações de direitos humanos e ambientais —-aborda um tema extremamente atual de forma brilhante. Um entretenimento informativo. Vale muito a pena.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor