Artista trans foi xingada durante gravação da Globo: “Aberração”
12/11/2024 às 8h15
Não é de hoje que Gloria Perez é conhecida por tratar de temas sensíveis e de grande importância social em suas novelas, principalmente a diversidade, como fez recentemente em Travessia. A trama contou com a presença de Divina Valéria e Wesley (Gero Camilo), que entraram na reta final.
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Mas, em sua novela anterior, A Força do Querer (2017), a autora teve a brilhante ideia de abordar especificamente a diferença entre a uma pessoa transexual, representada por Ivana (Carol Duarte), e uma travesti, vivida por Elis Miranda (Silvero Pereira).
E assim, diversas personalidades foram convidadas a participar da novela, como a saudosa Jane di Castro (1947-2020), que causou logo em sua primeira cena na trama.
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Retorno à televisão
Humberto Martins em A Força do Querer (reprodução/Globo)Na trama, Jane di Castro foi a primeira trans a aparecer no núcleo de Elis Miranda, que, durante o dia, era Nonato, motorista de Eurico (Humberto Martins).
A transformista comemorou a chegada e a definiu como “engraçada e polêmica”, em uma entrevista concedida ao Notícias da TV, em 19 de julho de 2017.
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“Vai ser engraçado e polêmico. Já decorei as três primeiras cenas que farei”, disse ela, na época.
“Com a participação na novela, faço a coroação de um momento em que me vejo vitoriosa pela minha arte. Fui pioneira, e hoje sou respeitada como transexual”, declarou ela.
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“Que aberração é essa?”
A artista foi xingada em uma cena exibida em 3 de maio de 2017, onde Eurico atravessa a rua sem olhar e acaba quase atropelado por sua personagem. Os dois, então, entram em uma discussão acalorada e é nesse momento que o empresário solta uma frase preconceituosa.
“Só podia ser mulher”, diz ele ao dar um soco no carro.
Com voz masculina, Jane di Castro rebate:
“Bate de novo, bate?”.
“Que aberração é essa?”, dispara o marido de Silvana (Lília Cabral) ao perceber que se tratada uma mulher transexual.
Pioneira no movimento
Jane, que já havia participado de outras novelas de Gloria Perez no horário nobre, como Explode Coração (1995) e Salve Jorge (2012), comemorou que sua participação seria maior e ainda mais importante do que nas outras oportunidades, afinal, o folhetim abordou uma causa da qual ela lutou desde a década de 1960.
“Minha geração abriu caminho, apanhou nas ruas. Vamos falar do preconceito que os trans sofrem em uma novela. Isso é um evento para as transexuais e um debate importantíssimo”, comemorou.
Nascida Luiz di Castro, filha de um pai militar e uma mãe evangélica, a artista lutou desde cedo e foi um dos nomes pioneiros da comunidade LGBTQIAP+ no Brasil e ficou conhecida também por criar o espetáculo Divinas Divas — que se tornou um documentário dirigido por Leandra Leal.
Jane di Castro morreu aos 73 anos, vítima de câncer em 23 de outubro de 2020. Ela estava internada há dias no Hospital Ipanema, no Rio de Janeiro e não resistiu às complicações da doença.