Nilson Xavier

A atriz Giovana Cordeiro tem chamado a atenção do público como a esperta Xaviera da novela Mar do Sertão. A personagem foi amante de Tertulinho (Renato Góes) na primeira fase da trama. Preterida, Xaviera agora está aliada a José Mendes/Zé Paulino (Sérgio Guizé), arqui-inimigo de seu caso do passado.

Carismática, Giovana Cordeiro está muito bem na pele da sedutora, interesseira e debochada Xaviera, um papel bom, forte e de fácil assimilação pelo público. Impossível não afeiçoar-se a Xaviera! A personagem, entretanto, não seria de Giovana. Jéssica Ellen foi a primeira escalada para vivê-la, mas a atriz descobriu-se grávida e ficou fora da novela.

Substituições de última hora, em que um ator é chamado de repente e acaba roubando a cena, são comuns em nossa Teledramaturgia.

Relaciono 10 novelas em que novos intérpretes fizeram sucesso com seus personagens.

Confira:

Escalada (1975)

A atriz Camila Amado foi inicialmente escolhida para viver Cândida, uma das protagonistas, porém, depois de aproximadamente 30 cenas já gravadas, o diretor Régis Cardoso, insatisfeito com o resultado, pediu a substituição. No lugar de Camila, entrou Susana Vieira, que já estava no elenco, com outra personagem, Celina, de menor importância na trama.

Com o desempenho de Susana e o sucesso da personagem, Cândida tornou-se o primeiro grande papel da atriz na Globo e seu passaporte para, no ano seguinte, protagonizar a novela Anjo Mau, como a inesquecível babá Nice.

O Astro (1977-1978)

O Astro

O ator Stepan Nercessian foi inicialmente escalado para viver Márcio Hayalla, um dos protagonistas. Porém, o diretor Daniel Filho acabou substituindo-o por Tony Ramos, que ainda estava no ar na novela anterior no horário, Espelho Mágico (sua estreia na Globo), em que vivia um coadjuvante.

A pedido de Daniel, Tony aceitou fazer de improviso os testes com atrizes que se candidatavam ao papel de Josy, um dos amores do personagem Márcio. Tony, que não estava sendo testado, acabou entusiasmando o diretor. Stepan ficou com outro personagem, Alan. Márcio Hayalla foi o primeiro grande papel de Tony na Globo e fez do ator o mais novo galã da casa.

Dancin´ Days (1978)

dancin days joana fomm

Às vésperas da estreia da novela, várias cenas tiveram de ser regravadas com Joana Fomm substituindo Norma Bengell no papel da vilã Yolanda Pratini. Norma já era, inclusive, anunciada nas chamadas de estreia. Bengell não conseguiu adaptar-se ao ritmo das gravações. A saída foi trocar a atriz.

Joana Fomm teve uma semana para gravar 18 capítulos substituindo Norma. Anteriormente, a atriz estava escalada para viver Neide, uma empregada. Com a substituição, Regina Viana foi convocada para o papel de Neide.

Baila Comigo (1981)

Fernanda Montenegro foi inicialmente convidada pelo autor Manoel Carlos para viver o papel de Helena, uma das protagonistas. Contudo, a direção preferiu escalar Lílian Lemmertz para a personagem. Em função disso, Maneco criou uma personagem especial para Fernanda: a atriz Silvia Toledo, coadjuvante na trama.

Ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes), Maneco narrou outra versão: a personagem Silvia já existia, Fernanda Montenegro preferiu abrir mão da protagonista para viver a coadjuvante e só depois Lílian Lemmertz foi convidada.

Kananga do Japão (1989-1990)

Kananga do Japão

A TV Manchete teve grande dificuldade em escalar a atriz para viver Dora, protagonista da novela. Maitê Proença foi a primeira cogitada para o papel. Bruna Lombardi e Vera Fischer estudaram uma proposta da emissora, mas as negociações não avançaram. Cláudia Raia e Glória Pires recusaram.

Quando a direção pensou em lançar uma nova atriz, a estreante Cristiana Oliveira, o papel ganhou finalmente uma intérprete de peso, Christiane Torloni, enquanto Cristiana ficou com outro papel, menor, a jovem judia Hannah.

Pantanal (1990)

Pantanal

Carlos Alberto foi o primeiro escalado para viver Zé Leôncio, na segunda fase da trama. Porém, o ator sofreu uma queda de cavalo, ainda no início das gravações, e o fato acabou por impossibilitá-lo de continuar no projeto. O papel era muito grande e as gravações não podiam ser paralisadas para que ele se recuperasse.

Assim, Cláudio Marzo, que já estava escalado, como o Velho do Rio, assumiu o segundo personagem, Zé Leôncio. Por isso, diferentemente do que acontece no remake da Globo, os dois personagens foram vividos pelo mesmo ator na produção da Manchete.

Quatro por Quatro (1994-1995)

Nenhuma das quatro atrizes protagonistas foi a primeira escolha. Eliane Giardini seria Auxiliadora, mas a alta diretoria julgou que a atriz ainda estava “verde” para o papel. Elizabeth Savala entrou em seu lugar. Para Tatiana, o autor Carlos Lombardi queria Malu Mader, mas a Globo a reservou para outra produção. Cristiana Oliveira substituiu Malu.

Para a dondoca Abigail, a escolha inicial era Bruna Lombardi, mas o autor insistiu em Betty Lago, ainda com pouca experiência como atriz, portanto uma aposta arriscada. Betty revelou o timing perfeito para comédia e foi um grande sucesso.

Adriana Esteves foi a primeira convidada para Babalu, mas recusou já que recuperava-se de uma depressão (sofrida por causa das críticas por sua atuação em Renascer, no ano anterior). Letícia Spiller, que estava escalada para outra personagem, Eduarda, assumiu Babalu, enquanto Luana Piovani foi acionada para viver Eduarda.

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A Próxima Vítima (1995)

A Próxima Vítima - Susana Vieira

Silvio de Abreu criou a personagem Ana para Regina Duarte, mas a atriz foi reservada para a próxima novela das seis, História de Amor. O autor precisou então fazer mudanças de perfil para adequar a protagonista à nova intérprete escalada, Susana Vieira.

Caso semelhante ocorreu com a substituição de Fernanda Montenegro por Rosamaria Murtinho para viver Romana, uma das irmãs Ferreto. Fernanda chegou a aparecer nas primeiras chamadas de estreia. Inicialmente, a personagem seria mais velha e enérgica, e menos romântica. Como Romana só entraria na trama pela metade, a troca de atrizes ocorreu durante a novela.

Paraíso Tropical (2007)

Gilberto Braga criou a trama central pensando em Cláudia Abreu para viver as gêmeas protagonistas, Taís e Paula. Porém, a atriz engravidou quando as gravações estavam prestes a começar e acabou substituída por Alessandra Negrini.

Os intérpretes do casal de maior sucesso da trama, Olavo e Bebel, seriam outros. Para o vilão Olavo, o autor convidou Selton Mello, que não aceitou. Wagner Moura ficou com o personagem que marcou sua passagem pela televisão.

Mariana Ximenes foi o primeiro nome pensado para a prostituta Bebel, personagem que ficou a cargo de Camila Pitanga:

Sempre achei que ela [Mariana] faria bem uma cachorra tipo Laura. (…) Eu achava que a Camila Pitanga não era capaz de fazer a Bebel porque não é safada. E não é mesmo, é boa moça. (…) Até interpretar a Bebel, ela tinha vergonha de mostrar o peito e ninguém sabia que ela tinha a bunda grande, porque ela se veste de um jeito elegante, que disfarça o bundão.”

Insensato Coração (2011)

Insensato Coração

Dois dos atores protagonistas escalados – Ana Paula Arósio e Fábio Assunção – foram substituídos quando várias cenas já haviam sido gravadas. Arósio faltou às gravações em mais de uma oportunidade, e, tendo acumulado ainda vários atrasos, acabou desligada da produção e rompeu com a Globo. Paolla Oliveira a substituiu no papel de Marina.

Fábio Assunção, em recuperação por dependência química, faltou dois dias de gravação após os trabalhos em Florianópolis já terem se encerrado. Convocado para uma reunião emergencial, o ator foi desligado da novela. Gabriel Braga Nunes entrou em seu lugar e destacou-se no papel do vilão Léo.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor