A ascensão meteórica de um artista tem benefícios e malefícios. Ingra Lyberato, que brilhou na primeira fase de Pantanal (1990) e foi alçada, logo em seguida, à protagonista de A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990), sentiu na pele o peso do sucesso.

Ingra Lyberato

Ela preferiu abrir mão da televisão, partindo para uma atividade completamente diferente. A atriz passou por um processo de autoanálise, convertido em livro – uma forma de ajudar outros profissionais com sua experiência.

O auge da carreira

Pantanal - Ingra Lyberato

Filha de cineastas, Ingra Lyberato estreou na TV fazendo pequenas pontas. Na primeira fase de Tieta (1989), clássico da Globo, ela respondeu por Tonha – posteriormente defendida por Yoná Magalhães.

Em 1990, a atriz foi contratada pela Manchete para viver Madeleine, uma das personagens mais importantes da etapa inicial de Pantanal. O êxito no folhetim de Benedito Ruy Barbosa levou ao convite para Ana Raio, na trama seguinte.

Medo do sucesso

Ingra Lyberato

Apesar da boa repercussão deste trabalho – no qual dividiu o protagonismo com Almir Sater –, Ingra sentia-se mal. A repercussão da novela acabou assustando a atriz, que, insegura, passou a se questionar.

“Sempre que eu estava em um projeto de grande visibilidade, me dava muito receio de dar o próximo passo. Ana Raio, por exemplo, foi um estouro que eu não esperava. Comecei a fazer teatro por acaso, não tinha na cabeça essa coisa de buscar a fama, como tantos têm hoje”, explicou ela ao Notícias da TV, em 31 de agosto de 2018.

“Foi tudo muito rápido, e eu não dei conta mesmo”, admitiu.

Refúgio no campo

Ingra Lyberato

Ingra Lyberato seguiu na telinha, em trabalhos esporádicos. Ela passou por Quatro pro Quatro (1994) e A Indomada (1997), na Globo, antes de seguir para a Record. Por lá, a atriz brilhou como Soninha 38, a bandida que tocava o terror no presídio feminino onde parte da trama de Louca Paixão (1999) se desenvolvia.

Após a volta à Globo, em O Clone (2001), ela estrelou outros dois trabalhos na Record: Essas Mulheres (20050 e Balacobaco (2012).

Porém, durante determinado período, Lyberato preferiu afastar-se dos holofotes e assumir a criação de cavalos. Foram quatro anos dedicados a este trabalho.

“Mas hoje eu vejo que não precisava ter abandonado a atuação. Percebi que nós damos desculpas que parecem muito plausíveis para não nos expandirmos, mas se olharmos para dentro, vamos perceber que tudo não passa de medo”, confidenciou a artista, também de renome no meio que escolheu batalhar, enquanto ausente da TV.

Autoanálise e volta ao vídeo

Ingra Lyberato

Após se libertar do medo, Ingra Lyberato lançou o livro O Medo do Sucesso, onde relata que este sentimento é mais comum do que ela própria imaginava.

“Não é só para atores, é algo que pode acontecer em qualquer área. Até na vida pessoal. Se um namoro começa a dar certo, a pessoa vê que está muito feliz, passa a se sabotar, criar dúvidas”, relatou ao Notícias da TV.

Em 2018, Ingra Lyberato decidiu retomar a carreira. Ela procurou a produtora de elenco de Segundo Sol (2018) e se colocou à disposição.

“Eu fiquei 11 anos fora do Rio, voltei há uns cinco e não conhecia mais ninguém do mercado. Então corri atrás mesmo, sem vergonha. Sempre tive esse hábito, se vejo um projeto que me interessa, costumo procurar autor, diretor… Quando a Fátima surgiu, me chamaram para fazer o teste e passei. Foi ótimo”, celebrou.

Longe da telinha desde que participou do folhetim bíblico Gênesis (2021), a atriz de 55 anos – mãe de Guilherme, fruto de seu relacionamento com Duca Leindecker – fez uma reflexão sobre a maturidade que o passar do tempo lhe trouxe.

“Minha vida tem mais sentido hoje. Continuo sem saber muito, mas agora sei o suficiente para confiar no plano maior e só colocar minha energia onde realmente vai fazer a diferença. Sofro menos. Fiz as pazes com o medo e parei de projetar no outro minhas sombras e dificuldades”, declarou à revista Ana Maria, em 31 de julho deste ano.

“Isso facilita demais a vida. Hoje sinto que estou andando para frente. Mudei o foco e o medo da morte e da velhice diminuíram. Não estou aqui para ser eternamente jovem e bela”, concluiu.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor