Apresentadora foi demitida após revelar segredo: “Não me conformo”
23/03/2022 às 11h08

A MTV Brasil foi responsável por lançar muitos talentos da nossa televisão e alguns, até hoje, estão no ar em diferentes emissoras. Soninha Francine foi uma das apresentadoras que mostrou o seu talento no extinto canal musical.
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O primeiro cargo de Soninha foi assistente de produção, depois chegou a ser redatora, diretora e VJ . Mostrava interesse não apenas pela música, mas também pelas questões sociais e do cotidiano do jovem.
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Assim, ganhou espaço e, aos poucos, conquistou o público jovem. Durante 12 anos, ela permaneceu na MTV e depois saiu da emissora para apresentar um programa na TV Cultura.
A emissora pública de São Paulo colocou no ar o programa RG, que levava ao palco jovens e adolescentes para debater assuntos de todos os tipos, com entrevistas e músicas. Falando de forma direta e clara, a atração era uma tribuna livre para uma juventude que cada vez mais conquistava o seu espaço na TV. Mas a liberdade não era total, inclusive para a apresentadora.
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Capa de revista
Em novembro de 2001, a revista Época – que já não existe mais – soltou uma capa controversa: “Eu fumo maconha”. Era o título da matéria que estampava a foto de Soninha Francine ao lado de um empresário, um advogado e do cartunista Angeli.
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A reportagem criou polêmica ao trazer depoimentos abertos sobre o uso da erva, com destaque para uma apresentadora de um programa jovem. Na entrevista, ela foi profética:
“Infelizmente, muitos vão entender errado e achar que passei a ser um modelo negativo”, enfatizou.
A direção da TV Cultura decidiu demitir Soninha na mesma semana da publicação. Isso causou revolta entre colegas da apresentadora, que viram nesse ato perseguição e discriminação.
“Eu aceitei participar da reportagem, mas disse que não era um bom exemplo porque fumo muito eventualmente. Sei que é um crime e não sou marginal, não compro nem quero financiar o tráfico. Eu faço trabalhos comunitários em favelas e vejo como a classe média sustenta esse crime”, declarou Soninha ao jornal O Globo.
A emissora soltou uma nota explicando o motivo de ter desligado sua funcionária.
“Não podemos permitir a manifestação pública, por seus funcionários e colaboradores, de práticas atentatórias às leis vigentes no País”.
Política
O caso teve ampla repercussão da mídia e foi parar na política. O então deputado federal Fernando Gabeira (PT-RJ) afirmou que abriria um processo interno na Câmara exigindo explicações da TV Cultura sobre o fato.
Em entrevista à Folha, ela disse que não gostou da forma como a revista abordou o tema.
“Só me arrependi de não ter perguntado o que seria feito com minha foto, e se eu seria capa da revista. Antes mesmo da demissão, já havia me arrependido disso. Até agora eu não me conformo. Vejo a capa e fico constrangida. Não posaria para uma foto dizendo ‘eu fumo’ nem que isso fosse permitido por lei”, desabafou.
No início dos anos 2000, esse assunto foi um tabu entre jovens e adultos, e o debate era no mínimo sobre o uso da maconha. Desde 2006, não existe prisão ou reclusão para quem fuma a droga.
Soninha enveredou para a política e tornou-se vereadora por São Paulo por dois mandatos, sendo também Secretária de Assistência Social de São Paulo.
Candidatou-se duas vezes para a prefeitura da capital paulista, sem sucesso. Longe da TV, hoje ela segue firme e atuante na política, sempre de olho nas questões sociais.