Apresentador recusou prêmio da Globo: “Não gosto de passar por tolo”
17/02/2022 às 15h00
Se houve na televisão brasileira uma figura polêmica foi o estilista e apresentador Clodovil Hernandes. Sem papas na língua, ele não perdoava ninguém e emitia suas opiniões firmes, qualquer que fosse a emissora onde estivesse. Sobrou até mesmo para um programa de perguntas e respostas.
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No final dos anos 1970, a Globo lançou o programa Oito ou Oitocentos, apresentado pelo ator Paulo Gracindo.
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A atração recebia um competidor que escolhia um assunto de seu domínio e respondia perguntas variadas feitas pela produção. A cada semana, o participante ganhava de 20 a 80 mil cruzeiros, até chegar ao prêmio máximo, de 800 mil cruzeiros.
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Clodovil decidiu participar do programa para mostrar que não entendia apenas de moda, mas era expert também em outros assuntos.
Ele respondeu perguntas sobre Dona Beja, personalidade do século XIX, foi muito bem nas perguntas feitas por Paulo Gracindo e acabou como o grande vencedor, levando o prêmio máximo para casa. Mas nem tudo saiu conforme mandava o figurino.
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Ao retirar o valor da Caderneta de Poupança Delfin, famosa instituição financeira na época e patrocinadora do programa, ele notou que só tinha direito a Cr$ 566 mil, porque 30% da premiação ficaram retidos na fonte pelo imposto de renda.
Indignação
Indignado, Clodovil não aceitou receber o dinheiro, mesmo com a insistência do gerente da agência.
“Ou mudam o nome do programa para 8 ou 566 mil, ou fica, assim, uma situação meio godê: sujeita a pontas. Não transo com dinheiro. Tenho gente que faz por mim. A emissora foi limpa e correta; o problema é com a Delfin. Não gosto de passar por tolo. Não vou aceitar, não quero. Se não pagarem os Cr$ 800 mil redondos, vai ficar tudo lá na Delfin”, desabafou Clodovil ao Jornal do Brasil.
Ronald Guimarães Levinsohn (foto abaixo), fundador da Delfin, afirmou que o estilista não conseguiria fugir do leão.
“A Delfin é meramente receptora do depósito. Se a TV Globo pagasse ao costureiro Cr$ 800 mil mais os 30% devidos ao Imposto de Renda, tudo certo. Nesse caso, Clodovil pagaria ainda mais, porque teria que pagar impostos de 30% sobre toda a quantia recebida, pois, segundo o Direito Tributário, é obrigação do beneficiado o pagamento dos impostos sobre prêmios”, explicou.
Mesmo com todas essas explicações, Clodovil não mudou de ideia e se recusou a aceitar a premiação do programa.
“Eu não assinei nada, não recebi o dinheiro e não me interesso por ele. Minha advogada é que vai resolver a questão. O que me interessa é mudar a imagem do figurinista brasileiro, por isso fui responder sobre Dona Beja”, esbravejou.
Se ele pegou o dinheiro ou não, ninguém sabe, mas esse fato é apenas mais uma polêmica na carreira de Clodovil, que passou pelas emissoras Globo, Manchete, Band, CNT, Gazeta e RedeTV! e mostrou todo o seu talento como apresentador, com suas opiniões firmes e fortes.
O estilista entrou para a política em 2007, quando foi eleito deputado federal por São Paulo.
Clodovil morreu em 17 de março de 2009, aos 71 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral.