Flávio Cavalcanti sempre foi conhecido por ser um apresentador polêmico e que falava tudo o que pensava, sem hesitar. Ele fez um enorme sucesso e chegou a incomodar o Fantástico nas noites de domingo.
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Além de ser firme em suas posições, Flávio também defendia sua equipe com unhas e dentes, protegendo todos o que estavam em sua volta. E tudo isso chegou a custar uma casa…
A TV Tupi, primeira emissora do país, passava por sérias dificuldades na década de 1970 – atraso de salários e falta de verba eram os símbolos da má gestão que o canal enfrentava.
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Mesmo com programas e novelas de grande sucesso, nada desenrolava a Tupi. Pelo contrário: a estação não faturava e, consequentemente, não pagava os vencimentos de seus funcionários.
A casa “no prego”
A equipe do programa de Flávio Cavalcanti foi afetada e deixou de receber o salário. O apresentador valorizava muito sua produção e não queria deixar ninguém na mão, muito menos que sua atração saísse do ar por conta das greves. Assim, ele resolveu hipotecar sua mansão em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro.
Na época, o valor do imóvel era de 14 milhões de cruzeiros, o que hoje giraria em torno de 5 milhões de reais. A casa luxuosa era o refúgio do artista em seus dias de descanso. Ele usou esse dinheiro para pagar todos os funcionários que cuidavam de seu programa. João Calmon, um dos diretores da Tupi, afirmou que toda aquela situação era passageira e prometeu que ele iria receber o valor para sanar a dívida.
O calote da Tupi
Flávio esperou o dinheiro prometido por Calmon, mas não recebeu nenhum sinal de que seria pago. Isso acabou revoltando o apresentador, que aderiu à greve dos funcionários e tirou o seu programa do ar, o que acarretou um buraco na programação do canal.
Cavalcanti esperou que tudo fosse resolvido, mas a verdade foi que o governo militar cassou a concessão da Tupi. A emissora saiu do ar no dia 18 de julho de 1980. Muitos funcionários ficaram sem receber os valores de salários e indenizações.
Expulso do próprio paraíso
O banco tinha pressa em receber o valor que o apresentador pegou e acabou ficando com a mansão de Petrópolis. Flávio Cavalcanti Júnior relata, no livro Senhor TV, como foi o momento da entrega da casa ao banco:
“Todos os três filhos, o genro e a nora participaram da amarga reunião em que assinamos os documentos de entrega da casa. Pouco se falou, cada um de nós derramou sua lágrima de dor pela perda imensa. E essa dor era tremendamente amplificada no coração do meu pai. Ele nunca se conformou em perder a casa que tanto amara, localizada na rua que levava o seu nome, em sua homenagem. Lá ficou seu famoso e adorado viveiro, lá ele deixou a capela que construiu para o batizado dos netos e a adega, onde reunia os mais chegados. Flávio, meu pai, não perdeu uma casa naquele dia – muito mais que isso, ele se sentiu expulso do paraíso que criara”.
O animador foi para a TV Bandeirantes comandar o Boa Noite Brasil e, em 1983, mudou-se para o SBT, sendo essa a sua última parada. Ele faleceu no dia 26 de maio de 1986, aos 63 anos, depois de ficar internado por ter passado mal ao vivo durante a apresentação de seu programa.
O amor pela pioneira
Na atração de Marília Gabriela, na Bandeirantes, Flávio Cavalcanti foi questionado sobre qual foi o momento mais triste de sua carreira. O fim de seu antigo canal foi doloroso.
“Foi o fechamento da Tupi. Eu adorava aquela emissora. Trabalhei lá 20 anos com colegas maravilhosos e, de repente, por causa de uma máfia, de uma péssima administração, eu vi colegas chorando, sem salário. Aquilo foi muito triste. Quando decidi sair da emissora, a direção me deu um cheque de 100 milhões e eu disse: ‘você paga todos os outros e me paga por último’” contou.