André Santana

Os primeiros capítulos de Elas por Elas têm sido muito eficientes na apresentação dos personagens da trama. As sete protagonistas e todos os que orbitam em torno delas estão sendo mostrados sem pressa, envolvendo o público aos poucos.

Deborah Secco como Lara em Elas por Elas
Deborah Secco como Lara em Elas por Elas (Reprodução / Globo)

Exatamente ao contrário do que aconteceu em Amor Perfeito. Na trama antecessora, a história principal foi mostrada de maneira atropelada, com uma pressa desnecessária que acabou esgotando a história em poucos dias. Ao que tudo indica, Elas por Elas não vai cair nessa armadilha.

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Aos poucos

Protagonistas de Elas por Elas
Protagonistas de Elas por Elas (divulgação/Globo)

O fato de ter sete protagonistas já dá à Elas por Elas uma estrutura narrativa diferenciada. Afinal, cada uma delas lidera um núcleo, e todos eles se entrelaçam. Sendo assim, as tramas desenvolvidas têm o mesmo peso, já que não há uma protagonista maior ou menor que a outra. Daí a preocupação por uma apresentação bem feita desta galeria de tipos.

Alessandro Marson e Thereza Falcão, responsáveis pela adaptação da obra de Cassiano Gabus Mendes, têm feito isso muito bem. Os primeiros capítulos de Elas por Elas mostraram as sete amigas e suas famílias e amigos de maneira suave, sem atropelar nada. Tanto que nem todas apareceram logo de cara – Renée (Maria Clara Spinelli), por exemplo, só apareceu no segundo capítulo.

Mas a falta de pressa não significou falta de acontecimentos relevantes. Pelo contrário. O primeiro capítulo já estabeleceu a rivalidade de Helena (Isabel Teixeira) e Adriana (Thalita Carauta), além de apresentar o mistério em torno da morte do irmão de Natália (Mariana Santos). O gancho final, com Taís (Késia) descobrindo que seu namorado era o marido de Lara (Deborah Secco) foi poderoso.

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Tudo ao mesmo tempo

Amor Perfeito - Júlio Fischer, Duca Rachid e Elisio Lopes Jr
Júlio Fischer, Duca Rachid e Elisio Lopes Jr, autores de Amor Perfeito (Paulo Belote / Globo)

Infelizmente, Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr. não tiveram a mesma preocupação em Amor Perfeito. A novela das seis anterior teve primeiros capítulos atabalhoados, com uma sucessão de acontecimentos atropelados.

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Em apenas duas semanas, a mocinha Marê (Camila Queiroz) se apaixonou, engravidou, foi acusada de matar o pai e presa, teve o filho tirado de seus braços, deixou a prisão, enfrentou a vilã Gilda (Mariana Ximenes), conseguiu sua herança de volta e… ainda voltou com o mocinho, de quem passou anos separada! Ela até mesmo ficou a um passo de encontrar seu filho perdido, e só não concluiu que era Marcelino (Levi Asaf) por conta de um mal-entendido.

Marê (Camila Queiroz), Marcelino (Levi Asaf) e Orlando (Diogo Almeida) em Amor Perfeito
Marê (Camila Queiroz), Marcelino (Levi Asaf) e Orlando (Diogo Almeida) em Amor Perfeito (divulgação/Globo)

Tantos acontecimentos em tão pouco tempo acabaram prejudicando a narrativa de Amor Perfeito. Os autores priorizaram a ação e não apresentaram direito os personagens, tornando difícil o público se envolver com seus dramas. Além disso, a pressa fez surgir vários fatos sem explicação, que só foram elucidados lá adiante.

Mas o pior dos efeitos colaterais foi o esgotamento precoce da trama. Os autores queimaram todos os cartuchos em pouco tempo, fazendo a história estacionar e andar em círculos. Foram meses de marasmo e só na reta final Amor Perfeito recuperou o ritmo.

Agilidade x pressa

Monique Alfradique e Maria Clara Spinelli em Elas por Elas
Monique Alfradique e Maria Clara Spinelli em Elas por Elas (Divulgação / Globo)

Atualmente, o público anseia por histórias ágeis. O espectador não é o mesmo daquele que acompanhava novelas há 20, 30 ou 40 anos, que aceitava meses de “enrolação” até a resolução dos conflitos surgir apenas nos capítulos finais. Por isso, os autores buscam uma narrativa mais fluida, sem enrolações.

No entanto, isso não pode ser confundido com pressa. A história precisa envolver o público, e isso não acontece se tudo for jogado de uma vez na cara do espectador. Ele precisa conhecer os personagens, saber o que os move e acompanhá-los em suas jornadas.

Elas por Elas, por exemplo, é uma trama ágil, movimentada. Mas está longe de ser apressada. Até aqui, ela se coloca como uma novela moderna, contemporânea, mas, acima de tudo, envolvente. Pressa pra que?

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor