Vai na Fé vai chegando ao fim com a sensação de dever cumprido. A novela de Rosane Svartman elevou a audiência do horário das sete e se tornou uma rara unanimidade entre público e crítica, com ótima avaliação dos espectadores.

Vai na Fé - Sheron Menezzes
Sheron Menezzes como Sol em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

Mas este não é o único mérito do folhetim. O sucesso de Vai na Fé serviu para que a Globo corrigisse erros de outras produções, como a falta de diversidade e a estereotipização de evangélicos.

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Trama com evangélicos funciona

Vai na Fé - Bella Campos, Che Moais, Elisa Lucinda, Manu Estevão e Sheron Menezzes
Elisa Lucinda (Marlene), Manu Estevão (Duda), Bella Campos (Jenifer), Sheron Menezzes (Sol) e Che Moais (Carlão) em Vai na Fé (João Miguel Júnior / Globo)

A Globo é uma emissora essencialmente católica. Tanto que seu programa mais antigo é a Santa Missa em seu Lar, no ar nas manhãs de domingo. Em suas novelas, não faltaram personagens devotos, igrejas e padres simpáticos.

Mas Vai na Fé mostrou que personagens de outras religiões também podem funcionar. A religiosidade de Sol (Sheron Menezzes) e sua família deu cores interessantes ao enredo, que contou, inclusive, com cenas na igreja e um personagem pastor, Miguel (Adriano Canindé), grande conselheiro da protagonista.

O público respondeu bem. Além de gerar identificação com espectadores que compartilham da mesma fé de Sol, Vai na Fé também desmistificou as religiões evangélicas e fugiu da caricatura, o que não deixa de ser um importante serviço. Deste modo, a novela conquistou um público evangélico, mas não perdeu os espectadores de outras crenças.

Satisfeita com o resultado, a Globo voltará à temática numa nova produção do Globoplay.

Diversidade

Vai na Fé - Samuel de Assis
Samuel de Assis como Ben em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

Já faz algum tempo que a Globo anda mais cuidadosa na escalação do elenco de suas novelas, na intenção de garantir maior diversidade na tela. Mas, em Vai na Fé, houve uma clara evolução nesse sentido.

Sheron Menezzes e Samuel de Assis, dois atores negros, encabeçam um elenco bastante diverso. Metade do time da produção é formado por artistas negros, que também ocupam espaço na equipe de roteiristas e diretores.

Nem parece que, até pouco tempo atrás, haviam novelas que não tinham um único ator negro no elenco. E, quando tinha, normalmente era empregado ou bandido. Os tempos estão mudando, e antes tarde do que nunca.

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Crossover

Vai na Fé - José Loreto
José Loreto como Lui Lorenzo em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

Vai na Fé foi feliz ao promover uma constante integração da trama com outras produções da Globo. Seus personagens frequentaram programas da emissora, e a novela até recebeu tipos de outros folhetins, como Alexia (Deborah Secco), de Salve-se quem Puder (2020).

Lui Lorenzo (José Loreto) esteve no programa de Fabio Porchat, enquanto Sol se destacou numa matéria do É de Casa. Enquanto isso, Wilma (Renata Sorrah) citou diversas novelas clássicas ao relembrar sua carreira.

A trama praticamente criou um “Globoverso”, interligando produções de uma maneira inteligente. Isso ajudou a impulsionar a novela, que “furou a bolha” e alcançou uma plateia mais ampla.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor