Após troca de acusações, saída de astro de canal terminou na Justiça
16/05/2023 às 13h53
Talvez o leitor não se lembre, mas o apresentador Amaury Jr passou pela Record antes de se fixar na RedeTV!. Ele chegou à estação de Edir Macedo em 15 de outubro de 2001, após deixar a Band. A parceria, contudo, não durou muito.
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Amaury acusou a Record de censurar o conteúdo de seu programa, com base na doutrinação religiosa advinda da Igreja Universal do Reino de Deus, também propriedade de Macedo.
Conflitos internos
Em 29 de setembro de 2002, Amaury Jr falou à Folha de São Paulo sobre o fim do acordo com a casa.
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“O objetivo da Record agora, com essa nova direção, é a evangelização. Sofri muitos cortes e proibições”, desabafou.
Amaury salientou que a emissora não estava satisfeita com o tipo de conteúdo que ele oferecia, focado em classes com maior poder aquisitivo – menos suscetíveis aos apelos religiosos da Igreja Universal.
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“Deveriam assumir a evangelização. Eles tentam impor suas convicções à programação”, criticou.
Censura
Divulgação / RedeTV!As proibições da Record envolviam a cobertura de determinados eventos, a exibição de elementos associados ao catolicismo como medalhas e afins, a restrição de uma música de Ivete Sangalo (foto abaixo) que mencionava o candomblé e vetos de entrevistados, como os cantores Lobão e Gabriel, o Pensador.
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“Não podemos aceitar qualquer iniciativa que lembre censura”, sentenciou Amaury.
No mesmo dia, Roque Freitas, então gerente de Comunicação do canal, tratou as críticas como infundadas.
“Ele confunde qualidade de programação e imposição dos preceitos da Igreja Universal. Não existe aprovação de pré-pauta pela direção da emissora. Aqui, todos têm liberdade de usar ou mostrar o que quiserem, de acordo com a crença de cada um”, argumentou Roque.
Intolerância religiosa
O pior estava por vir… Fora da estação, Amaury Jr processou o canal por quebra de contato e recebeu um processo de volta, com a empresa alegando ter sofrido calúnia e difamação do ex-contratado por conta das críticas feitas em entrevistas.
“Simplesmente não permitimos que façam apologia a qualquer outra religião. Se a música ‘Festa’ [de Ivete Sangalo] faz, não é tocada. Mas isso não é censura, é um procedimento da casa”, defendeu Dennis Munhoz, vice-presidente executivo da Record, em outubro do mesmo ano, quando procurado pelo jornal O Globo.
“O que o artista não pode fazer aqui é apologia a outra religião. As pessoas podem vir à Record, sim, mas desde que se encaixem nos padrões éticos e conceituais da emissora” explicou, contribuindo, de certa forma, para a acusação de Amaury. “Preservamos a qualidade da programação e não buscamos o Ibope a qualquer custo. É uma TV para a família”, bradou.
“Se houvesse censura, como ele diz, não teríamos deixado essa reportagem [sobre o ensaio da Playboy estrelado por Deborah Secco] ir ao ar. Ela foi exibida à 1h e o Amaury Jr a fez com cautela”, exemplificou Munhoz.
Troca de farpas
O vice-presidente executivo chegou a dizer com todas as letras que o apresentador desejava deixar a Record por ter fechado contrato com outra emissora.
“Eu jamais faria isso! Isso é um tremendo absurdo”, rebateu o ex-funcionário.
Amaury assinou o acordo com a RedeTV! em 30 de outubro de 2002. Por lá, ele não enfrentou problemas.
O curioso é constatar que, quando trocou a Band pela Record, ele planejava contar com uma liberdade que nunca veio.
“Conversei com a [Adriane] Galisteu (foto acima), o Boris Casoy e o Leão [Gilberto Barros] e eles me disseram que a Record dá total independência para os apresentadores”, declarou à revista IstoÉ Gente, de 18 de outubro de 2001, sem imaginar o que estava por vir.