André Santana

Sem um novo projeto à vista, Fernanda Gentil e Globo colocaram fim numa relação de 15 anos. Revelada no esporte da emissora, a apresentadora teve uma infeliz incursão no entretenimento e não conseguiu se firmar no time dos comunicadores da estação.

Zig Zag Arena - Fernanda Gentil
Reprodução / Globo

Ao contrário de Tiago Leifert, Fátima Bernardes e Pedro Bial, Fernanda Gentil teve uma transição desastrosa do jornalismo para o entretenimento. Neste processo, tanto Globo quanto Fernanda erraram, sobretudo por não saberem conduzir a crise de uma maneira mais efetiva.

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Nova carreira

Se Joga - Érico Brás, Fabiana Karla e Fernanda Gentil
Victor Pollak / Globo

Assim como Tiago Leifert, Fernanda Gentil se destacou no esporte na Globo e no SporTV. Seja no comando de programas esportivos ou na cobertura de grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, a jornalista caiu nas graças do público por conta de seu jeito informal e bem-humorado.

Com isso, no final de 2018, a Globo anunciou sua transferência para o entretenimento. Na época, a emissora enfrentava problemas com a audiência do Vídeo Show, que não garantia mais a liderança no horário. Com isso, especulou-se que Fernanda poderia ser aproveitada numa nova fase do vespertino ou, então, assumir um novo projeto no horário.

Prevaleceu a segunda opção. No final de 2019, ela estreou o vespertino Se Joga, ao lado de Fabiana Karla e Érico Brás. Com um erro crasso de concepção, a nova atração foi alvo de inúmeras críticas, teve um péssimo desempenho no ibope e acabou limada durante a pandemia da Covid-19.

Erros

Se Joga - Fernanda Gentil
Fábio Rocha / Globo

Neste contexto, a Globo até foi esperta ao agir rápido, tirando o programa do ar antes que o desastre fosse ainda maior. Porém, no ano seguinte, a emissora teve a ideia de resgatar o título, desta vez nas tardes de sábado. Um projeto um tanto quanto infeliz.

Na verdade, do Se Joga original só havia sobrado o título e Fernanda Gentil. Na prática, a versão semanal do vespertino nada mais era que um Vídeo Show reformulado. Sendo assim, o maior erro do canal foi não admitir que extinguir o Vídeo Show foi um equívoco.

Afinal, o primeiro Se Joga foi um desastre tão grande que voltar com o título serviu apenas para retomar o ranço do público junto à atração. Se a Globo tivesse optado por reassumir o nome Vídeo Show nas tardes de sábado, a má impressão não seria tão evidente.

O Se Joga semanal não chegou a ser um desastre. A audiência no horário era OK e o conteúdo não era tão sem foco quanto na primeira versão. Ainda assim, a direção da Globo optou por encerrá-lo e deslocar Fernanda para o Zig Zag Arena. Outro desastre anunciado…

Programa flopado

Zig Zag Arena - Fernanda Gentil e Mariana Santos
João Cotta / Globo

Zig Zag Arena era um game show pretensioso que se revelou falho. A atração propunha uma competição com jogos inspirados em brincadeiras de infância, mas não funcionou. O programa, provavelmente, divertia apenas quem participava; já o público de casa ficava confuso ao tentar acompanhar uma correria difícil de compreender.

Foi um desastre tão grande que saiu do ar ainda com programas inéditos na gaveta. Com isso, a Globo acabou reforçando a imagem de “pé-frio” de Fernanda Gentil. A apresentadora acabou pagando o pato por assumir dois programas que foram muito mal concebidos.

O canal poderia ter planejado uma estratégia para limpar tal imagem. A apresentadora, que foi até elogiada quando substituiu Fátima Bernardes no Encontro, poderia ter sido aproveitada num programa da grade, de modo a fazer o público assimilá-la numa atração mais tradicional e apagar a má impressão deixada pelos desastres anteriores.

No entanto, o canal nada fez. Preferiu manter Fernanda na geladeira, reforçando a pecha de fracasso em sua artista.

Recuo estratégico

Encontro - Fernanda Gentil
Reprodução / Globo

Em meio a tantas falhas, Fernanda Gentil também poderia ter proposto um recuo estratégico. Se ela sempre foi bem-aceita no esporte, por que não tentar um retorno às origens? Porém, numa entrevista ao podcast Fala, Brasólho, a apresentadora afastou essa possibilidade.

“O esporte ocupa no meu coração um lugar que mais nada vai ocupar, mas eu fechei aquele ciclo”, disse. “Não volto só para o esporte. Eu posso falar de esporte como entretenimento, porque o esporte é um entretenimento, mas eu estou me aventurando e estou amando”, completou Fernanda.

Ou seja, a Globo errou ao conduzir pessimamente a passagem de Fernanda Gentil pelo entretenimento. E a apresentadora também errou ao descartar uma honrosa volta ao esporte, área que a consagrou. Dado o sucesso comercial da artista, que é garota-propaganda de inúmeras marcas, Fernanda Gentil poderia ter rendido mais na TV, se tivesse sido bem utilizada.

Agora, fora da Globo, ela vai se aventurar pelas redes sociais e lançar seu canal no YouTube. Pode ser uma boa. Com mais liberdade autoral, Fernanda pode finalmente se livrar dos formatos equivocados que lhe entregaram na TV e dizer, de fato, a que veio.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor