Após sofrer AVC, autor teve que ditar novela para o neto escrever

Adaptador de Pantanal, Bruno Luperi vem sendo alvo de críticas por manter quase que fielmente o texto que o avô Benedito Ruy Barbosa concebeu para a primeira versão, da Manchete, em 1990. As acusações são improcedentes já que, apesar de preservar a estrutura, Luperi vem atualizando diálogos e situações que não cabem em 2022.

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Outro neto do novelista, Marcos Barbosa de Bernardo, envolveu-se com o remake de Meu Pedacinho de Chão (2014), estrelado por nomes como Osmar Prado (foto acima). Neste caso ele foi, sim, durante determinada etapa do processo apenas digitador.

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AVC tirou autor de campo

Com funções motoras comprometidas desde que sofreu um AVC, em 2006, Benedito Ruy Barbosa atuou como supervisor de seus familiares em vários remakes. As filhas Edmara e Edilene Barbosa, por exemplo, responderam por Cabocla (2004) e Sinhá Moça (2006). Edmara tocou Paraíso (2009) sozinha, enquanto Edilene dividiu Meu Pedacinho de Chão com o filho Marcos.

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A novela que a Globo exibiu às 18h partia da obra de cunho educativo coproduzida pela emissora e pela Cultura entre 1971 e 1972. Marcos Barbosa de Bernardo ajudou o avô na empreitada.

Quem revelou o esquema de trabalho foi o diretor Luiz Fernando Carvalho. Em entrevista ao portal Notícias da TV, em 5 de janeiro de 2014, o profissional celebrou a oportunidade de voltar a dirigir uma obra de Benedito – os dois estiveram juntos em Renascer (1993), O Rei do Gado (1996) e Esperança (2002).

“Benedito, depois de um longo período impossibilitado de escrever (por questões de saúde), volta a escrever uma novela. Digo ‘volta a escrever’, pois, para mim, não se trata de um remake, considero uma obra original. Ajudado por seu neto Marcos Barbosa – que passou para o computador o que o avô lhe contou, já que ele perdera a enorme velocidade que tinha como datilógrafo –, Benedito narrou metade de memória, metade reinventando tudo, completando tudo”, declarou.

Carvalho também celebrava o fato do folhetim, estrelado por nomes como Rodrigo Lombardi, Osmar Prado, Juliana Paes, Irandhir Santos, Bruna Linzmeyer e Antonio Fagundes, ganhar as telas “por completo”, já que ditadura militar interferiu consideravelmente na versão original.

“É por isso que ‘Meu Pedacinho de Chão’ chega agora para ser contada com o total frescor de um texto novo. Então estamos falando de renascimento! (…) Pois quando Benedito recobrou a saúde sentiu uma necessidade vital de escrever. Ou escrevia ou não conseguiria seguir vivo. Poderia escrever qualquer coisa, mas uma necessidade imensa clamou dentro de si: terminar ‘Meu Pedacinho de Chão’. Por isso, ‘Meu Pedacinho de Chão’ não se configura como um simples remake”, enfatizou.

Críticas a Pantanal

A nova versão de Pantanal, apesar do êxito de audiência, recebe inúmeras críticas por conta do texto. A maior queixa se deve às resoluções do texto original mantidas na adaptação.

É bem verdade que Bruno Luperi reformulou, conforme destacado pelo colunista Sérgio Santos, do TV História, o perfil de Jove (Jesuíta Barbosa) – mais introspectivo e consciente –, além de falas desconectadas da realidade atual envolvendo machismo e homofobia.

Outra alteração veio da escalação de atores negros para a segunda família de Tenório (Murilo Benício). A abordagem do racismo, porém, foi rasa.

Os grandes vacilos, contudo, vieram da manutenção dos desfechos de Madeleine (Karine Teles) e Trindade (Gabriel Sater). Na versão da Manchete, os personagens só saíram de cena porque os intérpretes, Ítala Nandi e Almir Sater, tinham outros compromissos.

Ítala conseguiu autorização para rodar um filme na Índia; Madeleine, que sofreria um acidente de avião, mas escaparia com vida, acabou falecendo. Almir foi convidado para estrelar a trama substituta, A História de Ana Raio e Zé Trovão.

Com a bênção do avô

Em entrevista ao programa Encontro, exibido no último dia 30, Bruno Luperi explicou a Patrícia Poeta o real motivo de mantido o texto do avô praticamente à risca de 32 anos atrás.

“A novela, para ela acontecer, para ela ter sido filmada, ela foi escrita durante a pandemia. O Pantanal tem o regime das águas, da seca e da cheia, então nós precisávamos da novela toda escrita antes de ela ir ao ar, porque, a depender das condições climáticas, nós não poderíamos gravar”, contou Luperi, afirmando que entregou o último capítulo no sábado anterior à estreia.

“Então é uma obra fechada, nós tivemos que acreditar em algumas coisas. O Trindade tem o caminho que a trama permite. Eu não posso adiantar muito, mas com certeza é um personagem que vai deixar saudades”, salientou.

Ele ainda afirmou que Benedito, em momento algum, opinou sobre o remake e que apenas deu sua bênção para que Beu

“Assim como ele, que escrevia sozinho, eu também sigo na mesma toada. Basicamente ele falou: ‘vai com Deus e com o que Deus te deu’”.

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