A viagem de D. Pedro II à Bahia movimentou a novela em sua quarta semana. Movimentou é modo de falar, porque a novela só ficou movimentada mesmo no capítulo de sábado. Foi uma semana inteira de preparativos para a viagem acontecer apenas na sexta-feira e os imperadores, perdidos na mata, encontrarem os índios Piatã e Jacira no capítulo de sábado.

• A Globo aproveitou a ótima audiência da estreia do Caldeirão com Marcos Mion para exibir no sábado um resumão da semana de Nos Tempos do Imperador – diferente do usual, em que era exibido um resumo do capítulo anterior. Na verdade, a emissora está vendendo a novela com chamadas mais elaboradas, dando destaque à trama, como forma de despertar a audiência adormecida, que anda aquém da expectativa (por enquanto, média geral de 18 pontos no Ibope da Grande SP).

• Muito bonito o discurso dos índios Piatã e Jacira sobre queimadas e destruição da natureza. Qualquer semelhança com os tempos atuais não terá sido mera coincidência. Os personagens são oriundos da novela Novo Mundo, em que eram jovens. Em Nos Tempos do Imperador, foram vividos pelos atores Clovys Torres e Valéria Alencar – ela, mãe do ator Rafael Vitti.

Jacira fala: “Você imperador: cuida, educa seu povo!“. No que a imperatriz Tereza Cristina responde: “Nós vamos ensinar o respeito pela natureza através da Literatura, da Arte, da Música“. Os autores, além de traçar um paralelo com a atualidade, agregam importância às Artes no papel da educação, tão menosprezadas no Brasil atualmente, assim como o meio-ambiente.

Seguiram-se imagens documentais da atualidade, representando a visão de Piatã do futuro do Brasil, com desmatamento, incêndios e catástrofes naturais. Na sequência, Tonico bebe um alucinógeno e tem a visão de que está destronando a família imperial e sendo coroado novo imperador. Enxerguei outro paralelo com a atualidade, em que um lunático com sanha destruidora detém o poder no país.

• Por fim, o capítulo de sábado é encerrado com chave de ouro: Cândida tem a visão de Abena e Balthazar, que estão desaparecidos. Eu entendi que são os fantasmas deles. Estão mortos? Saberemos na segunda-feira, talvez.

• Um dos destaques da semana foi o casal Pindaíba. Paula Cohen e Ernani Moraes estão ótimos e acho os personagens com bom potencial para alívio cômico – pelo menos, mais que Licurgo e Germana, que, infelizmente, não estão rendendo como esperávamos. As tramas dos Pindaíbas durante a semana – os escravos que fugiram e a noiva para o filho – foram boas. Que continuem assim.

• No capítulo de quarta-feira, em visita a Pedro II com Dom Olu, o garoto Guebo questionou o imperador sobre o fim da escravidão. Ele respondeu e houve o seguinte diálogo:

– Se estivesse ao meu alcance, já teria dado fim à escravidão.
– Mas o senhor é o imperador. Pode tudo, não?
– Infelizmente não. O imperador do Brasil pode muito, mas não tudo. Existem leis que me impedem de fazer o que gostaria, como acabar com a escravidão. Você entendeu?
– Não senhor.

E ficou por isso mesmo. Existiam leis que impediam o imperador de abolir a escravidão – ou interesses? Parafraseando Guebo: não deu para entender. Essa questão da escravidão no segundo reinado é muito sensível. A conferir o quanto a novela credita ou responsabiliza o imperador neste assunto.

• Na sequência, houve uma cena que achei bizarra: os adolescentes negros Zayla e Guebo brincam com as princesas Isabel e Leopoldina nos jardins do palácio. É abusar da liberdade criativa! Remeteu àquelas imagens de idealização do paraíso atribuídas às Testemunhas de Jeová.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor