Há mocinhas criadas por Gloria Perez que conquistam o público de cara. Jade (Giovanna Antonelli), de O Clone (2001), foi uma das heroínas da autora que caíram no gosto da audiência. No entanto, outras mocinhas não tiveram a mesma sorte. No ar atualmente, Brisa (Lucy Alves) sofre rejeição do público em razão de sua pouca inteligência diante dos problemas que enfrenta. Algo parecido aconteceu com Sol (Deborah Secco), de América (2005).
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Na trama exibida em 2005, Sol alimentava o “sonho americano”. Seu grande objetivo era ir aos Estados Unidos, ganhar muito dinheiro e tirar sua família de uma vida miserável. Por conta desta ambição, a jovem abriu mão até mesmo de seu grande amor. Ela abandonou Tião (Murilo Benício) quando surgiu a oportunidade de atravessar a fronteira do México ilegalmente.
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A ambição da mocinha, somada ao seu jeito choroso e fala sussurrante, irritou o público. Sol foi defenestrada pela audiência de América e criou um problema para a novela, que passou a sofrer inúmeras críticas, tal qual acontece atualmente com Travessia.
Gloria Perez, então, resolveu agir: a autora jogou a culpa do fiasco da trama no diretor, Jayme Monjardim, e solicitou uma grande mudança no folhetim.
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Mudança de rota
Os desentendimentos entre Gloria Perez e Jayme Monjardim começaram antes da estreia de América. A autora e o diretor tinham ideias distintas para a produção, a começar pela escalação do elenco. Gloria queria Deborah Secco e Murilo Benício como os heróis, enquanto Jayme preferia Camila Morgado e Marcos Palmeira. A autora venceu a queda de braço.
No ar, América se mostrou uma novela pesada, envolta em muita dramaticidade. A mocinha Sol chorava em praticamente todas as cenas, mostrando-se frágil. Ao ver que a protagonista ganhava a rejeição do público, Gloria Perez veio a público afirmar que a novela que escrevia não era a mesma que ela via no ar. E que Sol foi criada para ser uma mocinha solar e alegre, e não da maneira como vinha sendo feita até aquele momento.
Com a queda de braço entre autora e diretor, Jayme Monjardim saiu de cena. Marcos Schechtman, que já fazia parte da equipe de direção da trama, assumiu as rédeas da história e imprimiu todas as mudanças solicitadas pela autora. Sol ficou mais alegre, a novela ganhou mais cor e ritmo e saiu o clima de dramalhão. Até a abertura mudou: saiu Anjos do Paraíso, de Milton Nascimento, e entrou Soy Loco por ti América, com Ivete Sangalo. A audiência reagiu e a novela terminou em alta.
“Direção equivocada”
Depois que colocou um ponto final em América, Gloria Perez concedeu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada em 31 de outubro de 2005. A autora comemorou o fato de a trama ter alcançado o sucesso e reforçou que a “direção equivocada” teria sido o principal motivo de América não ter emplacado de cara.
Ao ser perguntada se precisou mudar alguma coisa na ideia original da novela, Gloria foi taxativa:
“Sobre isso, há muita lenda. A novela não teve de ser ajustada, ela teve no começo uma direção equivocada. O ajuste foi sair aquela direção e entrar uma outra direção que fazia o que estava escrito. Então, tudo o que acontece na novela, as pessoas dizem ‘ah, mudou tal coisa’”, afirmou.
A reportagem, então, pergunta o que Gloria mudaria no início da novela, e a autora volta a alfinetar o trabalho de Jayme Monjardim.
“[Mudaria] o diretor, começaria com o Marcos Schechtman. Houve uma direção equivocada no começo. Acabou marcando a relação Sol e Tião. Homem nenhum se apaixona por uma mulher que olha pra ele e chora. Mas a página está virada. Agora quero falar do sucesso da novela”, finalizou.
O diretor, por sua vez, nunca se manifestou sobre o tema.
A história se repete?
Assim como aconteceu em América, Travessia parece padecer com uma espécie de descompasso entre Gloria Perez e o diretor Mauro Mendonça Filho. O diretor é conhecido por conseguir dar dignidade aos textos mais questionáveis (vide O Outro Lado do Paraíso e Verdades Secretas), mas parece ter errado a mão em Travessia.
A atual novela das nove tem um enredo meio “farofa”, coisa que Gloria costuma imprimir em suas histórias. Já a direção de Mauro Mendonça Filho pesa a mão, como se levasse aquilo a sério demais. No entanto, dessa vez, a salvação aparentemente não virá. Será que a autora, algum dia, voltará a culpar o diretor?