Após rejeição e explosão de shopping, novela da Globo terminava com sucesso há 22 anos
15/01/2021 às 0h07
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No dia 25 de maio de 1998, estreou no horário nobre da Globo Torre de Babel, novela substituta de Por Amor, sucesso de Manoel Carlos. A trama ficou no ar até 15 de janeiro de 1999, sendo substituída por um dos maiores fracassos da emissora: Suave Veneno, de Aguinaldo Silva. A história de Silvio de Abreu apresentou alguns problemas iniciais, mas o autor conseguiu revertê-los, transformando sua produção em um sucesso.
Dirigida por Denise Saraceni, a trama começa em 1978, contando a vida de José Clementino (Tony Ramos), um homem humilde que trabalha na construção de um prédio, que faz parte de uma das muitas obras da construtora do rico engenheiro César Toledo (Tarcísio Meira). Durante uma festa em comemoração ao final das obras, o protagonista sente falta de sua esposa. Ao encontrá-la, o rapaz a vê tendo relações com dois homens e surta. Acaba matando a mulher e um dos homens a golpes de pá. Uma situação fortíssima e ousada para uma novela, mostrando a coragem de Silvio de Abreu em sair do lugar-comum.
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César, que também estava no evento, ouve os gritos, contém o empregado com a ajuda de outros operários e chama a polícia. Clementino é preso e o testemunho de seu chefe é decisivo para a sua condenação: 19 anos de prisão. Vinte anos se passam e a novela inicia uma segunda fase, baseada na saída do protagonista da prisão, que busca vingança contra a família Toledo. A história era fascinante e típica de um folhetim, ao mesmo tempo que ousava com uma situação forte demais até mesmo para uma produção das nove.
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Personagens rejeitados pelo público
O curioso é que o autor precisou alterar um pouco a personalidade de Clementino por conta da rejeição do público, que não aceitou ver Tony Ramos viver um tipo tão assustador e agressivo, após ter interpretado tantos tipos íntegros.
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Mas este não foi o único problema da trama. O casal homossexual Rafaela e Leila, interpretado por Christiane Torloni e Silvia Pfeifer, não foi aceito pelo telespectador conservador. E a trama do viciado Guilherme (Marcelo Antony), filho problemático de César e Marta (Glória Menezes), foi outra que sofreu estranhamento, devido às fortes cenas do rapaz injetando drogas em seu corpo.
Como se nota, Silvio de Abreu quis presentear seu público com várias situações fortes e polêmicas, o que é sempre válido. Pena que na época nada disso tenha sido bem compreendido. E a solução do autor foi simples, ao mesmo tempo que responsável pela grande virada da trama, até hoje lembrada pelos telespectadores: a explosão do Shopping Tropical Towers.
Clementino inicia seu plano de vingança e arruma um emprego de vigia no shopping, com o intuito de colocar explosivos no prédio, destruindo um dos grandes empreendimentos de César Toledo, mas sem ferir inocentes; ou seja, detonando as dinamites com o prédio vazio. Entretanto, algo sai errado: todos os artefatos e seus planos escritos desaparecem do ferro-velho onde ele vive com seu pai (o violento Agenor – Juca de Oliveira), os meio-irmãos (Gustinho – Oscar Magrini e Boneca – Ernani Moraes) e com sua filha mais nova, Shirley (Karina Barum), que sofre com um defeito físico na perna.
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Explosão do shopping
Os explosivos acabam sendo acionados no dia seguinte ao desaparecimento, com o shopping em funcionamento, o que resulta em uma grande tragédia, matando várias pessoas, entre elas, Rafaela, Leila e Guilherme. A cena da explosão foi antológica e marcou a teledramaturgia, com um show de efeitos especiais. O mistério em torno do ‘quem explodiu’ (ao invés do ‘quem matou’) passou a dominar a trama, despertando interesse do público e imprimindo um tom policial na história.
No final da novela foi revelado que a responsável pela explosão era Sandrinha (Adriana Esteves, que brilhou do início ao fim na pele da vilã interesseira), filha mais velha de Clementino, que nunca perdoou o pai por ter matado sua mãe. Vale destacar também uma outra grande vilã da trama, interpretada com brilhantismo por Cláudia Raia: a psicopata Ângela, que nutria um amor-platônico por Henrique Toledo (Edson Celulari).
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Bons núcleos
Entre outros bons núcleos do folhetim, é preciso lembrar do protagonizado pela milionária hipocondríaca Deolinda Falcão e seu mordomo Cláudio, interpretados com maestria pelos saudosos Cleyde Yáconis e Carvalhinho. Havia também a dupla dinâmica Bina e Luzineide (a muda que se revelou uma faladeira no último capítulo), vividas por Cláudia Jimenez e Eliane Costa, onde uma impedia a outra de falar.
E foi nesta novela que surgiu um dos personagens mais marcantes da teledramaturgia: o Jamanta (ótimo Cacá Carvalho), que sofria de problemas mentais e teve seu bordão Jamanta não morreu! na boca do povo —- o sucesso foi tanto que Silvio o trouxe de volta em Belíssima, anos depois.
E, como toda produção do autor, o elenco era primoroso. Além de Tarcísio Meira, Glória Menezes, Tony Ramos, Cláudia Raia, Cleyde Yáconis, Carvalhinho, Adriana Esteves, Edson Celulari, Christiane Torloni, Cláudia Jimenez e Juca de Oliveira, tinha também Etty Fraser, Stênio Garcia, Maitê Proença, Natália do Vale, Letícia Sabatella, Irving São Paulo, entre tantos outros.
Torre de Babel foi mais uma grande novela de Silvio de Abreu e, apesar das dificuldades iniciais, foi uma grandiosa produção, que deixou sua marca na história da teledramaturgia e no horário nobre da Globo.