Celebrando os 40 anos do lançamento de Menina Veneno e do seu primeiro LP, Voo do Coração, o cantor Ritchie, de 71 anos, está em turnê por todo o Brasil, relembrando antigos sucessos que fizeram parte da vida de vários brasileiros como Casanova, A Vida Tem Dessas Coisas e Transas.

Cassino do Chacrinha
Divulgação / Globo

Na esteira do seu retorno aos palcos, o artista britânico relembrou um episódio curioso no qual o apresentador Chacrinha (1917-1988) o proibiu de aparecer em seu programa até o dia de sua morte.

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Desacerto

Ritchie
Reprodução / IMDB

Enquanto colhia os frutos do sucesso do disco lançado pela CBS em 1983, Ritchie era presença constante nos principais programas de auditório da Globo, como o Globo de Ouro e o Cassino do Chacrinha.

Além disso, o comunicador que ficou popularmente conhecido por conta dos seus bordões como “Alô, alô Terezinha” e “Quem não se comunica, se trumbica”, possuía o hábito de promover caravanas, onde levava bandas, cantores e cantoras em evidência no período para se apresentar em cidades de todos os estados do país, em shows que atraíam multidões.

Contudo, ao recusar o convite para um desses espetáculos, Ritchie sofreu um grande abalo em sua carreira. Em conversa com o jornalista José Teles para o site TelesToques, em 2009, Ritchie, que considerava o “Velho Guerreiro” como um pai, atribuiu seu sumiço ao filho dele, Leleco Barbosa, então diretor-geral do programa.

“Com isto morreu minha carreira”, revelou Ritchie. “E não foi nem por eu não querer fazer show para ele, e sim por não poder. No dia desta caravana, tinha show marcado em Belo Horizonte, e com uma grande multa contratual se faltasse. Leleco não quis saber. Fui banido da TV. O pior foi que ele ainda plantou uma nota na Contigo dizendo que ‘eu me recusava a me apresentar com artistas brasileiros’”, contou.

Veto de Chacrinha

Ritchie
Reprodução / Instagram

Em recente entrevista ao podcast Inteligência Ltda, Ritchie relembrou novamente o seu imbróglio com Abelardo Barbosa.

O roqueiro admitiu que, numa época sem a existência da MTV no Brasil, a melhor forma de divulgar o trabalho era se apresentando em programas como o Fantástico ou o Cassino do Chacrinha, que todo mundo assistia. Ainda de acordo com ele, se o artista se apresentasse no sábado à tarde, dia e horário em que o programa era exibido, de noite já estava fazendo shows.

Quando o escritório que gerenciava a carreira do cantor recusou a apresentação dele em Bangu, em uma das caravanas, os produtores do Chacrinha insistiram, afirmando que ele tinha a obrigação de fazer os shows do comunicador – uma espécie de troca de favores, ou “jabá”, que poderia comprometer a agenda de Ritchie. Com essa desfeita, ele foi proibido de pisar no palco do ‘Cassino’.

“Não fui mais até o cara morrer. Eu só fui no ‘Globo de Ouro’, mas o Chacrinha nunca mais me chamou”, lamentou.

Negócio desonesto

Cassino do Chacrinha
Divulgação / Globo

O próprio Chacrinha assumiu, por mais de uma vez, que aceitava suborno das gravadoras e de produtores, jornalistas ou radialistas para promover os discos de seus contratados, o famoso “jabaculê”.

Certa vez, Chacrinha contou em entrevista no programa Preto no Branco que todos se deixavam vender por uma boa grana, inclusive Osvaldo Sargentelli, apresentador da atração.

“Sim, o negócio é desonesto, mas, infelizmente, é o que mais existe por aí. Está quase todo mundo no bolso das fábricas, burrinho é quem não está. Se fizerem um balanço da coisa não sobra um cara que não leve grana das gravadoras. Está todo mundo nessa, fiquem sabendo”, disparou.

Felizmente, o veto promovido pelo filho de Chacrinha não impediu que Ritchie seguisse na carreira, lançando novos álbuns e aglutinando novos e antigos admiradores, que prestigiaram shows como Só A Vida Tem Dessas Coisas, disponibilizado no YouTube, que já ultrapassou os 33 milhões de views.

“São, ao todo, quase 70 milhões de visualizações. Nada mal para um senhor de 71 anos que está há 20 sem gravadora. Estou satisfeito com os rumos da minha carreira. Novos fãs não param de chegar”, destacou ele em entrevista à BBC News Brasil.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor