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Após proibição, remake de Vale Tudo terá trama baseada em história real

Alexandre Nero

Alexandre Nero

Prestes a ganhar uma nova versão no ano que vem, Vale Tudo marcou época com discussões sobre ética e honestidade. O folhetim da Globo, no entanto, também foi o primeiro a abordar os direitos de um casal homoafetivo.

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O enredo envolvendo Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) era baseado numa história real. Os autores, porém, não puderam desenvolver a trama com clareza, já que a Censura determinou cortes em diálogos e ações.

Quase 30 anos depois, a emissora terá uma nova oportunidade de explorar melhor essa trama, que terá como um dos envolvidos Marco Aurélio (Alexandre Nero).

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Herança em debate

Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin em Vale Tudo

O relacionamento de Cecília e Laís era pessoal e profissional. As duas construíram uma pousada em Búzios (RJ), na qual a protagonista Raquel (Regina Duarte) se empregou durante a narrativa.

Com a morte de Cecília em um acidente automobilístico, Marco Aurélio (Reginaldo Faria), irmão da empreendedora, decidiu ir à Justiça reivindicar o patrimônio adquirido enquanto ela esteve com Laís.

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O romance de Cecília e Laís era “invalidado” por Marco Aurélio pelo fato das duas serem lésbicas, como se a relação homoafetiva não implicasse em direitos sobre a herança.

Dessa forma, Vale Tudo buscava justamente discutir a legalidade do casamento gay e os consequentes direitos da viúva sobre a herança da outra.

Fatos reais

Jorge Guinle Filho

Para criar tal entrecho, os autores se inspiraram na história real do artista plástico Jorge Guinle Filho e do fotógrafo Marco Rodrigues.

Os dois adquiriram um apartamento, ainda na planta, em meados da década de 1970. Jorginho faleceu em 1987, vítima de Aids, e Marco precisou brigar com os sogros nos tribunais pela posse do imóvel.

A decisão definitiva sobre o caso só saiu em 2018. O viúvo, enfim, ficou com o apartamento localizado no Leblon, Zona Sul do Rio.

Censura

Em Vale Tudo, a discussão em torno de Cecília e Laís foi prejudicada pela Censura Federal. Várias cenas foram cortadas, atrapalhando a compreensão do público sobre o relacionamento das duas. O então diretor da Censura, Raimundo Mesquita, chegou a classificar o casamento delas como “aberração”.

“Esse assunto, quando não tratado entre quatro paredes, deve ter um enfoque científico ou didático. O lesbianismo, se colocado de forma jocosa ou simpática, pode parecer ao jovem uma prática sadia e induzir o pré-adolescente a aceitá-lo como solução. O relacionamento homossexual é uma aberração”, afirmou Mesquita em documento oficial, conforme relatado pelo Jornal do Brasil em 19 de julho de 1988.

Os 36 anos que separam a estreia de Vale Tudo da possibilidade de regravação contaram com várias transformações. As leis de hoje protegem casais homoafetivos, destacados em todas as novelas atuais.

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