Marcos Mion vem colhendo os frutos dos anos de trabalho. À frente do Caldeirão, exibido nas tardes de sábado, ele se tornou um dos nomes de maior sucesso do Entretenimento da Globo. Foi uma verdadeira revolução na carreira de Mion, que enfrentou problemas em sua antiga casa, a Record, ligados às diretrizes da Igreja Universal do Reino de Deus.

Caldeirão - Marcos Mion
Marcos Mion no Caldeirão (Reprodução / Globo)

Na história da televisão brasileira, as produções religiosas sempre tiveram espaço nas grades. Católicos, espíritas e judeus, entre outros religiosos, puderam mostrar suas crenças e cultos para milhões de espectadores. Em 1990, a Igreja Universal do Reino de Deus comprou a Record, que se tornou a primeira rede de TV comandada por bispos evangélicos.

Após adquirir o canal, que pertencia à família Machado de Carvalho e ao empresário e apresentador Silvio Santos, Edir Macedo decidiu investir pesado na programação e no conteúdo religioso, criando programas ligados à IURD – Fala Que Eu Te Escuto, O Despertar da Fé, Oração das Seis, entre outros. A maior parte deles era voltada ao público em geral.

Os empregados da casa, porém, sofriam certas restrições por conta da ligação com a Universal.

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Chute na santa e tentativa de censura

Jornal da Record - Chico Pinheiro
Chico Pinheiro no Jornal da Record (Reprodução / YouTube)

Em 1995, Chico Pinheiro foi contratado pela Record e, além de apresentador, tornou-se diretor de Jornalismo. No mesmo ano, o bispo Sérgio Von Helder chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida durante uma pregação, criando uma verdadeira crise na igreja.

Por orientação da direção, um pedido de desculpas de Edir Macedo aos católicos seria veiculado no jornal comandado por Chico. Mas o jornalista julgou que seria justo também colocar a entrevista do cardeal Dom Eugênio Sales sobre o episódio, o que não foi aprovado pelos diretores.

Mesmo diante do risco de censura por parte da alta cúpula da emissora, ele exibiu a fala do cardeal. Dias depois, Pinheiro e Ana Maria Pais Barreto, editora-chefe, foram demitidos do canal.

Sem decote e crucifixo

Xuxa
Xuxa no Família Record (Reprodução / Record)

Xuxa foi uma das grandes contratações da emissora nos últimos anos. Sua ida para a Record foi uma tentativa de iniciar uma nova fase na carreira, longe da Globo. O casamento entre a loira e a emissora paulista durou cinco anos e, em uma entrevista à revista Veja, em 2021, a apresentadora comentou sobre a linha conservadora que tinha que seguir.

“Nestes cinco anos, a direção teve um cuidado especial comigo e vivia perguntando: ‘Está feliz? Se está, também estamos’. Mas todos sabem que existe uma filosofia, uma doutrina na Record. Não tinha censura direta, mas me falavam que era de bom grado não usar decotes ou crucifixo, por exemplo”, afirmou a eterna Rainha dos Baixinhos, hoje envolvida com projetos para o streaming.

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Provocação aos católicos

Apocalipse - Flávio Galvão
Flávio Galvão como Stefano em Apocalipse (Divulgação / Record)

A novela Apocalipse, que estreou em novembro de 2017, foi alvo de críticas de católicos ao exibir a cena de uma reunião com homens usando vestes semelhantes aos sacerdotes católicos. Uma figura se vestia de branco, com um traje bem parecido com o do Papa.

“São quase 1700 anos espalhando as trevas pelo mundo afora, mas, é claro, tudo muito bem elaborado para parecer divino”, dizia o texto da produção.

Na sequência, um dos presentes era chamado de sacerdote e, em um diálogo, falava-se que a instituição abordada ali era a principal do mundo e precisava “continuar a ser, custe o que custar”.

A revolta dos telespectadores católicos foi grande, com inúmeras críticas à emissora e acusações de que eles queriam “demonizar a Igreja Católica”. Os internautas pediram um boicote à atração, o que não foi necessário, pois a novela teve uma audiência bem abaixo do esperado.

Nada de tatuagem

A Fazenda - Marcos Mion
Marcos Mion à frente de A Fazenda (Divulgação / Record)

Quem acompanha o Caldeirão, hoje sob o comando de Marcos Mion, nota a alegria dele em estar na Globo, realizando um antigo sonho. Além disso, o apresentador mostrou nas redes sociais que estava feliz pela liberdade de se vestir do jeito que quiser.

“Tão assistindo ao ‘Caldeirão’? Olha lá eu de camiseta pela primeira vez na TV desde que fechei o braço (com tatuagem)! Que estranho, por nunca ter acontecido antes, mas que libertador por saber que vai ser constante agora!”, desabafou no Twitter.

Em seguida, veio à tona a informação que, nos tempos em ele que trabalhou na Record, não podia mostrar suas tatuagens, já que a emissora vetava uma delas: a de Nossa Senhora Aparecida. O fato foi confirmado por Mion:

“Agora, eu não poder usar camiseta por conta da Nossa Senhora que tenho no antebraço é um fato. Não tem amargura ou ingratidão da minha parte! Eu sempre aceitei e respeitei a decisão deles! É uma diretriz da empresa, assim como qualquer empresa tem suas crenças e pilares”.

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Veto em Malhação bíblica

Todas as Garotas em Mim - Mharessa
Mharessa Fernanda como Mirela em Todas as Garotas em Mim (Reprodução / Record)

Situação semelhante ocorreu durante as gravações de Todas as Garotas em Mim. A atriz Mharessa Fernanda precisou apagar as 17 tatuagens que possui antes de encarnar Mirela, protagonista da trama chamada, nas redes sociais, de Malhação bíblica.

“Todos os dias eu parecia um espantalho com muita gente apagando os desenhos. Demorava uns 20 minutos”, contou ao portal F5, da Folha de São Paulo.

A atriz, também evangélica, lamentou o processo:

“As pessoas me julgam por eu ter tatuagens, piercings, mas o que tem de nos unir é o amor e a fé da forma mais pura. A religiosidade impõe que eu não seja assim, mas é Jesus quem olha o meu coração”.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor