Após pressão do governo, artista teve aval de Lula para fazer novela

Tássia Camargo e Antonio Grassi

Tássia Camargo e Antonio Grassi

Muitos artistas acumulam funções, inclusive na política. Um exemplo é a atual Ministra da Cultura, a cantora Margareth Menezes, que cuida da pasta e continua fazendo shows pelo Brasil.

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Divulgação

Em Chocolate com Pimenta (2003), que está sendo reprisada, um ator precisou ter o aval do Presidente da República para pode fazer parte da trama.

Na novela de Walcyr Carrasco, Antônio Grassi (na foto acima, com Tássia Camargo) deu vida à Reginaldo, um homem viciado em jogos que acaba perdendo a filha Celina (Samara Felippo) em uma partida de cartas para o Conde Klaus (Cláudio Corrêa e Castro). Apaixonado por Jezebel (Elizabeth Savala), ele não tem a menor chance com a vilã, já que ela não dá a mínima para o seu sentimento, pois é um homem falido.

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O presidente autorizou

Reprodução / Globo

Na época em que foi convidado para atuar, Grassi era presidente da Funarte (Fundação Nacional de Arte), e tinha sido indicado pelo presidente da época, Luís Inácio Lula da Silva (foto acima). O ator teve que pedir autorização para o político, que deu carta branca para que ele pudesse trabalhar.

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“Lula me disse que ser ator era o meu maior patrimônio. E eu não queria romper o vínculo com a minha carreira artística, que estava sendo deixada de lado. Tentei levar em consideração o fato de que um dos diferenciais nossos no governo é que nós somos também artista”, contou o ator em entrevista a Folha de S. Paulo em 19 de outubro de 2003.

Entre a Funarte e a novela

Divulgação / Globo

O grande desafio de Grassi foi dividir as gravações de Chocolate com Pimenta e as responsabilidades na Funarte, que não eram poucas.

“Conseguimos conciliar minha agenda na Funarte com as gravações. Gravo geralmente à tarde. Venho para a Funarte por volta das 8h30, vou gravar às 13h e volto à noite, para arrematar o que ficou faltando”, explicou a Istoé Gente, em 30 de outubro de 2003.

Atuando nas duas áreas

Reprodução

Mesmo com o aval do presidente, políticos questionaram essa dupla jornada de Grassi, que teve que se explicar na Comissão de Ética Pública do governo.

“Quando assumi meu cargo, enviei à Comissão de Ética um documento enumerando as chances de atividades que teria paralelas à função na Funarte. Citei meu trabalho de ator e a probabilidade mais corrente, que é a de trabalhar com a Globo, como faço há 23 anos. Não houve qualquer manifestação contrária”, disse.

A Globo e a Funarte

Outro ponto levantado por políticos era um suposto envolvimento da emissora carioca com a Fundação.

“Na história da Funarte não existe qualquer convênio com a Globo. E na nova estrutura do Ministério, o audiovisual está ligado à Secretaria do Audiovisual. Por isso quero que a Comissão me ouça, para que eu possa esclarecer tudo”, contou Grassi.

O artista em primeiro lugar

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Ao se questionado sobre qual profissão ele escolheria para seguir atuando, ele não pensou duas vezes:

“Não posso jogar fora uma carreira de ator construída há quase 30 anos. Se tivesse de optar, seria artista”.

No final, a Comissão de Ética entendeu que o seu trabalho na novela não afetava o expediente na Funarte, cargo que ele manteve até 2006.

Grassi esteve presente em várias produções. Como uma Onda (2004), Chamas da Vida (2008), A Lei e o Crime (2009), Ribeirão do Tempo (2010), Milagres de Jesus (2014) e Vitória (2014), foram alguns de seus trabalhos na TV. Seu mais recente trabalho foi na série Bom Dia, Verônica (2020), da Netflix.

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