Após patrocinar Jornal Nacional, banco anunciou falência e deixou clientes na mão

11/11/2024 às 14h06

Por: Fabio Marckezini
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William Bonner no comando do Jornal Nacional (Reprodução / Globo)

Os telespectadores do Jornal Nacional, da Globo, foram surpreendidos recentemente com o patrocínio do Nubank, que custou 110 milhões de reais.

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William Bonner no comando do Jornal Nacional (Reprodução / Globo)

Além de oferecer o noticioso, a marca da instituição aparece nas idas dos intervalos, mostrando as cotações das moedas estrangeiras e os números da bolsa de valores.

Não é a primeira vez que um banco patrocina o principal jornal do país. Nos anos 1970, o Banco Nacional marcou época com uma vinheta e uma trilha que ficou na memória do público.

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Porém, o fim da instituição financeira foi agonizante e com escândalos de corrupção.

De Minas para o Brasil

Jornal Nacional - Cid Moreira

Cid Moreira à frente do Jornal Nacional, na década de 1970 (Divulgação / Globo)

Fundado em 1944 pelos irmãos Magalhães Pinto e Valdomiro de Magalhães, o Banco Nacional tinha sede em Minas Gerais, e aos poucos foi crescendo e se espalhando pelo Brasil. O logotipo, que lembrava um guarda chuva, passou a ser uma marca reconhecida por todos, ganhando espaço na TV e em eventos.

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Nas primeiras décadas da televisão era comum famosas marcas batizaram programas de televisão: Repórter Esso, Mappin Movietone, Grande Gincana Kibon e Espetáculos Tonelux são algumas das atrações “patrocinadas” que marcaram a história do veículo.

Em 1969, a Globo preparava o lançamento do primeiro jornal em rede para todo o Brasil. O patrocínio seria do Banco Nacional e a emissora aproveitou a chance: no dia 1º de setembro daquele ano nascia, para todo o Brasil, o Jornal Nacional.

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Na memória

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Cid Moreira e Hilton Gomes levaram as principais notícias do dia para todo o país, de forma simultânea, via satélite – antes as transmissões variavam de acordo com as regiões. Era a primeira vez que isso ocorria na TV, colocando uma nova era do jornalismo televisivo.

Antes do jornal entrar no ar, um locutor anunciava: “Com o prestígio do Banco Nacional, e das empresas do Grupo Nacional, você vai assistir agora a uma emissão jornalística da Rede Globo”.

A vinheta era embalada por Summer 68’, da banda inglesa Pink Floyd. Tal vinheta marcou uma geração, que também esperava os primeiros acordes de The Fuzz, trilha do Jornal Nacional, para saber as principais notícias do Brasil e do mundo.

O banco deixou de patrocinar o JN anos depois, e outras instituições assumiram o noticioso, como Unibanco, Bradesco, HSBC, Crefisa e Itaú.

O banco do Ayrton Senna

Ayrton Senna em entrevista a Britto Jr (Reprodução / Instagram)

O Nacional, longe do JN, fincou sua marca na Fórmula 1 ao patrocinar o jovem Ayrton Senna, em 1985. O piloto carregou na cabeça o boné azul com a marca do Nacional e sua assinatura até 1994, ano de sua morte.

O acessório é vendido e procurado por fãs do piloto até hoje, anos depois da morte de Senna e do fim do banco. Esse é considerado um dos melhores projetos de marketing da história, pois em todos vídeos e fotos, a marca está no macacão e no capacete de Senna.

“A imagem que temos de um banco é de algo ruim, que nos cobra no final de cada mês, mas o Nacional conquistou posição interessante principalmente quando originou o nome do Jornal Nacional”, falou Marcelo Boschi, professor de branding da ESPM-RJ, à revista Exame em 3 de janeiro de 2011.

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O fim de uma era

Banco Nacional - Marcos Magalhães Pinto

Marcos Magalhães Pinto (Robson de Freitas)

O Nacional chegou ao fim em 1995, quando o Banco Central fez uma intervenção, descobrindo centenas de contas fictícias, com saldos enormes, muito maior que o próprio banco valia.

A dívida da empresa girava em torno de 5,36 bilhões de reais. Em 1° de maio de 2019, a Motor Sport revelou que Senna estampava a marca do Nacional mesmo sem receber: o banco já enfrentava problemas desde 1988.

O Bacen dividiu o Nacional em duas partes: o pedaço bom (good bank), ficou com o Unibanco, e o pedaço ruim (bad bank) sobrou para o próprio Nacional, que acabou sofrendo uma liquidação, sendo extinto em 1996.

Marcos Magalhães Pinto, então controlador do banco, e mais 32 pessoas, foram acusadas de fraude. Em 2002, Marcos foi condenando em 28 anos de prisão. A pena foi reduzida para 12 anos em 2010.

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