O Sol do título não foi a única similaridade entre Sol Nascente e Segundo Sol, novelas exibidas, respectivamente, em 2016/2017 e 2018. As duas tramas se mostraram enfadonhas, desinteressantes, repletas de personagens mal construídos e mocinhos sem química. Para o azar de Giovanna Antonelli, a atriz protagonizou as duas produções. Infelizmente, ganhou péssimas mocinhas em sequência.

A intérprete já é uma profissional consagrada e tem vários trabalhos elogiados em seu currículo. Não precisa mais provar nada a ninguém. Porém, é uma pena que tenha sido tão desvalorizada nas duas novelas citadas. E causa até estranhamento falar em subaproveitamento, afinal, são duas heroínas. O problema é que Alice e Luzia representaram absolutamente tudo o que não se espera de uma boa mocinha de novela: passividade, burrice, pouca importância para o andamento do roteiro e falta de química com seus pares.

Ironicamente, as duas ainda enfrentaram outro problema: a inverossimilhança a respeito de sua origem. A protagonista de Sol Nascente era filha adotiva de uma família japonesa, cujo patriarca era Kazuo, vivido por Luis Melo, que nunca foi japonês. Embora tenham reforçado várias vezes que a personagem era adotada, houve uma avalanche de críticas em torno da escalação dos atores. O mesmo ocorreu em Segundo Sol, uma vez que uma inexistente Bahia majoritariamente branca acabou representada pela novela de João Emanuel Carneiro.

E Giovanna na pele de uma baiana foi motivo de questionamento até da cúpula da emissora, mas o autor não quis abrir mão. Claro que, em ambos os casos, a culpa não é da atriz e, sim, de quem a escalou. Mas não deixa de ser irônico ver o mesmo erro se repetir em duas novelas seguidas e com a mesma intérprete.

Alice era uma mocinha insossa. Seu único conflito era a descoberta do amor do seu então melhor amigo, Mario (Bruno Gagliasso). Depois que o rapaz se declarou, a relação de amizade ficou abalada e eles se separaram por anos. Ela, então, se envolveu com o vilão César (Rafael Cardoso) e só constatou que realmente amava seu amigo quando Mario retornou de viagem. Pronto, essa bobagem era o grande drama do enredo da heroína. Impossível despertar qualquer tipo de interesse. Para culminar, Giovanna e Gagliasso não tiveram a menor química e, mesmo com mais de 30 anos nas costas, os mocinhos se comportavam feito adolescentes imaturos. Tanto que a trama não marcou e a repercussão foi nula. A atriz nem conseguiu se sobressair. Não teve qualquer cena relevante.

Após esse trabalho mal-sucedido, era esperado um retorno triunfal de Giovanna Antonelli. Até porque é o mínimo que poderia se esperar de uma atriz com seu talento. Mas, lamentavelmente, essa volta resultou em um banho de água fria. Luzia se mostrou uma mocinha tão equivocada quanto Alice, repetindo quase todos os problemas da anterior. A protagonista de Segundo Sol foi uma decepção. A estupidez da personagem é uma afronta ao público e sua passividade ultrapassou todos os limites. Sem dúvida, foi a pior mocinha de João Emanuel Carneiro, que já tinha falhado seriamente na construção da boboca Bel (Mariana Ximenes), em Cobras & Lagartos, e da cansativa Tóia, em A Regra do Jogo.

Luzia passou a novela inteira fugindo das vilãs e caindo em armadilhas. Nunca teve coragem de enfrentar Karola (Deborah Secco) e Laureta (Adriana Esteves), além de ter protagonizado situações estapafúrdias, como sair com uma ridícula peruca ruiva sem ser reconhecida por ninguém, mesmo depois de ter ficado conhecida nacionalmente quando Beto Falcão (Emílio Dantas) revelou quem era o amor de sua vida.

Nem mesmo teve coragem para contar a Valentim (Danilo Mesquita) que era sua mãe e deixou a missão para Rosa (Letícia Colin), uma das responsáveis pela mentira bem guardada das vilãs. A sua vingança também não funcionou. Após ter sido presa duas vezes, a marisqueira prometeu acabar com as rivais, mas a única coisa que conseguiu foi expor a relação de Karola e Remy (Vladimir Brichta) em público, o que resultou em um banho de milkshake na inimiga. Para culminar, viu o aliado Galdino (Narcival Rubens) ser morto e Roberval (Fabrício Boliveira) parar na cadeia. Sua relação com Beto foi outro ponto que não atraiu. Os atores até protagonizaram algumas cenas delicadas no início do folhetim, mas o encantamento do par se perdeu em virtude de tantas falhas no roteiro. Aliás, a novela não teve bons casais.

A mocinha continuou acuada e se dando mal até nas últimas semanas de história. Foi presa pela terceira vez (já podia pedir música no Fantástico) e ainda demonstrou não sentir raiva de Karola, mesmo depois de tudo. É uma heroína que despertou torcida contra diante de tamanha nulidade.

A atriz não merecia um papel tão ruim, depois de ter sido presenteada pelo autor com a ótima vilã Bárbara, em Da Cor do Pecado (2004), e a 171 Atena, de A Regra do Jogo (2015).

Giovanna Antonelli é uma atriz que já brilhou em várias produções. Mas, infelizmente, ganhou duas mocinhas repletas de equívocos em sequência e em duas novelas problemáticas. Alice e Luzia não fizeram jus ao talento da intérprete, que não conseguiu se sobressair na pele dessas personagens mal desenvolvidas e insossas.

Que ela tenha sorte em seu próximo trabalho, como Sara, uma das protagonistas de Quanto Mais Vida, Melhor, próxima novela inédita das sete da Globo, que estreia ainda em novembro. Está precisando.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor