André Santana

Durante a gestão de Silvio de Abreu como diretor de teledramaturgia, a Globo lançou nada menos que 17 novos autores de novelas. Somados aos outros tantos medalhões que a emissora mantém em seus bancos (fora os que foram dispensados recentemente), o canal ostenta um grande time de roteiristas especializados no bom e velho folhetim.

Elas Por Elas - Christiane Torloni e Reginaldo Faria
Divulgação / Globo

Curiosamente, passado o período mais intenso de lançamentos, a Globo agora se fecha em “panelinhas”. A recente escalação de Thereza Falcão e Alessandro Marson para tocar o remake de Elas por Elas (1982), enquanto outros novelistas estão no banco ou foram dispensados, mostra que o canal tende a apostar nos mesmos nomes de sempre.

Revisita a Cassiano Gabus Mendes

Nos Tempos do Imperador - Letícia Sabatella e Mariana Ximenes
Divulgação / Globo

Entre os 17 novos autores lançados pela emissora nos últimos anos estão Thereza Falcão e Alessandro Marson. A dupla estreou com êxito em Novo Mundo (2017), mas não foram tão felizes em Nos Tempos do Imperador (2021). Eles ainda tinham dois projetos engatilhados: mais uma novela histórica, desta vez sobre a Princesa Isabel, e uma trama contemporânea inédita.

No entanto, a direção da Globo paralisou tais projetos e encomendou aos autores o remake de Elas por Elas, já confirmada na fila das seis, logo após Amor Perfeito. A escolha por uma revisita à obra de Cassiano Gabus Mendes mostra que a emissora pretende fazer apostas seguras, produzindo novelas já testadas.

Mas chama a atenção a escolha justamente dos autores de Novo Mundo para tocarem o trabalho. Afinal, a Globo acaba de dispensar Maria Adelaide Amaral, veterana que é profunda conhecedora da obra de Cassiano Gabus Mendes. A dramaturga seria a escolha óbvia para a missão.

Remakes de sucesso

Maria Adelaide Amaral (foto acima) nunca escondeu que considerava Cassiano Gabus Mendes seu grande mentor nas novelas. Ela declarou que foi o pioneiro da TV brasileira quem lhe ensinou os meandros da escrita de um folhetim, quando integrou sua equipe nas novelas Meu Bem Meu Mal (1990) e O Mapa da Mina (1994).

Isso a credenciou a revisitar a obra de Cassiano em duas oportunidades. Com o remake de Anjo Mau (1997), ela fez sua estreia como autora titular e assinou um dos maiores sucessos da faixa das seis daquele período. Depois, em 2010, reinventou Ti-ti-ti (1985), num remake que também reunia tramas de outra novela de Cassiano, Plumas & Paetês (1981). Mais um grande sucesso!

Ou seja, Maria Adelaide Amaral tinha todas as condições de, novamente, estar à frente de um remake do autor. Além disso, vale lembrar que, antes de ser dispensada, ela estava na fila da faixa das seis com O Selvagem da Ópera, trama que nunca saiu do papel.

Outro nome que também poderia assumir o trabalho é Vincent Villari. O autor colaborou com Maria Adelaide em Anjo Mau e Ti-ti-ti, o que também o credencia para a missão. Porém, após o fiasco de A Lei do Amor (2016), que ele assinou com Amaral, o roteirista nunca mais emplacou novo trabalho como autor principal. Atualmente, ele é colaborador de João Emanuel Carneiro em Todas as Flores.

Sem chance

Éramos Seis - Bárbara Reis e Cássio Gabus Mendes
Estevam Avellar / Globo

Mas Villari não é o único a não ganhar uma nova oportunidade na Globo como autor titular. Vários outros roteiristas lançados na última leva não conseguiram emplacar novos projetos. A maioria, inclusive, já foi até dispensada da emissora.

É o caso de Marcos Bernstein, que deixou o canal após Além do Horizonte (2013) e Orgulho e Paixão (2018), ou Ângela Chaves, também dispensada após Os Dias Eram Assim (2017) e Éramos Seis (2019). Paulo Halm, Filipe Miguez e João Ximenes Braga foram outras baixas.

Há ainda o caso de Maria Helena Nascimento, que não voltou mais ao ar mesmo após ter assinado a simpática Rock Story (2016). Ela tenta emplacar uma novela no horário nobre, mas, até aqui, a ideia não avançou.

Enquanto isso, Alessandro Marson e Thereza Falcão seguem na ativa. Além deles, Claudia Souto, Alessandra Poggi e Daniel Ortiz, também representantes da nova leva, tocaram trabalhos recentes e devem voltar ao ar. Rosane Svartman, no ar em Vai na Fé, é outro exemplo.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor