Diretor de teledramaturgia da Globo entre 2014 e 2020, Silvio de Abreu procurou organizar uma fila de autores e produções nos três principais horários de novelas da emissora. O autor trabalhava com uma frente de aproximadamente três anos, no intuito de otimizar as produções e poder fazer mudanças com tranquilidade, se assim fosse preciso.

Gloria Pires
Reprodução / Globo

O horário das seis, por exemplo, era a faixa em que Abreu deixou o maior número de projetos engatilhados. Antes de deixar a Globo, o ex-diretor tinha nada menos que cinco tramas na fila do horário para serem produzidas entre 2019 e 2022. Mas a pandemia e a troca de comando da direção do canal alterou os planos.

Pandemia e mudança de direção

Alcides Nogueira
Divulgação / Globo

Em dezembro de 2019, o portal Notícias da TV informava que o veterano Alcides Nogueira (foto acima) havia acabado de entregar à Globo o projeto de uma nova novela das seis, baseado no livro A Intrusa, de Julia Lopes de Almeida. De acordo com a publicação, o novo folhetim tinha boas chances de ser aprovado, mas estrearia apenas três anos depois.

Isso porque a fila da faixa das seis já estava comprometida até 2022 com os projetos anteriormente aprovados por Silvio. Naquele momento, estava no ar o remake de Éramos Seis, escrita por Angela Chaves, e outras cinco tramas já estavam aprovadas para entrarem na sequência.

A previsão era que Éramos Seis fosse substituída por Nos Tempos do Imperador, de Alessandro Marson e Thereza Falcão, em março de 2020. Depois, viria Além da Ilusão, de Alessandra Poggi.

Essa organização foi mantida mesmo com a saída de Silvio de Abreu da emissora e sua substituição por José Luiz Villamarim. No entanto, com a pandemia e a mudança de direção, outros projetos já confirmados acabaram ficando pelo caminho.

Medalhões na fila

Malu Mader em Haja Coração

Antes da pandemia, a previsão era que Bruno Luperi fizesse sua estreia na faixa das seis com O Arroz de Palma, um antigo projeto do neto de Benedito Ruy Barbosa que deveria substituir Além da Ilusão. Mas a trama acabou sendo adiada indefinidamente, já que Nos Tempos do Imperador e a novela de Alessandra Poggi estrearam muito tempo depois do previsto, por conta do auge da pandemia da Covid-19. A escalação de Luperi para reescrever Pantanal (2022) também afetou a produção.

Após O Arroz de Palma, a trama seguinte seria O Selvagem da Ópera, de Maria Adelaide Amaral. O projeto nasceu como uma minissérie sobre a vida do compositor Carlos Gomes. Mas, a pedido do próprio Silvio de Abreu, Maria Adelaide topou transformar a produção numa novela das seis. Renan Monteiro já estava confirmado como o protagonista, enquanto Isabelle Drummond, Mateus Solano, Thiago Lacerda e Luis Miranda também estavam escalados.

Na sequência, outro medalhão entraria no horário. Trata-se de Gilberto Braga, que, em parceria com Denise Bandeira, assinaria Feira das Vaidades, baseada no livro Vanity Fair, de William Makepeace Thackeray. O folhetim, que seria estrelado por Malu Mader (na foto acima em Haja Coração), foi um dos vários projetos que Braga tentou emplacar na Globo antes de sua morte, no final de 2021.

Assim, o novo projeto de Alcides Nogueira, se aprovado, só estrearia após a trama de Gilberto Braga, em 2022.

Demissões

A fila da faixa das seis foi bastante afetada com a pandemia e a mudança na direção da Globo. Todas as tramas previstas foram indefinidamente adiadas, em razão do fechamento dos estúdios do canal. Enquanto isso, a faixa foi ocupada pelas reprises de Novo Mundo (2017), Flor do Caribe (2013, na foto acima) e A Vida da Gente (2011).

Neste meio-tempo, várias outras mudanças aconteceram. Silvio de Abreu deixou a Globo e, em seu lugar, assumiu José Luiz Villamarim. Além disso, a emissora iniciou os planos de priorizar acordos por obra e enxugar sua folha de pagamento, o que culminou com a dispensa de vários dos autores de novelas.

Assim, Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira foram dois dos medalhões dispensados, o que levou ao engavetamento de seus respectivos projetos. Já Gilberto Braga conviveu com a dúvida quanto ao futuro de Feira das Vaidades e faleceu em outubro de 2021, sem conseguir emplacar sua trama. O autor sonhava em assinar um sucesso para esquecer Babilônia (2015) de vez.

Depois disso, Mar do Sertão, de Mário Teixeira, “furou a fila”, já sob a nova gestão de teledramaturgia da emissora. Na sequência, virão novos projetos da nova diretoria: Amor Perfeito e o remake de Elas por Elas.

Outros horários

Cara e Coragem - Paolla Oliveira e Rafael Cardoso
Camilla Maia / Globo

O Notícias da TV também adiantou quais os projetos engatilhados para os demais horários da Globo. Na época, a previsão era que Salve-se Quem Puder fosse substituída por Cara e Coragem (então chamada de Amor em Ação), de Claudia Souto, e Quanto Mais Vida, Melhor (com o nome A Morte Pode Esperar), de Mauro Wilson. Os projetos foram mantidos, mas invertidos.

Já na faixa das nove, Um Lugar ao Sol (então chamada de Em Seu Lugar) estava garantida como a substituta de Amor de Mãe. A obra de Lícia Manzo seria substituída por uma nova novela de João Emanuel Carneiro e, depois, entraria Maria Helena Nascimento com uma trama chamada de Roda da Fortuna.

Essa fila mudou bastante: o remake de Pantanal “furou a fila”, assim como a novela de Gloria Perez, Travessia, e a próxima, de Walcyr Carrasco. Já a trama de João Emanuel Carneiro, Todas as Flores, migrou para o Globoplay.

Enquanto isso, Maria Helena Nascimento e Ricardo Linhares seguem trabalhando num projeto, chamado O Grande Golpe, mas sem qualquer previsão de estreia.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor