André Santana

Em 1993, a primeira fase de Renascer durou cinco capítulos. Mas, no remake da obra de Benedito Ruy Barbosa, essa quantidade será estendida. A previsão é que o prólogo da história de José Inocêncio (Humberto Carrão) fique no ar por 13 capítulos – ou pouco mais de duas semanas.

Marcos Palmeira, Duda Santos e Humberto Carrão em Renascer
Marcos Palmeira, Duda Santos e Humberto Carrão em Renascer (divulgação/Globo)

Trata-se de uma mudança que pode trazer alguns riscos à produção. Afinal, já houve casos de novelas que foram bastante prejudicadas por conta da divisão em fases. A Lei do Amor (2016) é um exemplo recente e até Pantanal (1990) passou por apuros em razão da divisão.

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Duas fases

 

Autor de Renascer, Benedito Ruy Barbosa é adepto da divisão em fases de suas novelas. Como grande parte de suas tramas são sagas familiares, o recurso serve para que o espectador entenda a origem dos protagonistas. Além de Renascer, Pantanal e O Rei do Gado (1996) foram algumas das outras tramas do autor que tiveram primeiras fases marcantes.

Na primeira versão de Renascer, o público embarcou no romance entre José Inocêncio (Leonardo Vieira) e Maria Santa (Patrícia França), que durou apenas cinco capítulos. Foi uma primeira fase tão elogiada que Antonio Fagundes até revelou que ficou chateado por não estar presente nela – ele só encarna o protagonista na segunda fase.

Aliás, foi justamente por isso que o veterano teve dois personagens em O Rei do Gado. Além do protagonista Bruno Mezenga, Fagundes viveu também Antônio, o avô de Bruno, na elogiada primeira fase da trama. Desta vez, ele quis participar de tudo!

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Deu tudo errado

Vera Holtz e Tarcísio Meira em A Lei do Amor

Renascer e O Rei do Gado são exemplos de novelas que tiveram primeiras fases bem-sucedidas. Mas nem todas as novelas têm essa sorte. A Lei do Amor, por exemplo, foi bastante prejudicada ao apostar num prólogo que serviu apenas para confundir o espectador. A novela amargou baixíssimos índices de audiência e foi considerada um fiasco.

A primeira e única novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari no horário nobre da Globo começou contando o início do romance entre Pedro (Chay Suede) e Helô (Isabelle Drummond). Em quatro capítulos e meio, foi mostrado como eles se apaixonaram e como uma armação de Mag (Vera Holtz) separou o casalzinho.

Mas a primeira fase acabou afundando a novela. Além de desnecessária – a trama poderia ter sido explicada em flashbacks tranquilamente -, a primeira fase confundiu a audiência. Por exemplo: Vera Holtz era Mag nas duas fases. Mas Gabriela Duarte (Suzana) virava Regina Duarte, enquanto Thiago Martins (Tião Bezerra) virava José Mayer.

Em entrevista ao seu canal no YouTube, o autor Vincent Villari revelou que a primeira fase não estava prevista e acabou se revelando um erro. Villari também criticou os vários equívocos de escalação e reconheceu que a troca de atores confundiu o público.

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Outro caso

Pantanal - Renato Góes
Renato Góes em Pantanal (Divulgação / Globo)

Mas há casos em que o problema é justamente o contrário: a primeira fase vai tão bem que o público rejeita a passagem de tempo. É o caso de Pantanal, cuja primeira versão caiu nas graças da audiência da Manchete.

Em 1990, o público se apaixonou pelo José Leôncio de Paulo Gorgulho. Por isso, houve certa resistência quando o tempo passou e Claudio Marzo assumiu o papel. Benedito Ruy Barbosa, de olho na popularidade de Gorgulho, até o trouxe de volta na segunda fase com um novo personagem, José Lucas de Nada.

No remake da Globo em 2022, aconteceu algo parecido. Renato Góes também caiu nas graças do público, que acabou lamentando sua substituição por Marcos Palmeira na fase seguinte. Não por acaso, a Globo logo escalou o galã para Mar do Sertão (2022).

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor