André Santana

Em Travessia, Alexandre Nero repete um dos principais personagens de sua carreira. O advogado Stenio, que vivia uma relação de gato e rato com a ex-esposa Helô (Giovanna Antonelli) em Salve Jorge (2012), catapultou de vez a carreira do ator, que vinha de bons serviços prestados em novelas como A Favorita (2008), Escrito nas Estrelas (2010) e Fina Estampa (2011).

Travessia - Alexandre Nero
Reprodução / Globo

Não é exagero dizer que Nero, ao lado de Giovanna, carregou a problemática Salve Jorge nas costas. Feito que ele repetiu depois, com excelentes performances em tramas como Império (2014) e, mais recentemente, Nos Tempos do Imperador (2021).

Por conta disso, é inadmissível que Alexandre tenha sido tão mal aproveitado em Travessia. A volta de Stenio, que poderia ser um curinga na novela de Gloria Perez, revelou-se desnecessária, fazendo com que o brilhante ator tivesse uma passagem apagada na atual trama das nove.

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Sucesso estrondoso

Salve Jorge - Alexandre Nero e Giovanna Antonelli
Divulgação / Globo

Com Salve Jorge, Gloria Perez foi alvo de inúmeras críticas, algumas bastante parecidas com as que a autora vem recebendo agora, com Travessia. A novela de 2012 revelou-se bastante mal ajambrada com sua abordagem sobre o tráfico humano.

A mocinha, Morena (Nanda Costa), não caiu nas graças do público e a novela tinha momentos de puro humor involuntário, por conta das soluções estapafúrdias criadas pela novelista. Foi nessa época que a autora consagrou a frase “pobre de quem não sabe voar” para justificar seus devaneios.

Mas Salve Jorge conseguiu fugir do desastre total graças ao casal Helô e Stenio. A delegada e o advogado acabaram assumindo o protagonismo do folhetim e caíram no gosto da audiência. As idas e vindas do casal divertiam, ao mesmo tempo em que os personagens tinham uma intensa participação na investigação da quadrilha de tráfico humano liderada por Lívia Marine (Claudia Raia), que era o cerne do enredo.

Ladrão de cenas

Nos Tempos do Imperador - Alexandre Nero
Divulgação / Globo

Com isso, Alexandre Nero e Giovanna Antonelli carregaram Salve Jorge nas costas. Algo que Nero voltou a fazer em tramas posteriores, em razão de seu talento e carisma. Império, por exemplo, era toda centrada no Comendador José Alfredo, seu personagem, e foi muito auxiliada por sua performance.

Nas mãos de outro ator, o Comendador poderia ter virado uma caricatura, ou uma figura tragicômica, em razão de seus vários tiques e contradições. No entanto, Nero conseguiu humanizar essa figura controversa, fazendo do protagonista de Império um grande sucesso.

Mais recentemente, Alexandre Nero carregou outra novela nas costas, Nos Tempos do Imperador. A trama de Alessandro Marson e Thereza Falcão teve seus problemas, mas acertou em cheio na construção do vilão Tonico Rocha. O personagem, cheio de camadas e que criava um diálogo com a contemporaneidade, foi um verdadeiro trunfo na narrativa sobre Dom Pedro II (Selton Mello).

Apagado

Travessia - Alexandre Nero e Giovanna Antonelli
Fábio Rocha / Globo

Com isso, esperava-se muito da volta de Stenio em Travessia. Se o advogado conseguiu virar os holofotes para si e livrar Salve Jorge do fiasco, ele poderia fazer o mesmo na atual novela das nove. Muitos acreditavam que Gloria Perez voltaria a transformar o advogado e Helô em protagonistas.

Mas isso não aconteceu. Ao contrário de Salve Jorge, as presenças de Helô e Stenio foram absolutamente dispensáveis em Travessia. A personagem de Giovanna Antonelli ainda teve um pouco mais de sorte, ao ser inserida em boa parte das investigações dos crimes que acontecem na novela. Mas Stenio foi quase “esquecido no churrasco”.

Sem trama própria, o advogado se tornou “orelha” de Moretti (Rodrigo Lombardi), em sequências sem grande importância. Ele chegou a ser sequestrado por uma quadrilha internacional, mas a trama em nada acrescentou ao enredo de Travessia. Parecia uma novela à parte.

Alexandre Nero carregou nas costas várias das novelas em que participou. Mas, em Travessia, isso não aconteceu. A novela das nove é um ponto fora da curva em sua bela trajetória na Globo.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor