Após início cansativo, O Outro Lado do Paraíso ganha novo fôlego
02/12/2017 às 10h00
Uma outra novela. Pode-se dizer que O Outro Lado do Paraíso se transformou bastante desde os últimos capítulos da primeira fase e sua transição para a etapa atual. A história das 21h de Walcyr Carrasco, cujos primeiros capítulos pecavam pelas abordagens confusas, pela falta de sutileza característica do texto do autor (em alguns núcleos beirando a caricatura) e pelo ritmo arrastado, ganhou força desde o começo da semana passada, que se refletiu também na definitiva passagem de tempo.
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O martírio de Clara (Bianca Bin), que já sofria com as constantes agressões do marido Gael (Sérgio Guizé), tornou-se ainda pior quando a sogra Sophia (Marieta Severo) moveu forças para internar a garota em uma clínica psiquiátrica, localizada em uma ilha distante, e ainda expulsou o avô dela, Josafá (Lima Duarte) do bar em que vivia para explorar a mina de esmeraldas que existia abaixo daquelas terras.
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Por lá, ela conheceu Beatriz (Nathalia Timberg), uma misteriosa senhora que havia sido internada pela própria neta (Fabiana, personagem de Fernanda Rodrigues). Herdando a fortuna da nova amiga, a mocinha jurou se vingar de todos os que a humilharam, numa situação que lembra a trajetória de Ana Francisca (Mariana Ximenes), protagonista de Chocolate Com Pimenta (2003-04), do mesmo autor. Em meio a isso, Lívia (Grazi Massafera) se apoderou do filho de Clara, Tomás (vivido por Vitor Figueiredo) e se casou com Renato (Rafael Cardoso).
Na terça-feira da semana passada, em meio a boatos de cortes e alterações, a história começou a apresentar um ritmo bem diferente do que trazia até então: muito mais ágil e dinâmica, com destaque para as grandes cenas da internação de Clara no hospício e da explosão do bar de Josafá.
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As cenas destacaram o talento de Bianca Bin, Marieta Severo e Lima Duarte, que vêm brilhando desde os primeiros capítulos, além de deixarem claro que a primeira fase não precisava ser tão extensa – o que deixava a impressão de que a novela era muito “pesada” em função das constantes reiterações e da mão forte do autor na condução dos temas.
E, na última segunda, a esperada passagem de tempo finalmente se concretizou, mostrando também o que havia acontecido com outros personagens – como Raquel (Érika Januza), ex-empregada de Nádia, que entrou para a faculdade de Direito, prestou concurso público e foi nomeada a nova juíza de Palmas; Bruno (Caio Paduan), agora casado com a médica Tônia (Patrícia Elizardo), que forjou uma gravidez; e o romance proibido entre Sophia e o garimpeiro Mariano (Juliano Cazarré). As boas sequências da transição de fase foram enriquecidas pelas canções That Smell (Lynyrd Skynyrd) e Hold On (Alabama Shakes).
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Na terça, mais grandes cenas: após Renato descobrir a internação de Clara, logo se dirigiu à clínica e reencontrou a mulher por quem se apaixonou no começo da primeira fase, prometendo ajudá-la a fugir daquele hospício. No entanto, a protagonista foi arremessada de um penhasco em direção ao mar, quase se afogando e lutando para sobreviver. Uma arrepiante cena na qual Bianca Bin mostrou mais uma vez sua competência, além da boa construção de trama feita por Walcyr e da direção impactante da equipe de Mauro Mendonça Filho.
Paralelamente, a história de Estela (Juliana Caldas), a filha anã de Sophia, ganhou novos contornos, contradizendo os rumores de que perderia espaço. Humilhada e expulsa de casa pela mãe, foi morar no interior do Tocantins, ao lado da empregada Rosalinda (Vera Mancini).
As duas atrizes protagonizaram cenas emocionantes e Juliana tem se mostrado uma boa revelação, além do prazer de rever Vera Mancini, que trabalhou antes com Walcyr nas irregulares Morde e Assopra (2011) e Amor à Vida (2013-14).
Outros nomes que também merecem elogios são Nathalia Timberg (que fez uma participação curta, mas emocionou muito como Beatriz), Mayana Neiva (segura e exuberante na pele da prostituta Leandra), Erika Januza (que tem apresentado uma sensível melhora), Caio Paduan (ótimo como Bruno) e Fernanda Montenegro (um dos maiores destaques da novela até aqui).
Por outro lado, Juliano Cazarré e Eriberto Leão não convencem como o garimpeiro amante de Sophia e o médico homossexual enrustido, respectivamente. Rafael Cardoso, intérprete de Renato, repete trejeitos de papeis anteriores, como se estivesse atuando de forma automática. Ellen Rocche, por sua vez, se sai bem como a sensual enfermeira Suzy, mas o contexto a personagem em que está inserida beira ao constrangedor, pois resvala na caricatura fácil.
Deve-se ainda pontuar que o núcleo de Elizabeth/Duda (Glória Pires), de grande destaque na primeira etapa, agora aparenta estar deslocado do resto da história, haja vista a falta de destaque durante a transição. Espera-se que agora, com o encontro de Clara e Duda, as histórias se integrem mais.
Ainda assim, a melhora na dinâmica teve resultados significativos no ibope. A novela saltou de índices em torno dos 30 pontos, na semana passada, para 36 (segunda) e 39 (terça-feira). Algo impressionante, uma vez que a novela vinha em tendência de queda (algo até natural em função do horário de verão, que também contribui para que os números diminuam). A mudança de ares, afastando o aspecto “sombrio” do enredo, aparentemente, agradou o público.
E há muitas facetas a serem exploradas: a concretização da vingança de Clara (um clichê tradicional da teledramaturgia); a virada de Raquel como juíza, surpreendendo Nádia (Eliane Giardini), a patroa que a humilhou; a linda relação de Mercedes e Josafá – o melhor casal da novela; e o aguardado retorno de Caetana (Laura Cardoso), que irá ficar até o fim da história.
Embora muito se critique o autor Walcyr Carrasco por seu estilo pouco ou nada sutil, em detrimento de uma abordagem mais naturalista, é evidente a habilidade do autor em amarrar bem os entrechos de suas tramas e corrigir rumos que não evoluem como o esperado.
Na difícil missão de substituir a aclamada A Força do Querer, fenômeno do ano, Walcyr, elenco e equipe de O Outro Lado do Paraíso ainda têm um longo caminho pela frente. Porém, se o bom nível apresentado nos últimos capítulos continuar, o autor fatalmente terá mais um sucesso para seu vasto currículo.