No ano passado, a Globo anunciou a saída de Chico Pinheiro da emissora. Atualmente com 69 anos, o jornalista estava na casa desde 1996, tendo apresentado inúmeros jornalísticos da emissora, como SPTV, Jornal Nacional, Fantástico, Bom Dia São Paulo e Bom Dia Brasil, além do Carnaval de São Paulo.

SPTV

Afastado desde março de 2020 por conta da pandemia de Covid-19, ele voltou ao comando do telejornal em julho de 2021, após ser imunizado contra a doença.

Antes de ingressar na Globo, o destaque do jornalista de forma nacional não foi nessa emissora, já que ele começou sua jornada na Bandeirantes em 1989, apresentando o Canal Livre, e, depois, o Jornal da Noite, Jornal de Domingo e Jornal da Band.

Em 1995, Chico foi contratado pela Rede Record e, além de apresentador, tornou-se diretor de jornalismo. Na época, a emissora de Edir Macedo começava uma fase de total renovação na programação, buscando se firmar no cenário nacional como uma rede que não exibia apenas enlatados ou pregação dos bispos de madrugada: tinha esporte, jornalismo e variedades.

Edir Macedo

O jornalismo da Record não costumava abordar assuntos de outras religiões. Sendo assim, muitos fatos passavam batido nos jornais da emissora, como a visita de João Paulo II à sede das Nações Unidas.

Chute na santa

Chico Pinheiro

Quando Chico chegou à emissora, não se sentiu preocupado com as questões religiosas, mas, alguns meses depois de sua contratação, um episódio mancharia a história da Igreja Universal do Reino de Deus e ameaçaria a permanência de Chico no canal.

No dia 12 de outubro de 1995, durante o programa O Despertar da Fé, apresentado por Sérgio Von Helder, foram exibidas cenas do pastor chutando a imagem de Nossa Senhora Aparecida, enquanto ele afirmava que “isso aqui não funciona, isso aqui não é santo coisa nenhuma”. O episódio foi amplamente divulgado e criticado, tornando-se destaque no Jornal Nacional.

No jornalismo da Record, pairava a dúvida de como esse fato seria abordado. Em uma entrevista para o Jornal do Brasil em outubro de 1995, Chico fez duras declarações, que não foram bem vistas pelos dirigentes do canal.

“Meu compromisso é com a veiculação da notícia. Não estou trabalhando para uma igreja, mas para uma televisão, fazendo jornalismo, o que implica mostrar os fatos”.

A pedido da direção, seria veiculado um pedido de desculpas de Edir Macedo aos católicos. Mas Chico julgou que seria justo também colocar a entrevista do cardeal Dom Eugênio Sales, o que não era aprovado pelos diretores.

Não se intimidou

Chico Pinheiro e Carla Vilhena

Chico bolou um esquema com os seus colegas: separou uma fita com a entrevista do cardeal e deixou pronta para a exibição. Foi informado por Eduardo Lafond, diretor de programação na época, que estava vetada a exibição do material.

O jornalista não se intimidou e disse para a sua equipe que exibisse a matéria. Havia muito receio entre os integrantes e o apresentador se preparou para o caso da fita não ser colocada no ar: redigiu as principais partes da entrevista para ler ao vivo. E também cogitou falar no ar que foi censurado pela alta cúpula da emissora.

No final das contas, a matéria foi exibida e Chico ficou muito satisfeito, diferentemente dos diretores da emissora. Dias depois, o jornalista recebeu um memorando do presidente da emissora, Bispo João Batista, onde, segundo o jornal O Estado de São Paulo, afirmava que “Pinheiro teria denegrido a imagem da emissora ‘pela imprensa’, provocando o afastamento de anunciantes”.

“O memorando sugere que eu rompi o contrato por uma suposta infração da ética profissional. Mas não foi o que aconteceu: posso fazer minhas as palavras do apóstolo São Paulo quando diz que combateu o bom combate, mas guardou a sua fé”, afirmou Chico em entrevista ao Estadão.

Além dele, Ana Maria Pais Barreto, editora-chefe, também foi demitida da Record. Depois desse caso, Chico foi contratado pela rádio CBN e, em seguida, pela Globo.

Até hoje, o jornalismo da Record sofre críticas, mas, diferentemente de quando ignorou o Papa, a emissora transmitiu, por exemplo, o anúncio da escolha do argentino Francisco em 2013.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor