André Santana

A chegada de Faustão à Band deu o que falar. Do anúncio da assinatura do contrato, quando o apresentador ainda estava no ar na Globo, até a estreia propriamente dita, em janeiro de 2022, a mudança de canal do animador mexeu com a TV brasileira. O fato de ele assumir uma atração diária gerou ainda mais barulho.

Faustão na Band - Anne Lottermann
Faustão e Anne Lottermann (Divulgação / Band)

Mas, um ano e meio após a estreia de Faustão na Band, o programa já vive seus momentos finais. A vida curta deixou bem claro que, ao sair da Globo, Fausto Silva acabou dando um passo maior que a perna. Toda a expectativa criada em torno se mostrou irreal.

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Padrão Globo

Faustão na Band - bailarinas
Balé do programa Faustão na Band (Renato Pizzutto / Band)

Apostando todas as fichas na força comercial de Fausto, a Band não economizou nos investimentos e colocou de pé um programa que em nada devia ao da Globo. Dizem até que o apresentador tirou dinheiro do bolso para ajudar a viabilizar o projeto ambicioso.

Realmente, no vídeo, o espectador tinha a impressão de estar assistindo ao Domingão do Faustão na Band. Cenografia, quadros, convidados estrelados, atrações, auditório… Tudo remetia ao clássico dominical da líder de audiência.

A vontade de repetir o “padrão Globo” numa emissora de menor estrutura acabou sendo o passo em falso do animador em sua nova empreitada. O fiasco de Faustão na Band mostra que a emissora não tinha fôlego para um projeto desta magnitude.

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Confiança demais

Faustão na Band - Anne Lottermann, Fausto Silva e João Guilherme
Anne Lottermann, Faustão e João Guilherme (Rodrigo Moraes / Band)

O excesso de confiança e otimismo acabou sendo o maior inimigo de Fausto Silva na Band. A emissora e o apresentador acreditaram que fazer um programa idêntico ao da Globo num horário diferente seria o suficiente para fazer a audiência subir. Com isso, o faturamento seria consequência.

Mas, na prática, isso não aconteceu. Tanto a Band quanto o apresentador não levaram em consideração a concorrência do horário e, principalmente, o teto de audiência da emissora. Afinal, a Band é a quarta rede do país. O canal tem suas qualidades, mas também suas limitações.

Tanto que Fausto sai do ar dando entre 2 e 3 pontos no Ibope. Não é uma audiência ruim para os padrões da emissora. Quantos programas da Band dão resultado parecido? E o que a Band poderia exibir na concorrida faixa das 20h30 que traria um público maior?

Porém, para uma atração da magnitude do Faustão na Band, este número não se mostrou o suficiente para manter toda aquela estrutura de pé. Se fosse uma produção enxuta, ou um apresentador mais barato, os resultados seriam bastante satisfatórios. Mas era um show nababesco, em todos os sentidos. Agora, ficou claro que tanto a emissora quanto o artista foram ingênuos ao considerarem um cenário diferente do atual.

Maior que a perna

Faustão na Band
Faustão e Anne Lottermann (Reprodução / Band)

O final da temporada de 2022 e o início da fase de 2023 poderia ter servido para Band e Faustão repensarem a parceria. No começo do ano, até correu a informação de que o canal e o artista estavam considerando transformar o programa num semanal. Mas acabou prevalecendo a continuidade do diário.

Pois esta decisão, como se vê, revelou-se equivocada. Faustão na Band seguiu diário, mas perdeu investimentos e estrutura. No ar, a perda de qualidade ficou visível. Tanto que a audiência, que já não era das melhores, caiu ainda mais.

Mais uma vez, o excesso de confiança atrapalhou. A Band esperava um cenário econômico favorável para reverter o prejuízo da atração, o que não aconteceu. Assim, o anúncio do fim do programa não chegou a surpreender. Em algum momento, a corda arrebentaria.

Fausto Silva e Band poderiam ter começado esta parceria de uma forma mais modesta. Mas as partes foram com muita sede ao pote e acabaram dando um passo maior que a perna. Agora, pagam o preço pelo excesso de confiança.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor