André Santana

Demorou, mas a Globo finalmente criou coragem para colocar um ponto final no The Voice Brasil. Atualmente comandado por Fátima Bernardes, o talent show musical já vinha capengando há tempos, perdendo audiência, faturamento e relevância. Ainda assim, a emissora adiou o quanto pode a decisão de dar fim à atração.

Fátima Bernardes
Fátima Bernardes (Reprodução / Globo)

No entanto, ao que tudo indica, a Globo não aprendeu a lição e continuará insistindo no que não dá certo. A emissora prepara um novo formato de talent show musical para ocupar o espaço deixado pelo The Voice. Ou seja, o canal vai trocar seis por meia dúzia…

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Formato original

Boninho
Boninho (Reprodução / Globo)

No ar desde 2012, o The Voice Brasil chegará ao fim após o término da 12ª temporada, que estreia em novembro na Globo. Com isso, abre-se uma lacuna na linha de shows da emissora a partir do ano que vem.

Lacuna esta que deve ser preenchida por mais uma competição musical. Em entrevista ao Meio & Mensagem, Amauri Soares, diretor geral dos Estúdios Globo, anunciou um novo formato no segmento.

“Estamos em fase de desenvolvimento do maior reality musical que a Globo já produziu. Um formato próprio, criado em casa. Terá a direção do Boninho [foto acima] e será produzido pelo time do BBB. Portanto, vários times da Globo estão trabalhando juntos para fazer acontecer: Estúdios Globo, TV Globo, Globoplay, Multishow, Gshow, Negócios. Estará em todas as plataformas Globo no segundo semestre do ano que vem”, revelou.

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Insistência

Grupo Rouge
Grupo Rouge

Competições musicais com ares de reality show – os chamados ‘talent shows’ – explodiram no mundo todo no início do século. Alguns programas do segmento, como American Idol e Got Talent, se tornaram febre e lançaram diversos talentos ao redor do planeta.

Mas, curiosamente, o formato nunca emplacou de verdade no Brasil. O país que consagrou o “show de calouros” não conseguiu lançar novos ídolos em programas do segmento, salvo uma ou outra exceção.

Uma das primeiras experiências do gênero, Popstars (2002), do SBT, revelou duas bandas que fizeram sucesso, o Rouge (foto acima) e o Br’Oz. No entanto, a audiência da atração na emissora de Silvio Santos deixou a desejar. Na mesma época, a Globo lançou Fama (2002), que registrava uma audiência até boa, mas não tornou seus participantes famosos – Thiaguinho e a dupla Hugo e Tiago são exceções.

Depois destes programas, outros formatos foram lançados, como Ídolos (SBT e Record), Got Talent Brasil (Record), X-Factor Brasil (Band) e Superstar (Globo), mas nenhum deles virou sensação.

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Apogeu e queda

The Voice Brasil

Justiça seja feita, o The Voice Brasil teve sua relevância na grade da Globo ao longo dos últimos 12 anos. A atração elevou a audiência da emissora nas tardes de domingo – faixa em que estreou a primeira temporada – e se estabeleceu no horário nobre em suas primeiras exibições. Outros programas da franquia, como The Voice Kids, também apresentaram bons resultados.

No entanto, o canal não conseguiu driblar o desgaste natural da fórmula. A renovação de técnicos nunca aconteceu de fato, já que a Globo apostava nos mesmos artistas de sempre, e, aos poucos, eles se tornaram caricaturas de si mesmos, o que deixou tudo mais repetitivo. Além disso, nenhum vencedor se tornou uma grande estrela.

Com isso, o interesse se dissipou. A audiência caiu, o faturamento, idem. The Voice Brasil deu o que tinha que dar e comprovou que, definitivamente, o formato de talent show não é o tipo de atração que empolga o público brasileiro. Não há mobilização de torcidas, como acontece lá fora.

Mas, estranhamente, a Globo prefere não enxergar tal fato. Ao formatar mais uma competição musical, a emissora mostra que pretende insistir no que não dá certo. Não seria melhor buscar algo realmente novo?

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor