Apontada como a primeira novela com uma protagonista evangélica, Sol (Sheron Menezzes), Vai na Fé gerou debates nas últimas semanas por conta da censura da Globo ao beijo de Helena (Regiane Alves) e Clara (Priscila Sztejnman). Curiosamente, outra novela com Sheron, também marcada pelo carinho entre duas mulheres, enfrentou a resistência de muitos evangélicos: Babilônia.
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A sequência que deu o que falar foi ao ar no primeiro capítulo de Babilônia, em 2015. A trama protagonizada por Gloria Pires (Beatriz), Adriana Esteves (Inês) e Camila Pitanga (Regina) causou a maior repercussão logo no início, por conta de tal polêmica.
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Beijo da discórdia
Em seu capítulo inicial, Babilônia ousou ao exibir um beijo lésbico entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, que interpretavam o casal Teresa e Estela. A cena chocou os espectadores mais conservadores e gerou protestos entre os evangélicos.
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Dias depois, ainda na primeira semana do folhetim de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, as duas personagens voltaram a trocar beijinhos, causando novas – e exacerbadas – reações.
No enredo, Teresa era uma poderosa advogada, com quem Paula (Sheron Menezzes) trabalhava. Já Estela era mãe de Beatriz, que, assim como Inês, se meteu em maracutaias com um político corrupto, e evangélico, Aderbal (Marcos Palmeira).
Boicote contra novela
O senador Magno Malta e o deputado federal João Campos, então integrantes da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso, chegaram a fazer campanha contra a novela das nove da Globo.
Os parlamentares emitiram nota pedindo para o público boicotar Babilônia. Segundo eles, o folhetim fazia “apologia ao mal” e visava “destruir famílias”.
“Compartilhe, não dê espaço para esta ameaça com cara de diversão. Não assista”, escreveu Magno Malta em sua página no Facebook.
Textos de evangélicos passaram a correr as redes sociais. Apesar dos protestos, as personagens homossexuais continuaram na trama.
Resposta
Em março de 2015, Ricardo Linhares, um dos autores de Babilônia, se pronunciou sobre o assunto em entrevista ao Notícias da TV:
“São reações de uma minoria, que não tem qualquer amparo legal. Os deputados estão fazendo barulho na tentativa de se promover às custas do sucesso da novela. Ao usar suas posições no Congresso para atacar a Rede Globo e a novela das nove, eles querem atrair a atenção da mídia para si. E assim se exibir nos seus redutos eleitorais”.
Babilônia sofreu com baixa audiência e chegou a ser encurtada pela Globo, mas não por causa de boicote dos evangélicos. Com problemas no enredo e enfrentando a concorrência de Os Dez Mandamentos, da Record, a obra sofreu ajustes e acabou desfigurada.
Novela com São Jorge incomodou
Babilônia, no entanto, não foi a primeira novela da Globo a enfrentar problemas com evangélicos. Em 2012, um grupo ligado à Igreja Universal do Reino de Deus tentou boicotar Salve Jorge.
Alguns comentários nas redes sociais alegavam que a trama adorava Ogum (um orixá representado pela figura de um guerreiro), cultuado em religiões afro-brasileiras como a umbanda e o candomblé.
Na época, a autora Gloria Perez rebateu. Em entrevista ao jornal O Globo, de 26 de outubro de 2012, a escritora soltou uma acusação e deixou uma alfinetada.
“Não vejo protesto de evangélicos, o que vejo são interesses comerciais apelando para o fundamentalismo. E penso que, em casos assim, o pessoal da imprensa deveria seguir o sábio conselho do Millôr Fernandes: ‘Não se deve ampliar a voz dos imbecis’”, disparou.