No Rancho Fundo chegou ao capítulo 100 registrando bons índices de audiência. O autor Mário Teixeira acertou a mão, sobretudo, na maneira como aproveitou personagens e ambientações de Mar do Sertão (2022), mas reinseridos numa história nova.

Luisa Arraes em No Rancho Fundo
Luisa Arraes em No Rancho Fundo

Revisitar tipos como Deodora (Debora Bloch) e Sabá Bodó (Welder Rodrigues) se mostrou um dos principais trunfos da trama das seis, mostrando que a Globo acertou em cheio com a ideia. Enquanto isso, novos personagens, como Blandina (Luisa Arraes), também agradaram.

Mas nem tudo são flores na produção. Mais uma vez, o autor Mário Teixeira demonstra dificuldades em manter o fôlego de suas histórias, um problema visto também em Mar do Sertão.

No Rancho Fundo é continuação de Mar do Sertão?

Atual novela das seis da Globo, No Rancho Fundo trouxe de volta nove personagens de Mar do Sertão. São eles: Deodora, Vespertino (Thardelly Lima), Nivalda (Titina Medeiros), Padre Zezo (Nanego Lira), Floro Borromeu (Leandro Daniel), Quintilha (Ju Colombo), Cira (Suzy Lopes), Escolástica (Ana Mangeth) e Sabá Bodó.

O reaproveitamento dos tipos vem sendo realizado de maneira eficiente pelo autor Mário Teixeira. Grande parte deles não apenas repete situações vistas na trama anterior. Além disso, não é preciso ter visto Mar do Sertão para compreender suas histórias.

Porém, para quem os conhece da novela anterior, a experiência fica ainda mais interessante. Mesmo em situações novas, eles não perderam a essência. Fica fácil compreender suas respectivas motivações.

Tipos melhorados

Débora Bloch em No Rancho Fundo
Débora Bloch em No Rancho Fundo

Neste contexto, Mário Teixeira conseguiu até mesmo melhorar alguns deles. O caso mais notório é Deodora. A personagem de Debora Bloch foi vendida como a grande vilã de Mar do Sertão, mas ficou devendo no quesito maldade.

Durante boa parte da trama, Deodora nada fazia além de disparar frases cortantes contra tudo e todos. Quando passou a agir como vilã, distribuiu maldades sem muito critério. Era uma personagem de motivações obscuras.

Isso não acontece em No Rancho Fundo. Deodora é, de fato, a grande vilã da novela. Suas motivações são claras, bem como seus planos. Além disso, o público conhece seu passado e sabe que ela sofre a dor de ter matado o próprio filho. Isso dá uma complexidade à megera e a humaniza.

Trama esgotada?

Por outro lado, No Rancho Fundo chega ao capítulo 100 demonstrando dificuldades em desenvolver sua trama principal. Verdade seja dita, pouca coisa aconteceu com a família de Zefa Leonel (Andrea Beltrão) depois de enriquecerem por conta da turmalina paraíba.

Os Leonel Limoeiro deixaram o Rancho Fundo rumo ao hotel de Lapão da Beirada, onde passaram uma temporada e foram alvo de vilões interesseiros. Tempos depois, eles retornaram à primeira morada, que teve como única melhoria a instalação de eletricidade. Incrivelmente, os afilhados de Zefa Leonel seguem dormindo em redes, mesmo sendo milionários. A trama andou em círculos e não evoluiu.

Agora, ensaia-se uma nova disputa pela Gruta Azul, uma história que empolga bem pouco. Assim, No Rancho Fundo segura a atenção do público mais pelas cenas de humor – como as de Tia Salete (Mariana Lima) e Sabá Bodó – do que pela trama em si. Mesma situação vista em Mar do Sertão, diga-se.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor