Uma das estrelas da televisão nos anos 1970 e 1980, Carlos Augusto Strazzer foi uma das vítimas da Aids e um dos poucos artistas que enfrentou a doença publicamente.

Carlos Augusto Strazzer e Maitê Proença

O ator esteve presente em grandes sucessos da teledramaturgia, como O Julgamento (1976), Éramos Seis (1977), O Profeta (1977) e Direito de Nascer (1978), todas exibidas pela TV Tupi. Já na Globo, fez parte do elenco das novelas Coração Alado (1980), Jogo da Vida (1981), Champagne (1983), Livre para Voar (1984), Mandala (1987), entre outros títulos.

Enquanto atuava em Que Rei Sou Eu? (1989), dando vida ao personagem Crespy Aubriet, Strazzer passou por uma série de exames e descobriu que tinha Aids. Segundo os médicos, ele já estava com a doença fazia alguns anos.

Naquela época, o tratamento contra a enfermidade era precário e sem muitas opções, diferente de hoje, que existe o “coquetel contra a Aids” e os pacientes seguem com uma vida normal.

Enfrentando a Aids

Em uma entrevista para o Jornal do Brasil em 14 de julho de 1991, o ator contou como enfrentava a doença, o preconceito das pessoas e o conforto que encontrou em uma seita.

“Durante essa passagem, que chamo de privilégio doloroso, percebi que os que estavam comigo eram os confrades [membros da seita do Santo Daime]. As pessoas me paravam na rua para perguntar como eu continuava vivo, se estava com Aids. Essa curiosidade mórbida me incomoda, me cansa. Mesmo sendo uma figura pública, acho que certas coisas só pertencem a você mesmo”, disse.

Para ele, a doutrina do Santo Daime e o uso da ayahuasca, um chá feito com ervas amazônicas e com potencial alucinógeno, o ajudaram a enfrentar a doença.

“A primeira vez que me chamaram para tomar o Daime foi no final dos anos 60. Não me interessei. Nesse meio tempo muita água rolou. Há três anos resolvi aceitar um novo convite e fiquei tão encantado com essa escola de mistérios que acabei aderindo”, contou.

Nessa época, o ator fazia parte do elenco da minissérie O Sorrido do Lagarto (1991), de Walther Negrão. Ele interpretou o detetive Peçanha, que investigava os mistérios da Ilha de Santa Cruz,  seu último trabalho como ator.

Um aviso do sobrenatural

Em 20 de fevereiro de 1993, o jornal O Globo trouxe uma matéria em que dizia que o ator recebeu, em setembro de 1992, um aviso de seu mentor espiritual que o mês de janeiro daquele ano seria difícil para ele.

“Em fevereiro, ainda segundo seus mentores, seu sofrimento acabaria, fosse por milagre ou pela morte, mas só depois que seus filhos estivessem encaminhados na vida. Quarta-feira, seu filho Fábio passou no vestibular e, anteontem, sua filha Ana também passou”, destacou a reportagem.

Além da Aids, Strazzer passava por um tratamento contra um câncer de pele, que o deixou mais debilitado. O ator faleceu em 19 de fevereiro de 1993, aos 46 anos, enquanto dormia. Naquele momento, ele estava pesando apenas 39 quilos.

O ator deixou três filhos – Luciano, Fábio e Ana. Além de seus trabalhos memoráveis, o público assistiu a luta e a coragem de uma pessoa que lutou abertamente pela vida.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor