No último dia 16, a Globo estreou Vai na Fé. A novela das sete tem uma protagonista evangélica, Sol (Sheron Menezzes). Há quase 30 anos, a emissora contou com um evangélico à frente de Decadência, minissérie que causou polêmica.

Vai na Fé

Na trama de Dias Gomes, baseada em um livro do próprio, Edson Celulari vivia Mariel Batista, pastor que constrói um império dizendo ter sido escolhido por Deus.

A Igreja Universal do Reino de Deus afirmou que a produção manchava a reputação de seu líder, Edir Macedo – proprietário da Record.

A carapuça serviu?

Edir Macedo
Reprodução / Record

Edson Celulari e Dias Gomes se manifestaram sobre as acusações enfrentadas por Decadência.

“Os pastores que têm boas intenções não podem se incomodar com este personagem. Ele só vai servir de carapuça para os que agem de má-fé”, declarou Celulari ao jornal O Globo, em 9 de julho de 1995.

Para evitar confusão, o ator afirmou que não havia buscado nomes específicos como inspiração para o tipo.

“Não quero me inspirar neste ou naquele pastor, nem especificar uma determinada religião. Isso acontece tanto aqui como no Japão e, por isso, não será preciso escolher um só nome”, contemporizou.

“Pesquisei vários líderes evangélicos, não foi só o Edir Macedo. Se ele se sentir identificado com o Mariel, se vestir a carapuça, o problema é dele”, disparou Dias.

Troca de acusações

Decadência - Edson Celulari e Zezé Polessa
Divulgação / Globo

A verdade é que os ânimos andavam acirrados naquele tempo… A Globo denunciou, através de reportagens, a forma como as igrejas pentecostais retiravam dinheiro de fiéis, explorando práticas como a do exorcismo.

No Jornal Nacional, foram exibidos vídeos de Edir Macedo orientando pastores da Igreja Universal sobre o convencimento de membros da igreja acerca das quantias doadas durante os cultos.

Em contrapartida, matérias sobre “negócios suspeitos” da Globo foram publicadas na Folha Universal, periódico do mesmo grupo que abriga a Universal do Reino de Deus e a Record.

A igreja também entrou com ação civil indenizatória por danos morais contra a Globo, que, antes do primeiro capítulo, exibiu uma fala de Edson Celulari reafirmando o respeito a todas as religiões.

Resposta

Roberto Marinho na inauguração do Projac
Divulgação / Globo

Em meio à polêmica, a Record quase produziu um folhetim sobre os Marinho, batizado Chantagem.

“Será a história de um jornalista medíocre que herda um jornal falido do pai, faz um pacto com a ditadura, funda uma emissora de TV e enriquece loucamente”, contou Romero da Costa Machado, ex- Globo, pretenso autor do projeto e responsável por livros contra a Fundação Roberto Marinho.

Eduardo Lafon, então diretor de programação da Record, chegou a confirmar que a produção era um dos planos da estação. No entanto, o texto jamais saiu do papel.

A polêmica do chute na santa

Chute na santa
Reprodução / YouTube

Em outubro do mesmo ano, ocorreu o polêmico episódio envolvendo o pastor Sérgio Von Helder, que chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, durante um teleculto transmitido na Record.

O acontecimento repercutiu bastante em todo o país e fez a emissora “recolher as armas”, diminuindo o foco sobre a Igreja Universal do Reino de Deus.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor