Acusados pelo desgaste das novelas infantis do SBT, o vice-presidente do departamento artístico da emissora, Fernando Pelégio, e a autora de tramas infantis da casa, Íris Abravanel, dividiram a culpa com Reynaldo Boury, diretor falecido no ano passado.

Sophia Valverde
Reprodução / SBT

De acordo com a dupla, foi de Boury a decisão de espichar As Aventuras de Poliana (2018-2020) para que a trama batesse um recorde e fosse lembrada como a maior novela do Brasil.

A esposa de Silvio Santos e Pelégio, que também é diretor criativo do SBT, revelaram o desejo do falecido colega durante a coletiva de imprensa de A Infância de Romeu e Julieta, realizada na última quinta-feira (26).

“Ele ficava: ‘Iris, faça aquilo, faça mais isso, vamos duplicar, vamos triplicar’, e aconteceu… Foi graças ao Boury mesmo que nós chegamos ao 560”, admitiu a escritora, emocionada ao recordar o profissional que faleceu no dia 25 de dezembro de 2022, aos 90 anos.

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Recorde

Fernando Pelégio também recordou que Reynaldo Boury (foto acima) já detinha o recorde pela novela Redenção, que foi ao ar entre 1966 e 1968 na TV Excelsior.

“Queria bater o recorde dele mesmo”, lembrou o diretor.

Redenção, detentora do feito, teve 596 capítulos, enquanto a primeira obra de Poliana teve 563.

Cúmplices de um desgaste

Fernando Pelégio

Indagado sobre o motivo de esticar tanto as produções e se isso não espantava os telespectadores, o diretor respondeu com um taxativo “não” e recordou novelas estadunidenses que costumam durar anos.

“Nós temos novelas norte-americanas que estão há 40 anos no ar. Nossas novelas, com 300, 350 capítulos, não são nada perto disso. Isso [fazer novelas mais curtas] não é uma tendência mundial. É que no Brasil não temos esse costume, a Globo não tem esse costume, mas não quer dizer que a gente precisa respeitar”, argumentou.

Acontece que a cultura de consumo de novela no continente latino-americano é completamente diferente do norte-americano, acostumado com longas produções devido ao alto consumo de séries marcadas por temporadas. No Brasil não costuma funcionar tão bem assim…

Remando contra a maré

Poliana Moça - Dalton Vigh
Reprodução / SBT

A prova de que o Brasil não está habituado a essa prática foi a própria As Aventuras de Poliana. Conforme era espichada, mais caía no ibope.

A trama começou com 17, mas terminou com minguados 5 pontos dois anos depois de seu início.

Poliana Moça, sua continuação, nunca foi um sucesso de audiência, muito pelo desgaste da franquia após quase 600 capítulos da primeira fase.

Mais uma vez, o SBT mostra que os profissionais nos cargos mais altos de sua diretoria fazem televisão, mas não consomem e não gostam de TV aberta brasileira.

Capítulos a perder de vista

Íris Abravanel (foto acima) nem sabe a duração que a sua próxima aposta para o horário nobre da rede paulista terá. Provavelmente, como já adiantou Fernando Pelégio, serão capítulos e mais capítulos…

A Infância de Romeu e Julieta estreia no próximo dia 8 de maio e dividirá, por algumas semanas, o horário com a última parte da franquia da menina do jogo do contente.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor